Participei, recentemente, como membro da banca de
defesa de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da FURG. A autora
foi Perla Duarte do Couto e o título da dissertação “Revitalizações Urbanas em
Espaços Públicos: o Porto Velho da Cidade do Rio Grande-RS, Tempos e Funções
Distintas”.
O tema é relevante para pensarmos os espaços
públicos na cidade num período em que o impacto urbano-logístico de ter aqui
aportado o mega projeto Polo Naval continua a se intensificar. Faz refletir
sobre a necessidade de espaços de lazer frente ao stress decorrente do projeto.
Entre as inúmeras reflexões possíveis, reproduzirei algumas passagens da Dissertação
defendida por Perla.
Processos
de revitalização urbana são frequentes em diversas cidades do mundo, devido a
espaços não utilizados, herdados de diferentes tempos e espacialidades. São
diversos os casos de revitalização em solo urbano, tais como: praças, antigas
fábricas, os quais configuram friches urbanas (vazios urbanos). Dentre
eles, o presente trabalho detém-se na área portuária denominada Porto Velho, na
cidade do Rio Grande/RS, o qual se localiza junto ao centro histórico da cidade
e é dotado de belezas naturais atribuídas aos corpos hídricos que o circundam e
lhe conferem atributos paisagísticos.
Na
atual conjuntura, o Porto Velho da cidade passa por um processo de
refuncionalização e reestruturação: a revitalização, em que o espaço público
passa de um entreposto comercial para uma nova função em solo urbano. Este
espaço público exercia, no passado histórico, uma função de porto mercantil e
de transporte de pessoas, passando a uma nova função em solo urbano. Essa nova função
direciona para consumo “do” próprio espaço e que este seja voltado ao
turismo e ao lazer, sendo que supostamente, tais relações culminarão com o
processo de gentrificação (elitização).
O local, hoje, não possui a mesma
funcionalidade devido a processos econômicos, políticos e de logística global,
com grandes demandas de cargas, o que supõe um porto que comporte navios e
cargas de grande porte. No caso em estudo, foi necessária a realocação das
atividades portuárias para o Porto Novo, em meados da década de 1910, e do
Superporto, a partir da década de 1970, uma vez que a fisiografia urbana da
cidade permitiu novos rearranjos em tempos distintos, em termos de formação
espacial portuária. É importante compreender que profundas mudanças
político-econômicas no setor portuário foi o fator que promoveu a realocação
das atividades portuárias, em nome da expansão do Superporto. Isto foi um dos
motivos que alavancou a ausência de atividades no Porto Velho, no que se refere
a atividades portuárias, e que configurou uma friche social, mesmo
reconhecendo a inexistência de um esvaziamento total da área, mas, na verdade,
uma desocupação parcial na qual persistem, por exemplo, algumas atividades
pesqueiras. Para tanto, no que tange à função social do espaço público,
a relevância neste estudo é contemplar usos do espaço pelas diversas
camadas sociais, pois entendemos que o uso de um espaço público por
algumas parcelas da população configura exclusão e/ou segregação social.
Foi
diante das tendências dos processos contemporâneos de revitalização que, em
2010, a Prefeitura Municipal do Rio Grande deu início à implantação do projeto
de revitalização, com a finalidade de “reanimar” a área, que se encontrava com
parciais atividades econômicas e de uso.
No
momento em que o projeto não saiu do papel, na íntegra, por falta de recursos e
pela atuação dos imbróglios burocráticos, segundo os responsáveis, a população
passa a utilizar a área do setor oeste (Rincão da Cebola) como ponto de
encontro, exercendo, assim, a cidadania e o direito ao espaço público mesmo que
com pouca infra-estrutura. A apropriação deu-se devido ao atrativo, seja em
razão do apelo paisagístico ou da retomada da área até então infimamente
utilizada; é importante salientar, no entanto, a existência de infra-estrutura
mínima necessária para o lazer: passeio, bancos e iluminação. Em contrapartida,
o local, dotado de grande potencial histórico-cultural para o desenvolvimento
de atividades de lazer e turísticas, foi negligenciado, enquanto o projeto não
foi realizado conforme proposto, algo evidente no resultado obtido e na
articulação, no diálogo para a efetiva execução do projeto. Já no que diz
respeito à apropriação, aliada à valorização do local (valor de troca), nada
foi concretizado, e a população também deixa de se beneficiar da possibilidade
de diversificação das atividades referentes à economia. A aludida diversificação
é urgente em nome da geração de renda e emprego e por que não, de uma vocação
turística plasmada na cidade histórica, com destaque para o seu patrimônio histórico-cultural,
associado às atividades portuárias e às relações cidade-porto, voltadas ao mar.
Essa relação, desde sua gênese, fomentou a economia e hoje poderia representar alvo
de garantias e subterfúgios para a novas funções, mas que não é apropriada nem tampouco
"explorada"e alavancada pelos gestores e pela sociedade.
Assim,
a cidade do Rio Grande/RS, com grande potencial histórico, artístico e paisagístico,
garantiria sua sustentabilidade para além das atividades navais, atualmente em
destaque, em função do Polo Naval e das atividades portuárias do Superporto, que
abrangem relações cidade-porto e de planejamento urbano diferenciadas de espaço-tempo
de períodos econômicos passados.
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