Um filme de horror está sendo exibido em Rio Grande! E será um filme de longuíssima duração.
É um horror com toques surreais. É como se fosse totalmente normal o andamento dos eventos. O silêncio sepulcral das arquibancadas lembra um jogo sem torcidas. Apatia e resiliência mórbida da população: será apenas uma experiência a mais num espírito combalido?
A trilogia macabra avança a passos largos: Unidade de Regaseificação, Usina Termelétrica e Gasoduto.
Os níveis de risco de trabalhar com gás natural liquefeito (GNL - metano) que é comprimido cerca de 600 vezes, transportado, estocado e regaseificado (descomprimido) é complexo.
Transportar metano por gasoduto até a Usina e queimá-lo (produzindo muita poluição) para se obter eletricidade exige muitas operações e manejos rigorosos. A construção de um Gasoduto para alimentar com gás parte do Rio Grande do Sul será outro capítulo que complementará este filme. Ou seja, é tanto gás, que a cidade poderá se denominar "Rio Metano Grande" ou "Cubatão Metano do Sul".
A questão central da reflexão é que o Distrito Industrial foi projetado no final da década de 1960 em local demasiadamente próximo do núcleo urbano. Há 60 anos a discussão ambiental era incipiente mas hoje...
O esquálido Saco da Mangueira separa esta área industrial recheada com produtos químicos (como a amônia) e terminais de combustível. Um "incêndio em nuvem" numa ruptura de um tanque de GNL poderia alcançar até 6 km de distância. Numa distância entre 2 e 3 quilômetros temos uma Refinaria que poderia catalizar os efeitos de um acidente com o gás liquefeito numa área em que vivem dezenas de milhares de pessoas.
O surreal remete a este cenário em que projetos com este nível de periculosidade devem ser executados distantes da área urbana. O manejo do gás normalmente é feito em navios afastados do cais para manter uma distância segura.
Além dos efeitos da poluição, a população terá de trabalhar a variável do medo em viver dentro de uma enorme cúpula de gás metano (liberdade ficcional). O Gasoduto abraçando a cidade e a empurrando em direção ao Terminal de regaseificação nos colocará entre a cruz e a caldeirinha. E a gigantesca Usina Termelétrica emitindo poluentes num raio obscenamente próximo ao núcleo urbano (a partir de 4 km).
Hoje, um cenário urbano exatamente igual a este, seria aprovado em algum país da Europa Ocidental?
O silêncio local será fundamental para atração de outros empreendimentos e diversificação nas fontes poluidoras. Se formos aprovados com louvor neste teste o portal estará totalmente aberto e a plasticidade do nosso silêncio será eterno enquanto a UTE dure.
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