Uma área da esfera
celeste constituída por estrelas que compõem alguma imagem ou formação
delimitável é uma constelação. Podemos também definir constelações como
agrupamentos aparentes de estrelas os quais
os astrônomos da antiguidade imaginaram formar figuras de pessoas, animais ou
objetos. A União Astronômica
Internacional reconhece 88 constelações entre as quais a de Órion onde estão
localizadas as Três Marias. Órion, na mitologia grega, era um gigante filho de
Poseidon que foi morto “inconscientemente” por sua amiga Artêmis (a deusa da
caça) numa artimanha de Apolo (irmão de Artêmis). Para perpetuar a memória de
seu companheiro de caçadas Artêmis colocou Órion entre as Três Marias e próximo
ao seu fiel cão Sirius (na constelação de Cão Maior – Sirius é a estrela mais
brilhante do céu).
A partir de meados
de dezembro, a constelação de Órion surge no horizonte e é facilmente
identificável devido a três estrelas formarem uma linha inclinada. Localizando
as Três Marias fica fácil imaginar um trapézio e identificar as quatro estrelas
principais que compõem o conjunto visível: Betelgeuse, Bellatrix, Saiph e
Rigel. Rigel e Betelgeuse são as mais brilhantes da constelação.
A constelação de Órion é
um dos sinais da mudança de estação: seu surgimento no horizonte é uma marca da
chegada do verão no Hemisfério Sul. O poeta grego Hesíodo (c.753-c.680 a.C.)
escreveu que quando Órion estivesse no meio do céu e a estrela Arcturus
estivesse no horizonte ao amanhecer, havia chegado à hora da colheita.
Em épocas
anteriores ao surgimento das grandes cidades, da luz elétrica e do relativo
esquecimento do céu noturno, os povos do Oriente ou do Ocidente tinham outra
perspectiva dos movimentos do Sol, da Lua, dos Planetas ou das estrelas: a
observação das constelações era essencial para a previsão das estações do ano
que estavam ligadas ao plantio e a colheita. O ciclo da natureza e o ciclo da
natureza humana estavam muito mais interligados a ponto de se imaginar
personagens e imagens criativas na disposição dos objetos celestes. Dragões
chineses, personagens da mitologia greco-romana ou mitos dos índios amazônicos desfilavam
na misteriosa abóboda celeste que estes povos diferenciados tentavam “humanizar
mitologicamente” disciplinando o desconhecido e projetando personagens humanos.
O céu noturno era
uma grande fonte de inspiração e de leituras de mundo. Hoje, apesar de ser uma
imagem cativante de perpetuação da memória, é muito difícil imaginar o gigante
Órion com seu cinturão, uma pele de leão e uma espada!
As Três Marias na
Astronomia Ocidental, utiliza, para denominá-las, as palavras árabes Mintaka,
Alnilam e Alnitak (que é uma estrela dupla).
A versão cristianizada das Três Marias é de que foram três mulheres
(Maria de Cleofas, Maria Madalena e Salomé) que foram até o túmulo de Jesus
junto com sua mãe Maria. Ficaram eternizadas na abóboda celeste!
A Constelação de
Órion vai continuar a ser fator de reflexão e poderá contribuir para a
ampliação do conhecimento sobre os fenômenos cósmicos estelares. Os olhares já
se voltam para Betelgeuse que é uma estrela supergigante vermelha com diâmetro
que varia entre 500 a 900 vezes o do Sol. Nos próximos mil anos esta
estrela encontrará o seu ocaso!
Betelgeuse tem
chamado a atenção dos astrônomos e astrofísicos e tem sido pesquisada pelo Observatório
Austral Europeu (ESO) que tem obtido imagens de chamas emitidas pela estrela e
da nebulosa que está se formando em seu entorno (mais de 60 bilhões de
quilômetros de extensão). A estrela está na fase final de sua vida e expele
suas camadas exteriores para o espaço. Parte do material que compõe o planeta
Terra (silicato e alumina) é oriundo de uma estrela de grande massa que
colapsou a mais de cinco bilhões de anos num cenário em que olhar Betelgeuse
morrer será refletir sobre os novos mundos que surgirão com seu ocaso.
Betelgeuse está em
média há 427 anos luz da Terra (cerca de quatro quatrilhões de quilômetros)
quando ela se tornar uma Supernova (explosões quando seu brilho pode se
intensificar em um bilhão de vezes até se tornar uma estrela de Nêutron) não
deverá representar um perigo para a vida em nosso Planeta. Durante a noite,
durante alguns meses, a estrela poderá apresentar um brilho de lua cheia ou lua
crescente. Quando isto irá ocorrer é fator de debate e incertezas entre os
astrônomos. O fato é que desde a Antiguidade a constelação de Órion está em
pauta e um rico imaginário foi construído para explicar as Três Marias e outras
estrelas que compõem esta constelação.
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