José de Alencar. O Guarani. São Paulo: Ática, capa flexível, color, 25,8 x18,8 cm, p. 98, 2007. Roteiro e desenhos: Luiz Gê; Ivan Jaf: adaptação e roteiro.
O Guarani foi escrito por José de Alencar e foi publicado no formato de folhetim no ano de 1857. Quando publicado em formato de livro O Guarani se tornou o primeiro grande romance brasileiro.
A obra se insere no esforço literário em construir uma identidade para os brasileiros distinta da formação lusitana colonialista. A referência étnica e cultural buscada por José de Alencar é o índio que foi associado a honra, lealdade e amor a terra (telurismo). O índio Peri (um Goitacá que não é um Guarani!) expressa seu amor por Cecília ou Ceci (filha de um grande proprietário português e mandante local), buscando protegê-la e dedicando sua própria vida para mantê-la em segurança. Essa relação amorosa entre Peri e Ceci enfatiza a construção do homem brasileiro a partir da miscigenação entre índios e brancos.
O Guarani é um romance histórico, pois, recorreu a documentos e personagens reais (D. Antônio de Mariz) para construir sua trama. Alencar, a partir de sua imaginação, direcionou os personagens para o ódio e também para a afetividade, buscando a interação do leitor com o tema do indigenismo.
O espaço é a Mata Atlântica do interior do Rio de Janeiro (Rio Paraíba e afluentes) e o ano é 1604 durante a União Ibérica em que as fronteiras entre Portugal e Espanha desaparecem na América. O Tratado de Tordesilhas perde o seu efeito diplomático e o rei unificador é o espanhol Filipe II (1580-1598) seguido de Filipe III (1598-1621). Na construção do cenário em que os eventos transcorrem é muito marcante o recurso a um Brasil que vive as regras de honra (suserania e vassalagem) da Europa Medieval.
A HQ busca captar este Brasil Colonial que dava os seus primeiros passos na formação de senhorios ligados a terra, a busca de riquezas minerais, a escravidão de índios e a defesa do catolicismo. Personagens decrépitos e honrados desfilam na pena de José de Alencar, numa fronteira brutalizada em que a morte é uma moeda corrente.
O índio Peri e sua amada Cecília traduzem a expectativa de nascimento de outro projeto civilizatório: ela afirma que se sente filha da terra brasileira e que se sente forte para ir viver na floresta e longe da sociedade europeia. Aí reside o nascimento do povo brasileiro na visão do romantismo indigenista de meados do século XIX.
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