Lagoa dos Patos no Cais do Mercado de Pescado em Rio Grande no dia 04-10-2023. |
Conversamos sobre a perspectiva de superação deste momento e um recuo das águas da Lagoa dos Patos e opinei que vejo com preocupação o cenário. Os alunos brincaram que sou bom em prognósticos e costumo acertar algumas informações dadas: ao escrever o livro da Gripe Espanhola (2008) afirmei que seria uma questão de tempo para a eclosão de uma nova pandemia; antes da enchente da Lagoa dos Patos, que está em curso, contextualizei a alta probabilidade dela ocorrer neste segundo semestre de 2023; discuti que a posição geográfica do Rio Grande do Sul é propicia a intensificação de eventos extremos ligados ao aquecimento global. Porém, não há bola de cristal envolvida e nem profecias, somente muitas leituras de artigos científicos ou sites (como a da Metsul) que possibilitam trabalhar com a hipótese de um evento ou fenômeno ocorrer. E este ano é de El Niño Forte e para os gaúchos o resultado está sendo de um Super El Niño.
O que há de especial com a localização geográfica de Rio Grande e São José do Norte? Os municípios se situam na parte terminal do Estuário da Lagoa dos Patos nas proximidades em que a Barra do Rio Grande despeja as águas no Oceano Atlântico. Se a Lagoa dos Patos chega a ter 70 km de largura -em alguns pontos ao longo dos seus 250 km de extensão-, ao chegar a parte terminal dos Molhes da Barra no encontro com o Oceano a largura se reduz para 600 metros.
A nossa geografia é muito difícil de ser explicada sem olhar para um mapa ou para uma imagem de satélite como as disponíveis no Google Earth. Vejamos a seguir qual é o nosso cenário geral que vai depender de volume das águas, da velocidade da correnteza, dos ventos que fazem o represamento etc.
1)Inicialmente, na altura do Bojuru, a largura da Lagoa dos Patos é de 52 quilômetros e 800 metros. No centro superior da imagem está os Molhes da Barra e já podemos observar a diferença brutal de largura.
https://earth.google.com/web/search/Molhes+da+Barra+do+Cassino,+Rio+Grande+do+Sul/ |
2)Entre o pontal na Quarta Secção da Barra (em São José do Norte) e a Barra Nova (em Rio Grande) são apenas 865 metros de largura.
https://earth.google.com/web/search/Molhes+da+Barra+do+Cassino,+Rio+Grande+do+Sul/ |
3)Entre os dois cabeços dos Molhes Leste e Oeste em seu ponto de encontro com o Oceano, a largura se reduz para apenas 600 metros.
https://earth.google.com/web/search/Molhes+da+Barra+do+Cassino,+Rio+Grande+do+Sul/ |
De onde a Lagoa dos Patos recebe tamanho volume de águas? No Rio Grande do Sul os rios que desaguam no Atlântico alimentam o Lago Guaíba e se juntam com a Lagoa dos Patos. Os rios principais e suas bacias hidrográficas são: Antas/Taquari, Pardo, Jacuí, Vacacaí/Vacacaí-Mirim, Caí, Sinos, Gravataí, Camaquã, Jaguarão, Piratini e Canal São Gonçalo.
Região Hidrográfica da Lagoa dos Patos (em verde e marrom). Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do RS (SEMA). |
A precipitação de chuvas nestas bacias hidrográficas vão alimentar a Lagoa dos Patos e o escoamento - que evita o transbordamento das margens -, é feito pela Barra do Rio Grande, onde estão localizados Rio Grande e São José do Norte!
As chuvas no mês de setembro em Rio Grande foram de 466,4 mm (a média mensal de setembro é de 110 mm). Em vários municípios destas bacias hidrográficas as chuvas superaram estas marcas. Peguemos o exemplo de Caçapava do Sul onde choveu 680,6 mm e às águas rumaram para a bacia hidrográfica do Rio Camaquã e na sequência foram despejadas na... Lagoa dos Patos. Porto Alegre teve o mês de setembro mais chuvoso já registrado em dados históricos com 447,3 mm. Continuamos a receber estes volumes absurdos das precipitações em vários municípios gaúchos que escoam para o Atlântico.
No dia 4 de outubro altos volumes de chuva foram registrados em municípios que vão impactar o Guaíba e a Lagoa dos Patos. A previsão do tempo entre 6 a 8 de outubro é de alerta. Não para a Metade Sul onde a chuva deve ser mínima, mas para o Norte, Noroeste e Nordeste do Rio Grande do Sul. Parte das precipitações levarão a enchentes no Rio Uruguai (cujas águas contribuem para a formação do Rio da Prata), porém, outras áreas com chuvas extremas tomarão o rumo do Guaíba e na sequência da Lagoa dos Patos. Portanto, os eventos de chuvas em outubro sequer ainda chegaram até a Barra do Rio Grande.
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