Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 18 de julho de 2017

GUSTAV POOCK

O capital industrial se fez presente em Rio Grande desde a década de 1870. A cidade se caracterizou por apresentar um numero relativamente pequeno de indústrias onde trabalhavam um elevado número de operários. Na República Velha gaúcha ocorre a expansão e consolidação da industrialização e Rio Grande será um centro essencial para a produção de bens não duráveis ligada aos ramos têxtil e alimentício. No ano de 1918, cerca de 6 mil operários atuavam nas indústrias locais. Dentre estas, uma das que mais se destacava era a Companhia de Charutos Poock, que chegou a empregar na cidade 300 funcionários (a maioria mulheres). O primeiro endereço ficava na esquina das ruas Marechal Floriano e Benjamin Constant. O prédio retrato nesta página foi ocupado a partir de 1912 (atual Tumelero).
Pedro Domecq em seu livro de 1916 (O Estado do Rio Grande do Sul), traz um relato da situação da empresa neste ano e a trajetória do seu fundador.
Sob o título de Cia de Charutos Poock, Succ. de Poock & Cia está instalada na cidade do Rio Grande uma importante fábrica de charutos, que por todos os motivos faz honra a indústria do Estado do Rio Grande do Sul e coloca-se, com vantagens, entre as primeiras do Brasil. O fundador da atual Companhia, o sr. Comendador Gustav Poock, nasceu em Hamburgo, em 1854; era filho do sr. Ed. Poock, conhecido fabricante de charutos nesse grande centro industrial e aí tornou-se senhor de conhecimentos na indústria charuteira, que um dia transplantaria para o Brasil. Aportando a cidade do Rio Grande em 1876, aí resolveu exercer a sua atividade em importantes casas comerciais, na qualidade de empregado, ocupando simultaneamente o cargo de chanceler do consulado alemão. Em 1880 contraiu matrimônio com uma rio-grandense, ficando assim mais enraizado no lugar. Depois de superar mil dificuldades, principalmente de capital, pode, afinal, em 1891, realizar a sua grande aspiração de fundar uma fábrica de charutos havaneses, a primeira no seu gênero no Brasil. Com a confiança de um grupo de amigos e capitalistas, conseguiu subscritores para o capital primitivo de Rs100:000$000, divididos em ações, com que foi fundada a Empresa.
Constituída a sociedade, o sr. Poock seguiu para a Europa, onde contratou pessoal habilitado e fechou contratos para fornecimento de matéria-prima escolhida. Tudo assim preparado, urgia instalar a fábrica e dar os primeiros passos de ensaio na colocação e introdução do produto, mas eis que declara-se a epidemia de cólera morbus em Hamburgo e estala o movimento revolucionário de 1893 no Estado. A exploração da nova indústria atrasou-se grandemente e só em 30 de junho de 1893 é que o sr. Comendador Poock pode apresentar aos acionistas o primeiro balanço, aliás auspicioso, por permitir distribuir quase 10º sobre o pequeno capital realizado de Rs. 50:000$000. (...) [No final de 1900] “foi fundada a filial de Poock & Cia, em Cachoeira (Estado da Bahia) e organizada segundo os princípios da casa matriz. A matriz emprega na fabricação de seus afamados charutos, fumos escolhidos das melhores safras de Cuba, Havana, Bornéu, Sumatra e da Bahia; a importação é feita, quer dos mercados europeus, quer dos nacionais os mais qualificados, e esses fumos, na fábrica, são cuidadosamente manipulados e misturados, dando as diversas composições, que se procura conservar inalteradas em todas as marcas, para o que não se poupa esforços”.

Os produtos da empresa eram consumidos nos países do Prata, na Alemanha, Portugal, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos e circulava nos navios das grandes Companhias de Navegação. O consumo interno do mercado brasileiro era elevado. Gustav Poock faleceu aos 61 anos, em 10 de janeiro de 1915. Seu filho, Gustavo Poock Junior assumiu o empreendimento. A empresa encerrou suas atividades no final da década de 1960.    

3 comentários:

  1. Parabéns Professor Torres por trazer aos pesquisadores e internautas em geral a história de tão fantástica indústria que funcionou em Rio Grande/RS, hoje praticamente esquecida por nossos coevos. Tenho ainda uma caixa de charutos Poock, guardada por meu pai que foi comerciante em Pelotas nas décadas de 1940-50.

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  2. Tenho uma caixa de charutos Poock que herdei so meu avô. Hoje fiquei curiosa para saber sua história. Fiquei feliz de encontrar esse texto

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  3. Boa Noite, muito bom esse relato pois me serviu de base para classificação do selo de Consumo para charutos dessa companhia, informações preciosas, parabéns belo Blog, abs

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