O busto e vários livros publicados por
Joaquim Francisco de Assis Brasil fazem parte do acervo da Biblioteca Rio-Grandense
e estão na sala de pesquisa de jornais. Nesta sala onde foi pesquisada a
matéria-prima para elaboração de inúmeros artigos, dissertações e teses, o
olhar de Assis Brasil parece acompanha o folhear dos jornais que contam a
história do Rio Grande do Sul. Desde a década de 1880, nos jornais, o nome dele
passa a ser um dos mais recorrentes nas discussões sobre a história política
gaúcha e numa diversidade de temas científicos. A própria Biblioteca
Rio-Grandense foi também espaço em que Assis Brasil proferiu palestras e atraiu
os interessados por novos conhecimentos ou pelo projeto republicano liberal.
Assis
Brasil nasceu em 1858 em São Gabriel, herdando de seu pai várias estâncias no
Rio Grande do Sul. Em 1876 foi estudar na Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo passando a militar pelo fim da Monarquia e estabelecimento da
República no Brasil. É um nome exponencial do Clube 20 de Setembro que defende
o pensamento republicano e o resgate da Revolução Farroupilha e da memória de
seu líder, Bento Gonçalves da Silva. Formado em Direito retorna ao Rio Grande
do Sul onde é um dos fundadores do Partido Republicano Rio-Grandense defendendo
um legislativo forte. Nos anos seguintes foi Deputado Provincial, membro de
Junta Governativa, diplomata na Argentina, Portugal e Estados Unidos. Após uma
série de outras atividades diplomáticas, inclusive junto com o Barão do Rio
Branco na Questão do Acre, retirou-se para a granja de Pedras Altas onde
começou a edificar o Castelo. Participou da fundação de várias associações
agropecuárias, escrevendo tratados sobre o assunto e fazendo experiências de
melhoria do rebanho e de técnicas agrícolas. Foi conclamado a participar como
candidato na eleição disputada contra Borges de Medeiros em 1922. A suposta
vitória de Borges de Medeiros acarreta num grave conflito militar que perdura
ao longo de 1923, até a assinatura do Tratado de Pedras Altas no Castelo
edificado por Assis Brasil. Nos anos seguintes ele está inserido em atividades
partidárias e apóia Getúlio Vargas que chega ao poder nacional com a Revolução
de 1930, sendo indicado para Ministro da Agricultura e posteriormente, assumido
outros encargos diplomáticos. Faleceu de gripe em 1938, aos 80 anos de idade,
sendo enterrado nos fundos do Castelo.
Um
de seus legados foi a construção do Castelo de Pedras Altas no então município
de Cacimbinhas (que desde 1915 passou a se chamar Pinheiro Machado) e que em
1996 emancipou-se de Pinheiro Machado com o nome Pedras Altas e que faz
fronteira com Melo no Uruguai.
No
quase despovoado pampa no extremo sul do Brasil, um dos principais personagens
da história republicana brasileira - que conhecia os países mais desenvolvidos
da época - parece ter buscado a solidão nas coxilhas.
Conforme
Lydia Costa Pereira de Assis Brasil, a neta e administradora atual do Castelo,
a área possui 170 hectares e a construção do castelo teve início em 1907 e foi
finalizado há cem anos. Em 1913, Assis Brasil, sua esposa Lydia e seus filhos,
passaram a ocupá-lo. O formato de Castelo foi uma homenagem a sua esposa vinda
da Europa e que lá tinha morado numa construção semelhante. As pedras para
construção foram retiradas da própria região: o granito rosa que foi entalhado
por três espanhóis e encaixadas sem o uso de argamassa. Os móveis vieram de
Paris e dos Estados Unidos.
O
Castelo possui 44 peças e 12 lareiras. Buscava-se a harmonia entre a vida do
campo e as atividades eruditas, como leituras, música, saraus, atividades
científicas e intelectuais, além de encontros políticos. Imaginem no silêncio
do pampa surgirem discussões sobre os diferentes assuntos que estavam sendo
debatidos nos principais centros intelectuais... O alicerce para o conhecimento
estava na biblioteca com mais de 15 mil livros. O silêncio do bioma pampa era rompido pelo som
do piano e pelas palavras que dos livros se projetavam naquela imensidão. No
campo da literatura, Luiz Antonio de Assis Brasil magistralmente fez uma
leitura destas memórias/ficções e elaborou a saga ‘Um Castelo no Pampa’.
No
entorno do Castelo foram introduzidas espécies importadas como as vacas Jersey,
cavalos árabes, ovelhas Ideal e touros Devon. Experiências agrícolas o
notabilizaram como o pai da agricultura rio-grandense.
O
centenário Castelo de Pedras Altas necessita de urgente reforma e é um dos mais
significativos espaços culturais a serem preservados no Rio Grande do Sul. As
visitas ao Castelo podem ser agendadas com dona Lydia (http://assisbrasil.org),
que infindáveis histórias guarda em sua memória e gosta de partilhar com os
visitantes (matéria escrita em 04-06-2013).
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