Luiz Angelo Loréa nasceu na Vila de Talonno, município de Invorio
Inferiore, na Província de Novara, Itália, em 21 de agosto de 1874. Em 27 de
abril de 1887 desembarcou em Rio Grande com menos de 13 anos de idade. Na
cidade foi recebido pelo tio paterno que viera da Itália alguns anos antes,
Carlos Angelo Loréa. A mãe de Luiz Loréa falecera quando este e sua irmã Maria
eram pequenos. O pai era um operário que nas horas livres era vinhateiro e
barbeiro em sua residência, casando-se novamente e tendo mais seis filhos. Em
Rio Grande, o menino começou a sua vida profissional como empregado de uma
padaria. Em 23 de junho de 1894 casou-se na Igreja Matriz de São Pedro com
Cantalice Amália da Silva. Nesta época montou o seu próprio negócio, uma
mercearia na esquina das ruas Viletta (Napoleão Laureano) e 20 de Fevereiro
(Luiz Loréa), juntamente com a esposa que o ajuda na atividade comercial. Em
1909 associou-se ao italiano Raphaele Marsiglia criando uma firma de exportação
de produtos agrícolas. Com a situação financeira promissora diversificou as
atividades com uma indústria de Cabos e Cordas, indústria de aniagem, indústria
de fertilizantes, de óleos vegetais, de pescados, de charque, de massas
alimentícias, torrefação e moagem de café, estaleiro naval, lavoura de arroz,
café, metalurgia e fundição. Também foi acionista proprietário de companhias de
navegação, agente da Companhia Francesa de Vapores e paquetes e um dos
sócios-fundadores e membro da primeira diretoria da VARIG em 1927.
Luiz Lorea participou
ativamente de obras sociais especialmente as ligadas a Igreja católica. No Rio
Grande contribuiu com campanhas para preservação ou construção de templos.
Destacou-se na colaboração do trâmite junto ao Ministério da Educação para o
tombamento da Igreja de São Pedro e Capela de São Francisco em 1938, momento
crítico em que os dois templos poderiam ter sido demolidos. Assumiu a
construção da Capela-Escola Jesus-Maria e José, inaugurada em 1937, na Avenida
Pelotas no período em que os areais ainda eram a paisagem presente na Cidade
Nova. Esta Capela foi à origem da Igreja Matriz da Sagrada Família e do Colégio
Diocesano São Luiz Gonzaga, hoje conhecida por Escola São Luiz.
Lorea colaborou com obras
na Itália, restaurando e ampliando a Igreja de São Germano Bispo em sua terra
natal. Pela dedicação ao catolicismo o Papa Pio XI o homenageou em 1928 com o
título de Cavaleiro da Sagrada Ordem Pontifícia de São Gregório Magno, na
classe de Cavaleiro Civil. No mesmo ano, o Rei da Itália Vitor Emanuel III, o
nomeou Cavaleiro Real da Coroa da Itália. O Cavaleiro Lorea incentivou e apoiou
financeiramente o sobrinho Ugo Lorea Poletti a tornar-se sacerdote, o que
ocorreu em 1938. Ugo teve um apostado brilhante tornando-se Cardeal e ocupando
os mais importantes cargos na Igreja sendo o vigário de três papas. Faleceu em
1997 aos 82 anos de idade.
Sofrendo de problemas
cardíacos, viajou para Montevidéo em busca de tratamento especializado
realizando duas cirurgias, faleceu no dia 31 de julho de 1948 aos 74 anos. O
Jornal católico Cruzeiro do Sul de agosto de 1948 assim se pronunciou:
“Quando ocorreu pela cidade a notícia da morte do Cav. Luiz Angelo Lorea, a 31
do mês p. passado, foi uníssono o coro de vozes que repetia ‘uma grande perda
para o Rio Grande!’. É que a cidade já estava acostumada a ver a figura
inconfundível do homem que se havia consagrado ao trabalho na sua poliforma
atividade e que de pé, manhã cedo, era dos últimos a apagar a luz do seu
escritório. Num labor constante e multiplicado, via-se o patrão que a morte
arrebatou, no meio de seus auxiliares e operários, na simplicidade um bom e
animado, resolvendo, trabalhando. Equilibrado nos seus negócios materiais,
nunca perdeu o equilíbrio do homem religioso. Sua fé era profunda e simples,
como a dos bons filhos da Igreja. Seu nome está ligado à grande parte das
indústrias da cidade e se projetava em todo o país como um dos mais conhecidos
entre os homens de negócio do Estado. Quem percorrer as grades das associações
de assistência social e caritativa, encontrará em todas elas o nome do Cav.
