Visitei (no dia 03-10-2017) a Exposição organizada pelo Centro Philatélico do Rio Grande (fundado em 1931).
O Centro está lançando uma Folha Comemorativa aos 90 anos da Aviação Comercial
no Brasil e uma coleção de selos (Correios) para demarcar o pioneirismo da
aviação com participação decisiva de comerciantes da cidade do Rio Grande.
Documentos e objetos relativos aos primórdios da aviação comercial fazem parte deste
rememorar que deverá ficar exposto para visitação no prédio da Justiça Federal.
Na
Exposição que ocorreu junto aos Correios conversei com o Sr. Alfredo Perez e em
nome dele estendo os parabéns a todos os que contribuíram para demarcar esta
data magna da aviação brasileira.
Há
dez anos, tratei deste tema em três matérias do Memória & História. As
informações eram passadas pelo amigo Walter Albrecht. Ele foi um protagonista
dos fatos que colocaram a cidade que ele tanto se dedicou em sua vida pública
no centro do processo de criação da aviação comercial. Este tema sempre será
motivo de lembrar este cidadão exemplar e dedicado a qualificar e valorizar a sua
terra natal.
Foi
no ano de 1927 que estes eventos transcorreram, mas, tiveram início no ano
anterior. Em 19 de novembro de 1926, Rio
Grande foi à primeira cidade do Brasil a receber um avião comercial que vinha
do Uruguai. Hans Luther, ex-chanceler da Alemanha, tinha a missão de divulgar na
América Latina avião comercial enquanto meio de transporte. Ele foi recebido
pela colônia alemã no Clube Germânia e cumpriu seu papel de difundir a aviação
alemã como confiável e plantou a semente em buscar estabelecer parcerias para
capitalização. A visita teve desdobramentos, pois, dias após a visita de
Luther, uma assembléia foi realizada na empresa Fraeb & Cia com a presença
de vários comerciantes locais e de um representante do Condor Syndikat
(subsidiária da Lufthansa e representante da Alemanha). Este núcleo inicial
acabou se tornando acionistas quando da criação da Varig.
No
dia 3 de fevereiro de 1927, o Condor Syndikat (que era representada em Rio
Grande pela C. Albrecht & Cia) inaugurou o vôo entre Rio Grande e Porto
Alegre com escala em Pelotas: a primeira linha comercial do Brasil! Também no
dia 3 de fevereiro foi inaugurada a primeira estação de embarque e desembarque
e oficina para aviões comerciais no Brasil. Localizava-se na rua Presidente
Vargas 673 (em prédio já demolido) e que tinha por fundos o Saco da Mangueira
onde ocorria os pousos e as decolagens.
A
inauguração oficial da Linha da Lagoa (primeira linha comercial, regular e
diária no Brasil) se deu em 22 de fevereiro de 1927. O hidroavião Atlântico
saiu da cidade do Rio Grande, decolando do Saco da Mangueira, às 6:45. Fez uma
escala em Pelotas e o destino era Porto Alegre, sobrevoando a Lagoa dos Patos
entre 20 e 30 metros de altura. Para a época, uma velocidade de cruzeiro de 160
km/h deveria dar a sensação para os passageiros de estar num “supersônico”.
No
dia 28 de março é inaugurado o primeiro Serviço Postal Aéreo administrado pelo
Condor Syndikat com selos editados em Berlim. A segunda linha comercial área
brasileira remete ao dia 27 de abril ligando Rio Grande com Santa Vitória do
Palmar.
Constatamos que antes da criação da Varig, que
ocorreu em Porto Alegre em 7 de maio de 1927, desde o dia 3 de fevereiro já
ocorriam vôos comerciais. A Condor Syndikat foi o trampolim para a criação da
Varig que teve como primeira administração oito pessoas de Porto Alegre, oito
de Rio Grande, duas de Pelotas, três do Rio de Janeiro e uma da Alemanha.
Acionistas de Rio Grande eram os segundo maiores investidores. O Diretor
Gerente eleito foi Otto Ernest Meyer e o seu suplente Carlos Albrecht Júnior. O
mesmo hidroavião Atlântico que foi utilizado nos vôos em Rio Grande foi
adquirido pela Varig para atividades em Porto Alegre (é a primeira aeronave no
Registro Aeronáutico Brasileiro).
Carlos
Albrecht Júnior foi um articulador e viabilizador dos primeiros passos da
Condor Syndikat e da Varig. Faleceu, prematuramente, em 1930. Seu filho, Walter
Albrecht, me relatou que ele foi socorrer um hidroavião acidentado no Saco da
Mangueira num dia chuvoso e frio. Nos dias seguintes teve uma forte gripe que
nas semanas seguintes confluiu para o mal do século: a tuberculose. O Relatório
de 1930 da Diretoria da Varig fez referência ao seu falecimento: “Quase todos
vós conhecestes esse nosso representante em Rio Grande, Sr. Carlos Albrecht
Júnior, e sabeis com que forte interesse e incansável aplicação o mesmo
participou da fundação e desenvolvimento da Varig. (...) Vários dirigentes de
empresas atestam o respeito e a admiração que os mesmos lhe devotam, por tudo
que fizera nos primórdios da aviação comercial no Brasil”.
Reproduzo
os cinco selos e a capa da Folha Comemorativa editada pelo Centro Philatélico
do Rio Grande. A “Folha” traz um histórico do Pioneirismo da Cidade do Rio
Grande na Aviação Comercial no Brasil e tem uma tiragem de mil unidades
numeradas. O material além de demarcar os eventos também se torna um documento
histórico de uma época em que Rio Grande antecipou o futuro e acreditou no
sonho do homem voar num veículo mais pesado que o ar.
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