Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 11 de setembro de 2021

UMA HISTÓRIA DO MAL DOS SÉCULOS (EPÍLOGO)

 

Combate a Tuberculose em Portugal, 1904. Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal. 

A tuberculose era um mal invisível sem declaração pandêmica. O covid é um mal invisível com declaração pandêmica e protocolos...

 Os avanços do saber médico possibilitaram a cura de Wali até o final do ano de 1961. Será que os medos, angústias, apreensões e o horizonte nublado do futuro se tornaram apenas memórias diáfanas a serem lembradas seis décadas depois? 

Fotografias de Wali com os pais Amanda e Henrique em 1958. 

A cura deve ter levado as nuvens opressoras e foi possível respirar, literalmente respirar, mesmo que o cansaço continuasse a acompanhar o corpo esquálido. Era o renascimento numa morte anunciada aos 23 anos. E 60 anos depois ela se lembrou destas memórias ainda nítidas dos anos em que a sucumbência se transformou em renascimento. E seis décadas se passaram com a certeza que queria estar bem para cuidar de sua filha. E cuidou enquanto a natureza permitiu...  

O afastamento do temor da aproximação deve ter levado ao reencontro conjugal após o pesadelo da doença.

Diferente de tantas outras mulheres que perecerem da doença e não tiveram outros filhos, desta vez as coisas foram diferentes. A tuberculose poderia ter tirado a vida e ceifado futuras vidas. Inclusive, poderia ter cerceado que uma nova vida pudesse inclusive escrever sobre a doença... 

Ao silêncio que perdurou em milhões de pessoas que tiveram a doença teria se somado mais uma tentativa de fala convertida em profundo silêncio: não saberíamos desta história! 

Luiz Carlos e Wali (1957). 

As evidências registradas numa certidão de nascimento parecem indicar a confirmação da hipótese do reencontro conjugal: o meu nome está no papel com carimbos e taxas cartoriais. Eu nasci em novembro de 1962! O ciclo da natureza (human nature) começou um novo movimento. 

E em setembro de 2021 estou escrevendo sobre a fala que rompeu o silêncio do "Mal dos Séculos"!


Quadro Ophelia (1851). John Everett Millais. Coleção Tate Britain.  

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