Hoje
(23-12-2014), há cinqüenta e dois anos atrás, circulou o primeiro jornal O
Peixeiro. Recuando no tempo, era o dia 23 de dezembro de 1962. Nesta data, eu
tinha 38 dias de vida e por isso não me fiz presente na fila do Cine Glória
para receber o ‘precioso número 1’ que deu início as edições que já se
prolongam por mais de meio século. E receberia das mãos do Seu Germano Torales
Leite, que, pela primeira vez, não está festejando mais um aniversário deste
semanário que ele criou e que tinha um vínculo tão nostálgico: foi aqui que sua
longuíssima experiência de jornalista foi construída e desdobrada
posteriormente no Jornal Agora.
Uma vantagem
em ser historiador é que mesmo não estando presente no evento de 1962, pude
pesquisar o jornal distribuído num passado distante e busquei as suas
motivações: folhei o número 1 e os números posteriores de O Peixeiro que agora
fazem parte da memória da cidade.
A cidade da
paixão pelo cinema e pela multidão de cinéfilos, que ao longo do século XX
freqüentaram inúmeras casas de projeção, recebia um jornal que trazia
informações sobre a programação cinematográfica da semana e muito mais do que
isto. Sociedade e cultura, política e crítica pública: a cidade não se fazia
apenas na fantasia do cinema de forte influência de Hollywood mas em inúmeros
problemas urbanos que precisavam de um canal de debate e de denúncia. Porém,
quase sempre, as matérias eram construídas com bom humor, irreverência ou até
deboche. Outras eram leves, com textos literários e poéticos, com páginas de
humor ou de divulgação de atividades sociais. Certamente, como é característico
do jornalismo que trabalha com o tempo instantâneo e a pressão do momento, um
mar de rosas não existe nesta caminhada mas sim o sentimento de construir uma
parte da realidade que uma sua totalidade é indecifrável mesmo estando no tempo
presente: a vida em sociedade e seus múltiplos imaginários!
Que a
véspera deste natal, para quem acompanhou ao longo destes anos este pequeno
jornal que nasceu cor-de-rosa, seja um momento para relembrar a memória de seu
fundador e um pouco do que se passou nestes últimos 52 anos: as marcas mais
profundas e as mais indeléveis; o peso do tempo e a leveza dos pensamentos. Fazer
uma reflexão sobre a cidade que se construiu mentalmente em nossa vontade e na
cidade concreta da labuta diária: afinal, por detrás dos caminhos e descaminhos
dos questionamentos trazidos nas páginas dos jornais e que constituem um
repertório de dezenas de milhares de páginas, estes periódicos não terão o
objetivo de perpetuar e fazer pensar um futuro mais saudável para a comunidade,
como é o caso de O Peixeiro? Não será esta uma das principais missões da
imprensa?
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