Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O DIABO À MEIA-NOITE

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=829447&pagfis
Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1896. 

Este relato escrito por J. Cardona da Estação de Piratiny (Cerrito) garantiu que fosse preservado um dos tantos causos contados nas rodas de conversa da Campanha/Pampa do Rio Grande do Sul. 

Histórias contadas à noite junto ao fogo, a partir de experiências ou invenções, buscando ocupar o tempo que faltava para o sono chegar. 

Certamente, o sobrenaturalismo é uma marca do ser humano e as aparições e criaturas macabras fazem parte do imaginário desde os registros da antiguidade mesopotâmica-egípcia, greco-romana, indiana, lendas orientais e... certamente, milhares de anos antes destes povos. Um exemplo seria os lugares mágico de ritualização onde são encontradas artes rupestres. 

Neste relato, de um acontecimento de 1875, ocorrido com um cavaleiro solitário saindo de um baile na Campanha para as bandas do Piratini, está palpitante a construção prévia de que ele passaria por um local considerado "assombrado". A imaginação começa a construir infindáveis cenários para interpretar sons e visões. O cavalo ajudou para montar um cenário de que algo "estranho" estava a frente e um turbilhão de sensações passam a povoar a mente. O cavaleiro não acreditava em lobisomem, mas, um fantasma branco com dois chifres e cauda era bem diferente. O capeta e o tinhoso tinha um lugar especial no imaginário, pois até os padres do deserto, no Antigo Egito, eram assolados pelos demônios e os vigários naquele presente distante do século XIX, não negavam a sua existência, até aquele momento... O que lembrasse o diabo numa noite escura, já era motivo para sobressalto, pois a sua existência estava registrada até no livro sagrado. 

O enfrentamento da assombração se deu com um tiro de pistola e a visão se converteu no zurrar do pobre burro branco do vizinho Antonio que estava bebendo água e observando a chegada do cavaleiro. 

A história acabou tendo um desfecho explicativo e racional, não pairando um epílogo sobrenatural e sinistro. Ficou o alerta para não deixar a imaginação aflorar sem freios frente a escuridão da noite e o peso dos medos em nossa cabeça.

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