Porto do Rio Grande em 1908

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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

UMA HISTÓRIA DO MAL DOS SÉCULOS VI

 

Assistência aos militares franceses com tuberculose (década de 1910). Biblioteca Nacional da França. 

O esposo Luiz tinha que continuar com sua rotina de trabalho que iniciava as 6h30 horas da manhã. A manutenção da economia familiar dependia deste labor e um grande problema se impunha: o tratamento era todo particular. Na falta de recursos foi necessário fazer empréstimos para comprar as injeções e medicamentos. Mais um fantasma pairava naquela atmosfera nebulosa e permeada pela doença: poder pagar o tratamento e suportá-lo. Infelizmente, os custos afastavam muitas pessoas de ter acesso. Na falta de recursos, as dívidas se somaram e adentraram o ano seguinte, mas, foi possível adquirir os medicamentos, passo a passo, ao longo dos seis meses.

Nos momentos de mal estar muitas ideias passavam pela cabeça de Wali: como peguei esta doença? Fiz algo errado e como cheguei a isto?

Nestas horas, a trajetória de vida pode ser um fator explicativo. É uma doença infecto-contagiosa (propaga-se facilmente por tosse, espirro ou saliva ao falar) e é de evolução crônica (pode demorar alguns anos para surgirem os sintomas). Vai depender da imunidade de cada organismo para evitar a multiplicação da bactéria. As gotículas leves de saliva podem ficar horas no ar em ambientes fechados ou pouco ventilados.

Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose (Rio de Janeiro), 1922. http://www.ccs.saude.gov.br

No caso da Wali, ela começou a se expor a fatores de risco muito cedo. Entre 7 e 8 anos já ajudava nas atividades da casa de seus pais. Havia uma casa comercial chamada de bodega onde se vendia gêneros in natura a granel como farinha de trigo, farinha de milho, feijão, arroz, banha de porco etc. Cigarro de palheiro e tabaco não podia faltar. É claro que a bodega ou venda lotava entre a tardinha e a noite com jogo de baralho, vinho e cachaça. Diversão merecida e viciante após um dia de trabalho. Estava garantida uma cortina de fumaça que emanava dos cigarros e dava um clima noir ao ambiente: alegria das bactérias que poderiam se difundir nas gargalhadas que preenchiam todos os espaços. Ambientes repletos de pessoas barulhentas também fazem a felicidade atual do coronavírus...   

Continua...

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