Fotografias: Luiz Henrique Torres. |
Desde 1884 os caminhos de ferro cruzam as paisagens do interior do município do Rio Grande.
No ano que surge a linha Rio Grande a Bagé, a população era de aproximadamente 20 mil pessoas. Um aumento populacional de quase onze vezes até o presente.
O que mudou na paisagem natural nestes quase 140 anos?
Questionamento complexo e intrigante!
Hipoteticamente, pensando a partir da cartografia dos séculos XVIII/XIX e pelo diário de Auguste Saint-Hilaire (1820) poderíamos fazer alguns paralelos entre a cobertura vegetal no presente e cenários fisiográficos e naturais do passado. Não no mesmo lugar exato ou com mesmo volume de vegetação. Ou ainda desconsiderando a pureza de não haver, atualmente, alguma espécie intrusiva acompanhando as espécies nativas. Tendo inúmeras flexibilidades é possível olhar para algumas paisagens naturais e vislumbrar, ficticiamente, um dia qualquer do século XIX no bucólico interior do município do Rio Grande.
Liberemos os sentidos apenas para o movimento do vento na vegetação e o som dos pássaros. A noção de tempo depende do observador e de sua bagagem cultural e psicológica. A espacialidade é construída por elementos materiais que possibilitam, no meio rural, fugas da temporalidade do presente. Diferentemente, a área urbana está repleta de espacialidades pautadas por elementos civilizatórios de concretizações técnicas: arquitetura, meios de transporte, ritualizações culturais etc.
O meio natural, sem intervenções técnicas perceptíveis (um trator, um poste de eletricidade, trilhos de trem etc) se expressa como uma espacialidade atemporal em que o antes e o depois não é decisivo para dar sentido aos cenários.
As plantas, os pássaros, os alagadiços estão no mundo que não necessita da temporalidade para se fazer: os ciclos dos dias e noites, das estações do ano com o frio e o calor é o que gerencia uma existência que não necessita de sentido e que desconhece o tempo.
As fotografias a seguir, são de 2021 e a máquina digital é fruto de um tempo de técnica que possibilitou congelar imagens coloridas. Mas, ignoremos que sejam fotografias do presente e imaginemos que nossos olhos gravaram estas imagens em nossas andanças rurais. Não poderia ser uma imagem lá do ano de 1884? Será que o espaço natural nos permite viajar no tempo?
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