Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

AS TRÊS MARIAS E ÓRION

Uma área da esfera celeste constituída por estrelas que compõem alguma imagem ou formação delimitável é uma constelação. Podemos também definir constelações como agrupamentos aparentes de estrelas os quais os astrônomos da antiguidade imaginaram formar figuras de pessoas, animais ou objetos. A União Astronômica Internacional reconhece 88 constelações entre as quais a de Órion onde estão localizadas as Três Marias. Órion, na mitologia grega, era um gigante filho de Poseidon que foi morto “inconscientemente” por sua amiga Artêmis (a deusa da caça) numa artimanha de Apolo (irmão de Artêmis). Para perpetuar a memória de seu companheiro de caçadas Artêmis colocou Órion entre as Três Marias e próximo ao seu fiel cão Sirius (na constelação de Cão Maior – Sirius é a estrela mais brilhante do céu).
A partir de meados de dezembro, a constelação de Órion surge no horizonte e é facilmente identificável devido a três estrelas formarem uma linha inclinada. Localizando as Três Marias fica fácil imaginar um trapézio e identificar as quatro estrelas principais que compõem o conjunto visível: Betelgeuse, Bellatrix, Saiph e Rigel. Rigel e Betelgeuse são as mais brilhantes da constelação.
A constelação de Órion é um dos sinais da mudança de estação: seu surgimento no horizonte é uma marca da chegada do verão no Hemisfério Sul. O poeta grego Hesíodo (c.753-c.680 a.C.) escreveu que quando Órion estivesse no meio do céu e a estrela Arcturus estivesse no horizonte ao amanhecer, havia chegado à hora da colheita.
Em épocas anteriores ao surgimento das grandes cidades, da luz elétrica e do relativo esquecimento do céu noturno, os povos do Oriente ou do Ocidente tinham outra perspectiva dos movimentos do Sol, da Lua, dos Planetas ou das estrelas: a observação das constelações era essencial para a previsão das estações do ano que estavam ligadas ao plantio e a colheita. O ciclo da natureza e o ciclo da natureza humana estavam muito mais interligados a ponto de se imaginar personagens e imagens criativas na disposição dos objetos celestes. Dragões chineses, personagens da mitologia greco-romana ou mitos dos índios amazônicos desfilavam na misteriosa abóboda celeste que estes povos diferenciados tentavam “humanizar mitologicamente” disciplinando o desconhecido e projetando personagens humanos.
O céu noturno era uma grande fonte de inspiração e de leituras de mundo. Hoje, apesar de ser uma imagem cativante de perpetuação da memória, é muito difícil imaginar o gigante Órion com seu cinturão, uma pele de leão e uma espada!
As Três Marias na Astronomia Ocidental, utiliza, para denominá-las, as palavras árabes Mintaka, Alnilam e Alnitak (que é uma estrela dupla).  A versão cristianizada das Três Marias é de que foram três mulheres (Maria de Cleofas, Maria Madalena e Salomé) que foram até o túmulo de Jesus junto com sua mãe Maria. Ficaram eternizadas na abóboda celeste!
A Constelação de Órion vai continuar a ser fator de reflexão e poderá contribuir para a ampliação do conhecimento sobre os fenômenos cósmicos estelares. Os olhares já se voltam para Betelgeuse que é uma estrela supergigante vermelha com diâmetro que varia entre 500 a 900 vezes o do Sol. Nos próximos mil anos esta estrela encontrará o seu ocaso!
Betelgeuse tem chamado a atenção dos astrônomos e astrofísicos e tem sido pesquisada pelo Observatório Austral Europeu (ESO) que tem obtido imagens de chamas emitidas pela estrela e da nebulosa que está se formando em seu entorno (mais de 60 bilhões de quilômetros de extensão). A estrela está na fase final de sua vida e expele suas camadas exteriores para o espaço. Parte do material que compõe o planeta Terra (silicato e alumina) é oriundo de uma estrela de grande massa que colapsou a mais de cinco bilhões de anos num cenário em que olhar Betelgeuse morrer será refletir sobre os novos mundos que surgirão com seu ocaso.
Betelgeuse está em média há 427 anos luz da Terra (cerca de quatro quatrilhões de quilômetros) quando ela se tornar uma Supernova (explosões quando seu brilho pode se intensificar em um bilhão de vezes até se tornar uma estrela de Nêutron) não deverá representar um perigo para a vida em nosso Planeta. Durante a noite, durante alguns meses, a estrela poderá apresentar um brilho de lua cheia ou lua crescente. Quando isto irá ocorrer é fator de debate e incertezas entre os astrônomos. O fato é que desde a Antiguidade a constelação de Órion está em pauta e um rico imaginário foi construído para explicar as Três Marias e outras estrelas que compõem esta constelação.


Três Marias pintadas por Frei Angélico em 1440. Museu de San Marco, Florença.

nebulosa em Órion (Ljubinko Jovanovic). 

Três Marias com seta apontando para Betelgeuse (Hubble European Space Agency).

Órion em obra de Johann Bayer (1661). 

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