Fotografias: Luiz Henrique Torres. |
"Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes eram a direção".
(Humberto Gessinger, Engenheiros do Hawai).
As nuvens de algodão existem? Fotografei estas no céu da cidade do Rio Grande no entardecer de hoje.
Quem olhar o noticiário acreditará que as nuvens de algodão não existem e as fotografias são montagens.
No dia 19 de fevereiro fiz uma matéria no blog e utilizava como hipótese que uma guerra na Ucrânia ocorreria nos próximos dias: infelizmente acertei.
Analisar os discursos dois lados já evidenciava que a intervenção militar fazia parte de um planejamento estratégico que não nasceu nas últimas semanas. O tom incisivo de fontes ocidentais indicavam que o setor de inteligência trazia fortes evidências de um ataque russo. O tom de desprezo argumentativo e a postura defensiva referente a "histeria ocidental" fazia parte de uma peça teatral numa guerra já arquitetada.
Em pouco menos de 24 horas da invasão muita coisa aconteceu e as dúvidas pairam sobre os próximos capítulos. As informações são vagas e num primeiro momento falhei numa hipótese: que a Rússia apenas mirava destruir a infraestrutura militar da Ucrânia e se manter no controle em áreas do sul, além da ocupação de Odessa. Uma linha militarizada de anexações que quebrariam a economia ucraniana e com calma, esperar as crises econômicas e instabilidades políticas decorrentes, para colocar governantes pró-Moscou no poder. Mas pode não ser assim...
Continuei relutante em aceitar que o projeto é a ocupação total, inclusive, com o avanço sobre a capital Kiev e utilizando a parceria territorial de Belarus. Foi preciso muita negociação e previsão destas ações para obter o apoio de um país relativamente neutro para conceder o seu território para a invasão da fronteira na região que dá acesso mais curto a Kiev.
Confirmando este cenário de uma guerra em todo território, a decorrência será um grande esforço russo para quebrar nacionalmente a resistência dos ucranianos, numa guerra ou instabilidade que pode se estender por longos anos.
Este cenário sanguinolento exigiria a passividade dos países ocidentais que observariam o desproporcional poder de fogo entre os dois exércitos e o grande número de baixas sem interceder de forma efetiva para não virar uma III Guerra Mundial. Este conflito representará uma grande tensão internacional, em especial na Europa, no caso de uma ampliação dos agentes envolvidos nos combates.
Fugir dos cenários de ampliação do conflito seria fundamental.
Hoje, o aspecto mais importante a ser observado são as reações do presidente Putin. Sua frieza e racionalidade conduziram a Rússia para outro patamar de desenvolvimento após as grandes crises da dissolução da União Soviética. Depois de 23 anos no comando da Rússia ele pode estar dando um primeiro passo na redefinição de uma geopolítica do poder na Europa com reflexos para o planeta. Este exercício de poder militar e de hegemonia política não vai deixar os líderes ocidentais da Europa e além-mar dormirem tranquilos por um longo tempo.
Aos mortais resta torcer por passos muito cautelosos dos que estiverem mexendo neste tabuleiro convencional/nuclear.
Enquanto escrevo no início da madrugada do dia 25 no Brasil, o céu de Kiev está iluminado pelos clarões das explosões do ataque russo. Cena assustadora, trágica, triste. Ao amanhecer veremos imagens de incêndios, ruínas, aviões derrubados e corpos.
Setenta e sete anos depois, a barbárie da Segunda Guerra Mundial está de volta na Europa.
"Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem dúvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem".
(Humberto Gessinger, Engenheiros do Hawai).
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