O Iluminismo “é a
saída dos homens do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio
intelecto sem a orientação de outro. Essa minoridade será devida a eles mesmos
se não for causada por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e
coragem para utilizar o intelecto como guia. 'Sapere aude!' 'Ouse usar seu intelecto!' é o lema do
Iluminismo." Kant é o autor desta passagem que exalta a racionalidade como
caminho para o crescimento humano. As “luzes da razão” ocupariam o espaço das
trevas do obscurantismo e permitiriam que a humanidade superasse mazelas de
conflitos e sadismos no convívio em sociedade. França, Alemanha, Inglaterra
difundem este ideário que será utilizado junto com o pensamento do liberalismo
político para as emancipações frente ao Antigo Regime e a condição de
subordinação colonial nas Américas.
A razão é o guia da experiência humana. Crenças e
conhecimentos deveriam ser pensados a partir da crítica, a fim de promover a
melhoria das condições de vida dos homens e mudanças na ordem política
(republicanismo). Características: a razão é um poder limitado que não chega a
“coisa em si” mas guia até o conhecimento dos fenômenos O empirismo iluminista
exigia que a edificação de verdades deveria ser questionada com a
experimentação científica que deveria também abarcar o campo da moral, política
e religião (campos até então não questionáveis). No campo científico enfatiza
ciências da natureza sendo a Física a “verdadeira filosofia”, a química e a
ciências biológicas como campos essenciais para a aplicação da razão; a
intervenção divina nos eventos humanos e a expectativa da chegada do juízo
final, o cotidiano terreno é palco de ação dos próprios homens que agindo
racionalmente promoveriam o progresso civilizatório; não aceitava a manutenção
da tradição como força da verdade, pois, estava repleta de preconceitos e
crenças não racionais. Nesta direção racionalizam o governo e a organização
social e também propõem o deísmo (a razão do homem pode levar ao conhecimento
da divindade ou de Deus);o pensamento iluminista foi fundamental para
o desenvolvimento da Revolução Industrial com a valorização da ciência e da
laicidade (conhecimento independente da religião) e pela ideia de progresso
civilizatório frente ao avanço da racionalidade domesticadora da natureza.
O tema vampirismo permite uma reflexão sobre as luzes e as trevas da
modernidade. No século XVIII se tentou elucidar sobre os fenômenos relatados na
Europa Central sobre a ocorrência de ataques de nosferatus (grande onda
vampírica da década de 1730). Manifestações na Áustria, Sérvia, Polônia,
Bulgária, Hungria, Romênia faziam a imaginação dos franceses, ingleses e
alemães voltar-se a realidade destas manifestações. Relatórios elaborados por
autoridades austríacas atestando a veracidade da existência de mortos-vivos
acendem o interesse em explicar os fenômenos. Tratados são escritos para
desacreditar os relatos orais, mas, são vacilantes: o melhor tratado, elaborado
pelo abade francês Calmet (enviado como pesquisador àquelas regiões infestadas
com o objetivo de desmistificação em nome da cristandade e da ciência), acabou
sendo vago em suas conclusões, deixando portas abertas à imaginação popular.
Esta literatura acabou servindo para divulgar ainda mais as crenças milenares
dos povos eslavos que conviviam com esta mitologia. O filósofo Voltaire (em seu Dicionário
Filosófico), buscando trazer “luzes” ao tema é irônico e desenvolve uma crítica
social: “Os vampiros eram defuntos que saíam à noite
de seus túmulos no cemitério para sugar o sangue dos vivos, através da garganta
ou do ventre, e depois retornavam as suas covas. Os vivos que tinham sido
sugados, emagreciam, tornavam-se pálidos e iam se consumindo; enquanto os
mortos que haviam chupado tornavam-se gordos, com a pele corada e tinham
excelente apetite. Foi na Polônia, Hungria, Silésia, Morávia, Áustria e Lorena
que os mortos fizeram suas melhores refeições. Jamais ouvimos falar de Vampiros
em Londres, nem mesmo em Paris. Admito que nestas duas cidades existiam
agiotas, comerciantes e homens de negócios que sugavam o sangue do povo a luz
do dia; porém, não estavam mortos, ainda que corrompidos. Esses sugadores
verdadeiros não habitavam cemitérios, mas sim confortáveis palácios. (...)
Portanto os reis não são, falando propriamente, Vampiros. Os verdadeiros
vampiros são os monges, que se banqueteiam as custas tanto dos reis quanto do
povo”.
A tentativa de desmistificação do vampirismo é uma
interessante manifestação pedagógica da razão iluminista que buscava divulgar
luzes racionais para sufocar crenças tidas como primitivas que compunham o
imaginário de populações camponesas da Europa Central. A crença de que o
conhecimento racional tudo poderia explicar é testada nestas discussões que
trazem um projeto de civilização que contrapunha o atraso sobrenatural frente
ao progresso intelectual do ocidente europeu.
Vlad Tepes III, o empalador. Planfleto do final do século XV. |
Mapa da Transilvânia na primeira metade do século XIX. |
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