Pierre Clastres. |
Um livro marcante que fiz a leitura na minha Graduação em História na Universidade Federal de Santa Maria foi A Sociedade Contra o Estado do antropólogo francês Pierre Clastres. Alguns aspectos desta obra foram trabalhados nesta matéria e publicada na Enciclopédia de Antropologia (USP).
É uma primeira introdução para refletir sobre este autor:
"A filosofia política contra o Estado proposta por P. Clastres assenta-se em dois mecanismos principais: de um lado, na chefia indígena, esvaziada de poder coercitivo e considerada um aparelho interno contra a concentração do poder; de outro, no dispositivo da guerra, máquina de dispersão centrífuga que recusa o mecanismo de unificação e a concentração do poder, possibilitando que as sociedades indígenas permaneçam demográfica e territorialmente restritas, condição básica para sua indivisibilidade. A sociedade primitiva, segundo ele, é a sociedade contra o Estado na mesma medida em que é a sociedade para a guerra. O profetismo tupi-guarani analisado por Hélène Clastres, por sua vez, é reconhecido como uma máquina profética contra a centralização que se opõe à ameaça do fortalecimento dos chefes de guerra, ao mesmo tempo que desponta como a prefiguração do Estado; isto porque os profetas, por meio de suas belas e subversivas palavras, logram convencer numerosos grupos, aliados e inimigos, a caminharem, sob sua liderança, em longas migrações em busca da terra sem mal. O poder para P. Clastres não é visto como representação, mas como exercício que cria e sustenta o espaço coletivo, construindo-se por meio de figuras como o chefe, o guerreiro e o profeta.
Estudos posteriores acerca das sociedades ameríndias, motivados pela obra do “intempestivo” etnólogo francês, como ficou conhecido, passaram também a pensar essas sociedades além da órbita do Estado, recusando um vocabulário tomado de realidades outras, e inspirando-se nas próprias formas políticas americanas. De acordo com os antropólogos brasileiros Tânia Stolze Lima e Marcio Goldman, a análise clastreana da guerra é uma das primeiras a não reduzir as sociedades ameríndias a grupos fechados, fazendo aparecer as alianças políticas que interligam grupos locais e formam redes de relações. Tal obra pode ser vista também, segundo Eduardo Viveiros de Castro, como uma intuição da “política da multiplicidade”, característica das populações ameríndias, marcadas em seu modo de ser pela metafísica da predação e pelo perspectivismo, e podendo ser considerada ainda, como uma “cosmologia contra o Estado”.
Como citar este verbete:
ARANHA, Aline & FREIRE, Gabriela. 2016. "Sociedade contra o Estado - Pierre Clastres". In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: <http://ea.fflch.usp.br/conceito/sociedade-contra-o-estado-pierre-clastres>
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