No ano de
1855, Rio Grande foi palco da pior epidemia de sua história: o cólera. Alguns
meses antes, uma notícia sacudiu a Inglaterra que passava por um dos invernos
mais rigorosos já registrados. A estranha
ocorrência se difundiu por outros países chegando até Rio Grande: o diabo
estava passeando pelo Condado de Devon!.
Era o dia 16 de fevereiro de 1855,
quando o jornal The Times publicou
notícias dos fatos ocorridos nos dias 8 e 9 daquele mês:
"Uma
grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone, Exmouth,
Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um vasto
número de pegadas estranhas e misteriosas. Os supersticiosos chegam ao
ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e o grande temor causado
nas pessoas de todas as classes pode ser julgado pelo fato do assunto ter chegado
aos púlpitos locais.
Parece que na
noite de quinta-feira houve uma forte nevasca na região de Exeter e no sul
de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessa região foram surpreendidos pela
descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso, imbuído da capacidade
de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em muitos lugares
inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito estreitos, em
jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas fechadas assim
como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as pegadas não
estivessem presentes.
A julgar pelas
trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente por um animal bípede e
não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de aproximadamente 20
centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito às das ferraduras
de um jumento e mediam de 6 a 10 centímetros de uma ponta a outra. Aqui e ali
elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua maioria a forma de
ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro, apenas mostrando os
contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.
A criatura parece
ter se aproximado das portas de inúmeras casas e então ter se afastado, mas
ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida ou chegada do visitante
misterioso. No último domingo o reverendo Mr. Musgrave citou o ocorrido em um
de seus sermões e sugeriu a possibilidade das pegadas terem sido causadas por
um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que foram encontradas de
ambos os lados do estuário de Exeter.
Até o momento o
acontecido permanece um mistério e muitas pessoas supersticiosas que habitam as
cidades já citadas estão realmente com medo de sair de suas casas depois
que escurece".
A comoção e
o medo tomou conta da região durante algumas semanas. Pessoas ficaram trancadas
em suas casas e outros indícios da presença do diabo são relatados como o
cheiro de enxofre. Até especulações sobre o fim do mundo passam a circular
entre os populares.
O assunto se
manifestou de forma contundente na Igreja Anglicana que indicou o Reverendo H. T. Ellacombe, vigário da igreja de Clyste St.
George para analisar o fenômeno. Ele realizou uma ampla investigação
na Diocese de Devon e elaborou um relatório de mais de 500 páginas. A revista The
Illustrated London News, publicou em fevereiro e março de 1855, parte das
conclusões de Ellacombe. Constatou-se que os rastros tinham até 110 km de
extensão e estavam espalhados em locais de difícil acesso. O Reverendo acaba
reconhecendo que não conseguiu comprovar fraude ou explicar a origem do
fenômeno. Ao longo do tempo várias hipóteses (especialmente rastros de animais)
foram levantadas mas nenhuma foi elucidativa. Contemporaneamente, o pesquisador
Mike Dash elaborou um tratado ‘The Devil’s Hoofmarks’ que também não foi
conclusivo.
As pegadas do diabo de Devon passaram a fazer parte do imaginário da
região e permanece até hoje como um enigma a ser solucionado.
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