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Cenário desolador no Cassino em meados de dezembro de 2024. Fotografia: Luiz Henrique Torres. |
Fiz a leitura de centenas de comentários em rede social e sites sobre o início das aulas na Rede Estadual do RS na segunda-feira (10 de fevereiro). Mais de 90% criticavam a medida e demonstravam profunda indignação.
O governador do estado foi inflexível nos pedidos de mudar a data do início para após este período crítico da Onda de Calor evidenciando desconhecer a realidade das escolas gaúchas.
Há muitos anos mantenho uma reflexão sobre a aberração legada pela imposição dos 200 dias letivos anuais no Brasil. O princípio da quantidade como significando qualidade. Além da ilusão de que a mudança de 180 para 200 dias significaria infraestrutura e condições de trabalho adequadas como eram previsto na legislação. Mudou o quantitativo sem incremento do qualitativo das condições materiais.
Para cumprir um calendário tão pesado, o veraneio se tornou nanico sendo interrompido no final da primeira semana de fevereiro. O impacto financeiro do esfacelamento do mundo do trabalho ligado ao veraneio deveria ser calculado e divulgado: quantos desempregos/rendas sazonais foram cortados? Qual o fluxo de renda e impostos foram dissipados?
Porém, a questão que sempre me chamou a atenção foi sobre a qualidade de ensino num calor escaldante? Se existe refrigeração na escola seria contornável estes danos intelectuais e físicos. Quem acredita que escolas estaduais são salas refrigeradas do Palácio do Piratini está enganado. Já orientei estágio de licenciatura em dezenas de escolas e nunca encontrei um ar condicionado em sala de aula. Algum ventilador produzindo um som perturbador até já presenciei. Mas o normal é pura transpiração e dispersão. E não eram cenários de Onda de Calor com 35 a 40 graus medidos na sombra e não numa sala abafada e tórrida.
Historicamente, o Rio Grande do Sul é visto nos relatos de viajantes como despreparado para o intenso frio. Faltava calefação e lareiras. Europeus sentiam mais frio do que em seus países.
Porém, o cenário atual é o despreparo para um "calor" cada vez mais opressivo. O excesso de temperatura pode levar a desidratação com variados danos aos órgãos. Problemas de pressão arterial, circulação sanguínea e arritmias cardíacas estão relacionados a temperatura elevada. A insolação pode causar danos ao cérebro, rins e ao coração.
Na Europa se faz o acompanhamento das internações e mortes causadas por ondas de calor. O Brasil deveria fazer o levantamento de atendimentos relacionados a ondas de calor e cruzar informações sobre a letalidade destas pessoas nas semanas e meses seguintes ao prontuário. Esta letalidade invisibilizada pelo silêncio oficial, conforme pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, provocou no Brasil 48 mil mortes entre 2000 a 2018 durante ondas de calor.
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