Selo em homenagem a Carlos Drummond de Andrade (1995). |
PRAZER
FILATÉLICO
“Colecione selos e viaje neles
por Luxemburgos, Índias, Quênia-Ugandas.
Com Pedr'Alvares Cabral e Wandenkolk
aprenda História do Brasil. Colecione.
Mas sem dinheiro Devaste os envelopes da família.
Remexa as gavetas.
Há barbosas efígies imperiais à sua espera.
Mortiças cartas guardam peças raras.
Tudo vasculhe. Um dia
arregalado à sua frente há de luzir
em arabescado fundo negro
o diamante, o sonho, a maravilha
chamada olho-de-boi 60.
Troque. Vá trocando, Passe a perna,
se possível. Senão, seja enganado
mas acrescente sua coleção
de postas magiares, moçambiques,
osterreiches, japões, e seu prestígio
há de aumentar: o baita
colecionador da rua principal.
E brigue, boca e braço,
ao lhe negarem esta condição.
Até que chegue o tédio de possuir,
a tentação do fósforo e do vento
o gosto de perder a coleção
para outra vez, daqui a um mês,
recomeçar, humílimo, menor
colecionador da rua principal”.
(Carlos Drummond de Andrade, 1973)
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