Um longo tempo já passou e ainda estamos engatinhando na superação da pandemia do Coronavírus e suas ramificações. Já são cinco meses da declaração de pandemia pela OMS e os avanços foram poucos na perspectiva real de erradicação. A vacina poderá mudar tudo isto mas no momento ela é uma expectativa e não um fato. Neste agosto, mês do desgosto, estamos chegando aos piores momentos, até o momento, da ação do vírus em Rio Grande. https://www.paho.org/bra/images/covid19-folhainformativa-1000px-shutterstock-Corona-Borealis-Studio.jpg
Tinha uma noção de pandemia fruto das minhas pesquisas históricas sobre a ação do Cólera em 1855 e da Gripe Espanhola em 1918. A ação incisiva da doença numa localidade provocava o desespero e a desestruturação das atividades produtivas provocando a ruptura radical do cotidiano: eram muitos casos, muitas mortes e o período de ação do vibrião colérico ou do vírus gripal era de 30-45 dias. Devastação intensa, porém, superação breve. Alguns casos dispersos voltam a ocorrer nos meses seguintes, mas, não repetindo o processo "agudo" vivenciado. A sensação é de que se havia passado a "jornada tenebrosa". Vou dar um exemplo: a gripe espanhola em Rio Grande provou cerca de 600 mortos e 22 mil contaminados (os jornais relatavam que pelo menos a metade da população ficou doente). Ou seja, em pouco mais de um mês deixou convalescendo metade dos 44 mil habitantes naquele ano de 1918. Faleceram cerca de 600 pessoas ou 1,4% da população. O cólera foi muita mais letal: matou cerca de 700 pessoas ou quase 6% do total da população.
Se o coronavírus tivesse entrado em Rio Grande com a performance de como vírus da Gripe (H1N1) se comportou aqui em 1918, hoje, teríamos 110 mil contaminados e cerca de 3.000 mil mortos. Alerta: no tempo da Gripe não havia qualquer meio eficiente de combate ao vírus e as bactérias que provocavam a pneumonia (que levava a morte). Nem vacinas, nem antibióticos, nem respiradouros, somente a resistência do próprio organismo e o fato dele já ter tido contato com o vírus da Gripe Russa de 1889-1890 (desenvolvendo imunidade parcial). Portanto, o saber médico de cada época deve ser levado em total consideração para não se fazer comparações sobre virulência e letalidade de forma leviana: a Gripe Espanhola matou entre 20 e 60 milhões de pessoas, por não haver um arsenal farmacológico e hospitalar como temos no presente.
Porém, não há como não considerar que o coronavírus é muito diferente!
A pandemia atual é mais complacente em termos de mortalidade e mais pacienciosa na contaminação: ela vai matar muito, devastar as economias, mas, isto se faz num período muito mais longo de tempo do que outras pandemias. Psiquicamente, ela exige uma paciência redobrada e parece testar os limites da sanidade e dos cuidados higiênicos das pessoas. Ela dá tempo para emergir os hábitos culturais de cuidados pessoais e práticas coletivas, ou, a ausência destes referenciais.
Este vírus é muito perigoso e ainda pouco conhecido em seus efeitos colaterais e em suas reinfecções. Culturalmente, ele é muito perigoso ao matar pouco os mais jovens e matar com eficiência acima dos 50 anos. A Gripe Espanhola matava muito as crianças e os jovens até os 28 anos, fazendo com que o temor fosse coletivo. Hoje trabalhamos com a noção de que o vírus mata os mais velhos e é quase inócuo aos mais jovens: parabéns ao vírus por esta auto-construção narrativa de um morbus brando para os eleitos da sobrevivência. Isto facilita o desprezo com a possível contaminação e propicia um exército de assintomáticos que podem transmitir de forma sustentada o vírus aos demais familiares (obviamente, descartando a maioria dos jovens que não se comporta desta forma). Inúmeros comportamentos estão aflorando de forma mais visceral de inclusive associar máscaras de proteção com o cerceamento da liberdade individual. São movimentos cada vez mais fortes na Europa que sintetizam a fragilização e decadência do Ocidente frente a organização coletiva de grande parte do Oriente. O coronavírus é um grande teste para observar quem está preparado para sobreviver no século XXI. O planeta está em mutação rápida com o aquecimento global atuante que vai exigir novas posturas pessoais e coletivas de consumo. Outras pandemias acenam potencialmente para as próximas décadas frente a alteração dos ecossistemas naturais. Economias em ascensão e outras em decadência farão surgir conflitos geopolíticos graves e também internalidades fatricidas.
Me desculpem todos aqueles que as condições concretas de vida não permitem um distanciamento social, pois estes comentários não se voltam para vocês. O trabalho exige a exposição e torço para que vocês se cuidem utilizando máscara e tomando cuidados de higiene para evitarem a contaminação e a transmissão. Que consigam superar com saúde este período perigoso.
O que muito se denuncia são rupturas de distanciamento social, a exposição desnecessária ou o descaso completo com cuidados individuais ou coletivos. Muitas vezes a negação da existência de qualquer perigo circulante se faz presente.
Concretamente: o vírus existe; ele é perigoso; ele é contagioso; ele é transmissível; ele exige o uso de máscara de proteção; é necessário um distanciamento de dois metros entre as pessoas; ele exige a lavagem frequente das mãos para que não se toque nos olhos, nariz e boca. O vírus adora locais fechados onde sua carga viral se potencializa e também adora que as pessoas falem alto para projetá-lo a uma distância que garanta a inalação pela vítima. O "efeito aerosol" não é uma ficção científica.
Concretamente: cuidem-se, não exponham-se desnecessariamente, pois, em Rio Grande, ainda não chegamos ao platô da pandemia. Qual a base desta afirmação? Oficialmente, temos mantido cerca de 30-40 novos contaminados por dia. Como a testagem é baixa, podemos considerar que cerca de 200-250 pessoas estão se contaminando todos os dias e que vão transmitir para mais um número expressivo de pessoas o vírus. Quanto mais vírus circulando na cidade, maior a possibilidade de contaminação (na dependência da carga viral recebida).
O período exige cuidado, pois, a circulação do coronavírus está alta na cidade. Máscara, álcool gel, distanciamentos e cuidado com a vida que é o bem mais preciso a ser preservado!
Quem deseja mais informações sobre cuidados a partir de matérias competentes sobre o coronavírus, na perspectiva de escrita de um médico, pode ser obtidas neste endereço:
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