Luiz Loréa, entre os seus sócios
beneméritos ou efetivos, assim com em todas as listas de contribuições para
auxílio a boas obras que se projetassem na cidade. Se não bastassem essas
doações para lhe conferirem o bondoso coração, ali está para lhe perpetuar a
memória a Capela-Escola Jesus, Maria e José que mandou construir a própria
custa e a pedido do seu amigo vigário Mons. Eurico de Mello Magalhães. Sua
morte em Montevidéu, confortado com os Sacramentos da Igreja, depois de duas
operações, teve como causa fraqueza cardíaca. Transportado em avião especial a
Pelotas e de lá a esta cidade, foi sepultado no Cemitério Católico, em mausoléu
da família, depois de ter recebido em sua casa a mais eloqüente prova de simpatia
da cidade que lhe fez uma verdadeira consagração no seu enterro. O féretro
movimentou-se às 14 horas, tendo sido encomendado o corpo na Matriz de São
Pedro e na Capela do Nosso Senhor do Bomfim e acompanhado pelo Revmo. Vigário
de São Pedro, Irmandade do Bomfim, de cruz alçada e enorme multidão, a pé, até
o cemitério. Às 18 horas baixava a sepultura...”.
O Jornal Rio Grande
do dia 02 de agosto de 1948 registrou: “Desde a natureza, lacrimejando a chuva
fria e triste da manhã de ontem, até o povo consternado e mudo, todo o Rio
Grande, envolto no mais vivo pesar, recebeu ontem os despojos do seu grande e
benemérito servidor, daquele que foi em vida, uma das mais fortes expressões do
desenvolvimento da sua indústria e do seu comércio, modelo admirável de atividade
fecunda e produtiva, exemplo impressionante de trabalho construtivo – Cavaleiro
Luiz Lorea. Foi sem exagero algum, a maior consagração popular prestada nestes
últimos anos à memória de um homem entre nós. Homens, mulheres, crianças, gente
do povo, elementos representativos do governo, da indústria, do comércio, das
profissões liberais, das mais variadas atividades sociais, toda a cidade se
movimentou, tomada de emoção profunda, para render a derradeira homenagem ao
grande morto que começou a viver eternamente na saudade, na gratidão, no
respeito e na veneração do povo e quem tanto quis e serviu. Sócio de quase
todas as associações da cidade, a todas elas emprestou a mais decidida
colaboração. Amigo do Rio Grande, não houve um só movimento em prol do progresso
da terra riograndina que não encontra-se no Cav. Luiz Lorea o mais dedicado
cooperador.” No falecimento a 60 anos atrás uma frase significativa ficou
registrada: Amigo do Rio Grande! O retorno social das atividades econômicas com
geração de emprego e circulação do meio circulante na própria cidade é de
extrema relevância. A dimensão do engajamento social e educacional buscando o
crescimento local deve ser preservado na memória do presente. Luiz Lorea
basicamente é hoje lembrado pela movimentada rua central da Abrigolândia e por
um esquecido e pichado monumento na confluência desta rua com a Marechal
Floriano. Rememorar nascimentos e mortes é um veículo didático para repensarmos
trajetórias de vida esquecidas no tempo e podemos refletir sobre experiências
históricas no presente.
Muuto bom o texto. Sou pernambucano morei 6 anos em Rio Grande. E não sabia sa história do L. Lorea...parabens...
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