Na Inglaterra, na interpretação do historiador Eric
Hobsbawn, os parâmetros do que se poderia chamar de uma Revolução Industrial
remontam a 1760. No Brasil, país fundado na herança colonial da grande
propriedade agrícola e escravista voltada a exportação, este processo começa a
se desencadear na segunda metade do século 19. Rio Grande estava em sintonia
com as transformações industriais da economia brasileira e gaúcha que buscava
romper o exclusivismo de um setor econômico primário (pecuária e agricultura).
O capital e o trabalho produziram não apenas produtos e
consumo, mas também uma dialética do conflito entre operários e empresariado.
As indústrias foram um fator de aceleração no desenvolvimento urbano e
crescimento populacional local. A indústria gaúcha esteve voltada ao mercado
regional e nacional desde o seu surgimento nas últimas décadas do século 19. Na
cidade do Rio Grande, ela se caracterizou por apresentar grandes
estabelecimentos, com índices de capital e mão-de-obra empregada acima das
médias e com diversificação de ramos industriais (tecidos, charutos, tecelagem,
alimentícias, frigoríficos etc). A cidade marítima, através da facilidade de
escoamento pelo porto, destacou-se no processo de implantação e consolidação da
Industrialização no Rio Grande do Sul.
O exército anônimo de operários proliferava frente à
produção de bens não duráveis voltados ao mercado interno brasileiro. A grande
indústria, como é o caso da Rheingantz, da Ítalo-Brasileira, da Swift ou da
Leal Santos, introduziu a especialização da produção e a mecanização em larga
escala. Nas primeiras décadas do século 20, a multiplicação das indústrias e as
contradições envolvendo as relações entre patrões e operários, conduziu a
conflitos e articulações equalizadoras da questão social oriunda do equilíbrio
tênue entre capital e trabalho. Charles Chaplin no filme Tempos Modernos
captou, na estética cinematográfica, este novo contexto mundial que Rio Grande
participou ativamente.
A indústria têxtil Rheingantz surgiu em 1874 e foi uma
referência em nível de Brasil em termos de construção de um espaço para a
atividade industrial inserido na vida diária do trabalhador que morava junto à
empresa. Outra indústria que despontou em nível local foi a Leal Santos & Cia
que foi constituída em 1890 voltando-se à fabricação de biscoitos e conservas
alimentícias, especialmente carnes, peixes, camarões, frutas e legumes. Os
produtos eram vendidos no mercado interno brasileiro e as carnes enlatadas eram
também exportadas para a Europa. A tecnologia de ponta e a divisão do trabalho
num estabelecimento frigorífico constituiu um referencial prático do anseio da
sociedade burguesa. A Companhia Swift, fundada nos Estados Unidos, implantou
seu parque industrial em Rio Grande, junto ao Porto Novo, em 1917. Podendo
abater até 1.000 reses por dia e empregando 1.500 funcionários, o frigorífico
tinha por meta congelar ou resfriar, assim como aproveitar os subprodutos do
gado, voltando-se ao mercado europeu e norte-americano. A presença destas
indústrias e de várias outras, fez surgir à denominação de Rio Grande como a cidade
das chaminés. No equilíbrio entre a sobrevivência e o lucro,
estruturavam-se as lógicas do capital e as resistências dos trabalhadores num
cenário social que insere Rio Grande nos ideários revolucionários
anarco-sindicalistas e socialistas. Neste confronto também surgiu à questão
social na ótica católica com os círculos operários e a concepção cristã do uso
social do capital. Esta concepção foi defendida pelo rio-grandino Carlos Santos
quando era sindicalista e deputado-classista na década de 1930-40.
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