Em Rio
Grande, o consumo de pão já é relatado nos primeiros documentos relativos ao
povoamento da Barra do Rio Grande quando da chegada das tropas de Silva Paes. A
dificuldade, nos primeiros anos de ocupação, em obter farinha para produção de
pão era um fator de apreensão para os comandantes. Afinal, nem sempre os navios
vindos do Rio de Janeiro conseguiam adentrar na Barra para descarregar a carga
– muitas vezes retornavam devido a Barra Diabólica não permitir a navegação. Em setembro de 1738, sementes de trigo de Curitiba foram mandadas trazer por Gomes
Freire de Andrade para Rio Grande.
Um grande
surto de plantação de trigo para a produção artesanal de pães, bolos, bolachas,
massas etc, ocorreu ainda no século 18 e primórdios do 19 quando entre Rio
Grande e o Estreito (São José do Norte),
foram plantados as maiores áreas de trigais do Rio Grande do Sul. A
doença da ferrugem fará declinar drasticamente estas plantações conduzidas
pelos açorianos e portugueses.
A crise
persistia nas primeiras décadas do século 20. O trigo que chegava a Rio Grande
provinha da Argentina e a produção rio-grandense era diminuta. A plantação de trigo em larga escala teria de
esperar até a década de 1950 para acontecer e mesmo assim, ainda hoje a
produção brasileira corresponde a cerca de 50% do que é consumido mantendo a
dependência histórica da Argentina.
A produção da farinha de trigo era essencial
para movimentar algumas indústrias alimentícias que necessitavam deste produto.
Uma das mais destacadas foi a Leal Santos, fundada em 1889 e que ganhou
notoriedade no Brasil. A moagem do trigo em nível local teve impulso com o
empresário Albino José da Cunha que fez grandes investimentos em Rio Grande,
Pelotas e Porto Alegre. Em nossa cidade
ele se estabeleceu em 1895 com o Moinho Rio-grandense, fornecendo para o ramo
industrial e o varejo.
O comendador
Albino Cunha era sócio do estabelecimento Paiva & Cia (União das Padarias
Sul e Maciel), dos mais destacados da cidade marítima na década de 1910.
Instalada a rua Andrade Neves n.19, 21,23, foi fundada em 1855. Em 1874 foi
adquirida pelo português Fernando E. Paiva. Em 1909 é feita sociedade com Albino
Cunha. A empresa explorava o ramo de padaria e confeitaria, recebendo o
fornecimento de farinha dos Moinhos Rio-grandense e Pelotense. O papel
estampado era comprado no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A fábrica
Paiva & Cia, na sua classe, era a mais importante da cidade e uma das
maiores do Rio Grande do Sul.
Se o
discurso verbal é forte no convencimento das qualidades dos estabelecimentos, a
imagem fotográfica é contundente mesmo na ausência de palavras! Interessante
observar nas fotografias que o setor de fornos e as amassadeiras mecânicas
estão localizadas num ambiente bastante lúgubre. Se observados os detalhes das
expressões faciais dos funcionários e a disposição dos objetos no espaço, o
conjunto mais parece constituído por ‘catacumbas de um filme de terror’, onde o
monstro de Frankenstein vai entrar a qualquer momento. Aquela velha questão que
na atualidade,- recebe um ‘suposto’ maior acompanhamento das autoridades
ligadas a fiscalização da higiene pública- fica em suspensão: será que a
padaria é limpa e o pão foi produzido com aceio?
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