Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 15 de julho de 2017

O DIABO DE DEVON

Pegadas do Diabo de Devon. The Illustrated London News 9 fevereiro de 1855. 


No ano de 1855, Rio Grande foi palco da pior epidemia de sua história: o cólera. Alguns meses antes, uma notícia sacudiu a Inglaterra que passava por um dos invernos mais rigorosos já registrados.  A estranha ocorrência se difundiu por outros países chegando até Rio Grande: o diabo estava passeando pelo Condado de Devon!.
Era o dia 16 de fevereiro de 1855, quando o jornal The Times publicou notícias dos fatos ocorridos nos dias 8 e 9 daquele mês:

"Uma grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone, Exmouth, Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um vasto número de pegadas estranhas e misteriosas. Os supersticiosos chegam ao ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e o grande temor causado nas pessoas de todas as classes pode ser julgado pelo fato do assunto ter chegado aos púlpitos locais.
Parece que na noite de quinta-feira houve uma forte nevasca na região de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitantes dessa região foram surpreendidos pela descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso, imbuído da capacidade de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em muitos lugares inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito estreitos, em jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas fechadas assim como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as pegadas não estivessem presentes.
A julgar pelas trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente por um animal bípede e não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de aproximadamente 20 centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito às das ferraduras de um jumento e mediam de 6 a 10 centímetros de uma ponta a outra. Aqui e ali elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua maioria a forma de ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro, apenas mostrando os contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.
A criatura parece ter se aproximado das portas de inúmeras casas e então ter se afastado, mas ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida ou chegada do visitante misterioso. No último domingo o reverendo Mr. Musgrave citou o ocorrido em um de seus sermões e sugeriu a possibilidade das pegadas terem sido causadas por um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que foram encontradas de ambos os lados do estuário de Exeter.
Até o momento o acontecido permanece um mistério e muitas pessoas supersticiosas que habitam as cidades já citadas estão realmente com medo de sair de suas casas depois que escurece".

A comoção e o medo tomou conta da região durante algumas semanas. Pessoas ficaram trancadas em suas casas e outros indícios da presença do diabo são relatados como o cheiro de enxofre. Até especulações sobre o fim do mundo passam a circular entre os populares.  
O assunto se manifestou de forma contundente na Igreja Anglicana que indicou o Reverendo H. T. Ellacombe, vigário da igreja de Clyste St. George para analisar o fenômeno. Ele realizou uma ampla investigação na Diocese de Devon e elaborou um relatório de mais de 500 páginas. A revista The Illustrated London News, publicou em fevereiro e março de 1855, parte das conclusões de Ellacombe. Constatou-se que os rastros tinham até 110 km de extensão e estavam espalhados em locais de difícil acesso. O Reverendo acaba reconhecendo que não conseguiu comprovar fraude ou explicar a origem do fenômeno. Ao longo do tempo várias hipóteses (especialmente rastros de animais) foram levantadas mas nenhuma foi elucidativa. Contemporaneamente, o pesquisador Mike Dash elaborou um tratado ‘The Devil’s Hoofmarks’ que também não foi conclusivo.

As pegadas do diabo de Devon passaram a fazer parte do imaginário da região e permanece até hoje como um enigma a ser solucionado. 

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