Uma das
principais modalidades de divulgação literária no século 19 foram os folhetins.
Em Rio Grande que é a imprensa mais antiga do interior do Rio Grande do Sul,
esta produção está presente desde 1845 e acompanhou com agilidade o que foi
publicado nas maiores cidades brasileiras ou até em Paris. Este tema é abordado
por Andrea Estima e Rosana Flores no artigo “O Perfil de Leitura dos Folhetins
em Periódicos Rio-grandinos” (IV Encontro Nacional de pesquisadores de
Periódicos Literários, 2013). Alguns trechos deste artigo serão reproduzidos a
seguir.
Conforme as
autoras, no dia 5 de agosto de 1836 foi publicado na França o primeiro romance
em fatias, Lazarillo de Tormes, de autor desconhecido. Nesse momento surge a
ficção em série, a fórmula “continua amanhã” ou como é utilizada atualmente “cenas
dos próximos capítulos”. Esta nova modalidade apresentava condições distintas
de corte e uma nova estrutura narrativa, que se caracterizava pelas
interrupções da ação no momento de maior clímax, pelas retomadas ao passado,
pelo anúncio prévio de certos acontecimentos ou esclarecimentos imprescindíveis
para manter o leitor interessado na história.
Os folhetins
eram feitos por encomenda e possuíam uma linguagem padronizada e acessível, com
o objetivo de oferecer ao leitor a possibilidade de ampliar informações e
difundir conhecimentos diversificados. De acordo com Antônio Cândido, o
escritor ao produzir a sua obra, opta por determinados temas pertinentes à sua
época, tais temas inspiram reflexões e novos conceitos em seus receptores,
resultando na modificação do pensamento de toda sociedade. As pessoas passaram
a reunir-se em serões familiares para realizar leituras em voz alta,
beneficiando mulheres e pessoas analfabetas. Tal modalidade despertou grande
interesse no público feminino e inspirou o modelo de comportamento europeu,
influenciando as brasileiras, tanto nos hábitos diários, na forma de vestir,
quanto na forma de pensar, inspirando-lhes ideais feministas. O resultado dessa
nova configuração social foi à inserção feminina no mundo das belas-letras, que
até então, fazia parte do universo masculino
Outra forma
de abordagem é perceber a rapidez no processo de tradução e publicação em
alguns casos, como no caso de “Os miseráveis”, de Vitor Hugo, “Sua alteza o
amor”, de Xavier de Montepin, e “Mamãe Rocambole”, de Pierre Zaccone, que são
publicados em Rio Grande no mesmo mês de seus lançamentos na Europa.
Assim, até o
momento, já foram encontrados 170 folhetins publicados em jornais, número
considerado ainda muito pequeno perto do total esperado, já que a pesquisa
começou em março de 2010 e atingiu – ainda que parcialmente – somente nove
jornais locais: O Artista, Diário de Rio Grande, Echo do Sul, A Imprensa, Novo
Rio-Grandense, Rio-Grandense, Inúbia, Gazeta Mercantil, Arcádia, O Tempo e O
Artista. Todos são exemplares do acervo da Biblioteca Rio-Grandense. Apesar de
inicial, esse levantamento já demonstra alguns dados interessantes, como a
predominância de autores estrangeiros, a existência de autores locais e de
temáticas brasileiras. Os autores encontrados são os mais díspares possíveis,
como os canônicos Xavier de Montepin, Alexandre Dumas, Emilio Richebourg e
Vitor Hugo, assim como autores menos conhecidos atualmente, como Furtado
Coelho, Julio Mary, Henrique Rabusson entre outros.
Dos 34
autores franceses, onze títulos são de Xavier Montepin, nove de Émile Richeburg
e sete de Alexandre Dumas. Outro dado interessante foi à presença de imigrantes
estrangeiros na publicação de folhetins no Brasil como o português Furtado
Coelho, o alemão Koseritz e o espanhol Adadus Calpe.
Os romances apreciados na cidade eram os
mesmos que circulavam na corte e nas principais cidades brasileiras. Revelando
a intimidade dos rio-grandinos com os temas que influenciaram os demais centros
culturais do país. As temáticas recorrentes eram diversificadas e ilustravam a
emoção e a miséria da condição humana. As tramas eram tecidas a partir de
assuntos que seduziam o público leitor, com histórias de amores possíveis e
impossíveis, traição, críticas à sociedade, e outras abordagens típicas do
Romantismo. O romance seriado conquistou a população, que foi influenciada
pelas tendências européias a assumir uma nova identidade urbana. Logo, os
folhetins publicados nos jornais da cidade de Rio Grande revelaram-se uma rica
fonte de pesquisa no tocante a configuração da sociedade do século XIX, pois
revelam o padrão comportamental da época, conclui as autoras.
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