O Artista, Rio Grande, 20 de setembro de 1901. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
Este anúncio publicado no jornal O Artista do dia 20 de setembro de 1901, me levou a retomar o tema do surgimento das indústrias de fósforos no Brasil.
Trata-se de anúncio dos Phosphoros de Segurança Marca Luz. A empresa responsável pelas vendas era bastante conhecida na cidade do Rio Grande: a Corrêa Leite & Cia. que eram os únicos vendedores para localidades como Porto Alegre, Bagé, Jaguarão etc.
Soube da existência desta empresa pela fotografia publicada no Guia Bemporat de 1908. Outra fonte informava que 65 operários trabalhavam na fábrica no ano de 1907 e o proprietário era Pedro Perez. Sua localização era na Rua Dr. Nascimento (na época se chamava Rua Yatahi n. 83) nas proximidades da Rua Trindade em terreno que já estava abandonado em 1924. No local foi edificada a fábrica de fogões de Rogélio Perez e preservada a chaminé de 8 metros que pertenceu a fábrica de fósforos. A poucos anos a chaminé foi demolida e pode ser observada na fotografia.
Guia Bemporat, 1908. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
O anúncio fez recuar de 1907 para 1901 a existência da fábrica de fósforos. Certamente, ela antecede esta data e se coloca como uma das primeiras no ramo no Brasil. A primeira teria sido fundada em São Paulo em 1893. Conforme a página https://portaldamooca.com.br/a-fabrica-de-fosforos-fiat-lux/, em 1893, Vittorio Migliora fundou, na Mooca, em sociedade com José Scarsi, a primeira fábrica de fósforos do Brasil. Mais tarde, em 1904, a empresa passou a ser denominada Cia. Fiat Lux. O nome da empresa vem do Gênesis, Cap I, v. 3: Dixit Deus: “Fiat Lux!” et lux facta est. – Disse Deus: “Faça-se a luz e a luz se fez!”. Para definir o nome, não foi também inspirador a marca Luz de Rio Grande?
Uma segunda referência em antiguidade remete ao Rio Grande do Sul em 1895. "Fundada em 17/6/1895, pelas famílias Jung e Secco, a Fábrica de Phósporos Sul-Riograndense que se instalou em um terreno junto aos trilhos da viação férrea em São Leopoldo, na rua Flores da Cunha. Além de facilitar a exportação, os trens também permitiam à empresa acessar sua principal matéria prima: as florestas de eucalipto plantadas ao longo do trajeto até Porto Alegre. Em 1914, essa indústria, que já era a maior fábrica de fósforos do RS com produção de 1.200 caixas". (https://www.facebook.com/mhvsl/posts/f%C3%A1brica_de_f%C3%B3sforosfundada-em-1761895-pelas-fam%C3%ADlias-jung-e-secco-a-f%C3%A1brica-de-p/1364999353648353/).
São duas referências que podem ser repensadas com o avanço das informações provindas de outros estados brasileiros. A fábrica em Rio Grande, hipoteticamente, pode recuar aos anso 1898 ou 1899. A investigação poderá trazer avanços em relação a cronologia que é um ponto inicial para buscar os eventos.
Mais um pequeno avanço foi encontrar a imagem de um lote vendido pelos Leilões Bortolan (https://www.bortolanleiloes.com.br/peca.asp?ID=17846246&ctd=1) mostrando algumas caixas de fósforos produzidas em São Leopoldo, Rio Grande e locais não identificados. Nas caixas de Rio Grande se lê Conill & C. Cruzando com este anúncio temos a assinatura do anúncio como sendo Conill & C. confirmando ter sido produzido em Rio Grande. Afinal, por vezes, Rio Grande era uma relação com o Rio Grande do Sul (quase sempre com Porto Alegre) e não necessariamente com a cidade.
Trata-se de duas imagens nas caixas de fósforo. Numa (repetida duas vezes) em seleção de cores, há um casal abraçado. Na outra imagem, fixada na superfície superior da caixa de fósforo, está uma mulher sentada com uma sombrinha (estilo feminino belle époque dos anos 1900). Como datar estes rótulos? O leiloeiro considerou o lote raríssimo situando-os entre o final do Império e início da República (1889). Pelo jeito ele nunca havia visto estes objetos. Os rótulos são variados desde às temáticas infantis de fábrica não identificada, até as imagens de Jung & C. de São Leopoldo (temas com crianças, animais e posses femininas) até os mais intimistas (casal e mulher só olhando para a natureza) da empresa Luz. Os rótulo de Rio Grande eu trabalho com a hipótese de 1910.
https://www.bortolanleiloes.com.br/peca.asp?ID=17846246&ctd=1 |
Eis os pequenos fragmentos da memória que foi sendo perdida.
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