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Edgar Allan Poe pelo gravurista Jacques Reich (1852-1923). Acervo: Rosenwald Collection, National Gallery of Art. |
SÓ
NÃO FUI, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual a eles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da vida tormentosa, limitada,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
aquela nuvem que se alterava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.
Edgar Allan Poe - "Ficção completa, poesias & ensaios". Rio de Janeiro: Companhia Aguilar Editora, 1965.
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