No mês de
junho de 1815 estava sendo encerrado o Congresso de Viena que tivera início em
maio de 1814. Este Congresso ocorreu na cidade de Viena (Áustria) e deliberou
sobre o novo mapa político da Europa com a derrota de Napoleão Bonaparte. Os
resultados foram os de garantir a paz européia – em termos de não ocorrer um
conflito entre vários países -, o que foi mantido até a eclosão da I Guerra
Mundial em 1914. Daí, a comparação do Congresso com “100 anos de paz na Europa”
(apesar de confrontos mais localizados continuarem a ocorrer como a Guerra
Franco-Prussiana de 1870).
Mesmo que a derrota final de Napoleão tenha ocorrido em
Waterloo alguns dias após o final do Congresso, de fato a Era Napoleônica
chegara ao fim com a Batalha das Nações também chamada de Batalha de Leipzig (atual
Alemanha, outubro de 1813). A mortalidade deste enfrentamento militar entre a
França contra as tropas da Grã-Bretanha, Áustria, Prússia, Rússia e Suécia, não
tivera similar em outras batalhas. Dos 600 mil soldados que se enfrentaram ao
longo de três dias, cerca de 120 mil morreram. Os mortos e mutilados se
estenderam ao longo de vários quilômetros nas proximidades da cidade de Leipzig.
A absurda
mortalidade levou a busca de soluções diplomáticas para evitar o derramamento
de sangue em confrontos devastadores como este: o grande passo foi o Congresso
de Viena. O resultado foi um colocar um freio nos movimentos radicais burgueses
e inclusive promover a recolonização dos países que almejavam maiores
liberdades políticas. É o caso do Brasil que era colônia de Portugal e
encontrara maior autonomia desde a chegada de D. João em 1808. O monarca
português transformou o Brasil na sede do Império português (Reino Unido) como
forma de sobrevivência política lusa frente à ocupação de Portugal pelas tropas
de Napoleão. Com o fim da Era Napoleônica e as deliberações do Congresso de
Viena de repressão aos movimentos liberais, a Revolução do Porto (1820) exige o
retorno do Brasil ao estatuto de submissão colonial. A aversão a recolonização
absolutista acaba sendo o fator de união de parte da elite
econômica/territorial brasileira e o resultado é conhecido: D. Pedro I,
rebelando-se frente às determinações lusitanas de seu retorno a Portugal,
encabeça o processo de Independência do Brasil em 1822.
Precisamos
ter claro que a história não é feita pelos homens organizados política e
socialmente de forma estanque e em completo isolamento. O expansionismo e a
belicosidade de Napoleão Bonaparte, que modificou o mapa europeu, desencadeou o
fim do pacto colonial que tivera início com a colonização do Brasil em 1500.
Afinal, Portugal se mantivera como nação administrando dentro da própria
colônia que antes era o seu distante ultramar. Num crescendo de animosidades e
pensamento libertário que vai se catalizando, o Brasil independente/Brasil Nação
começa a ser gestado. Um caminho longo de construção de identidade, onde o
Congresso de Viena surge como um componente repressor mas que acaba sendo
impulsionador da busca de liberdade política.
Duzentos
anos depois a pergunta se mantém atual: que nação construir? Que conduta ética
e moral devemos semear a cada geração? Que fantasmas de nossa própria
brasilidade precisam ser exorcizados para que realmente sejamos uma Nação?
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