Porto do Rio Grande em 1908

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quarta-feira, 24 de março de 2021

CORONAVÍRUS E A GUERRA DOS MUNDOS

 

H.G. Wells, Guerra dos Mundos, edição francesa, 1906. Artista Henrique  Alvim Corrêa. 


"Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo era atenta e minuciosamente observado por inteligências superiores à do homem e, no entanto, igualmente mortais; que, enquanto os homens se ocupavam de seus vários interesses, eram examinados e estudados, talvez com o mesmo zelo com que alguém munido de um microscópio examina as efêmeras criaturas que fervilham e se multiplicam numa gota d'água. (...) No entanto, através do abismo do espaço, mentes que em relação à nossa são como a nossa em relação às dos animais que perecem, intelectos vastos, frios e insensíveis, lançavam sobre estes olhares invejosos e, lenta e inexoravelmente, traçavam planos contra nós”. Introdução a Guerra dos Mundos.

H.G. Wells publicou em 1897 (mesmo ano do romance Drácula), o livro Guerra dos Mundos. Os invasores do planeta Terra eram marcianos que eram sugadores de sangue, basicamente, "marcianos-vampiros".

O perigo veio do espaço sideral! Os invasores venceram os terráqueos mas foram mortos por microorganismos (no caso bactérias) que os infectaram, mataram e salvaram a combalida humanidade...

O grande temor no final do século XIX era uma invasão de alienígenas.

Porém, para nos atacar no século XXI, outros organismos nos observaram “atenta e minuciosamente”: os coronavírus.

Estes vírus espionaram a ação humana na aniquilação de ecossistemas para caçar animais silvestres de valor comercial e manter o canibalismo humano. Infectaram e acompanharam a migração de morcegos para longe de seus territórios naturais. Se misturaram aos humanos nas grandes feiras de centros urbanos buscando aperfeiçoar cepas com maior potencial de invasão celular.

Observaram nosso comportamento frívolo de ignorar alertas de perigo iminente. Passaram a conhecer o psique humano pautado por diferenças culturais e estruturas políticas diferenciadas. Reconheceram a egolatria, a arrogância e a centralidade umbiguista de alguns. E desfecharam o ataque...

Diferente do livro de H. G. Wells os microscópicos invasores que promoveram a pandemia -e não os humanos- estão vencendo a guerra dos mundos.
H.G. Wells, Guerra dos Mundos, edição belga, 1906. Artista Henrique  Alvim Corrêa.

Ou será que os humanos é que são os invasores dos ecossistemas e o vírus está apenas contra-atacando e chegando a um resultado semelhante ao epílogo do livro Guerra dos Mundos? Nesta interpretação, os terráqueos estão em sintonia com os invasores marcianos que buscaram conquistar, dominar e aniquilar os habitantes do planeta. Somos invasores que foram invadidos? 

A pandemia exige um repensar da relação humanidade-natureza. A guerra que destrói os ecossistemas e que subjuga as espécies à condição de vampirizados pode produzir monstros cada vez mais letais à presença humana no planeta. Os invasores não estão lá fora. Estão dentro de nós... Literalmente, estão duplamente dentro de nós... 

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