Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

terça-feira, 14 de julho de 2020

Médico da Peste

Paul Fürst, Der Doctor Schnabel von Rom (1656). https://books.google.co.uk/books?id=3DVH8dVGkX0C&pg=PA197 2. Superstock: Dr. Schnabel of Rome, a Plague Doctor in 1656 Paul Fuerst Copper engraving (Stock Photo 1443-1112)

A imagem acima remete a uma cena no mínimo patética: é a atuação do médico da peste que utilizava uma máscara com um bico em cujo interior eram colocadas ervas que protegiam contra os miasmas emanados dos corpos infectados pela peste bubônica. Era a teoria dos miasmas em que o ar corrompido era respirado e provocava as doenças - as ervas impediriam a contaminação. De fato, a doença era transmitida na picada de pulgas infectadas pela bactéria Yersinia pestis e também pelo contato com os infectados. 

Esta imagem de 1656 retrata a atuação de um destes médicos (que normalmente não eram formados em Medicina) mas era uma forma de garantir um salário em períodos de peste. Um nome sempre lembrado quando este assunto é tratado é o apotecário (farmacêutico) francês Nostradamus que também teve experiência no combate a peste.   

A pergunta que fica: esta roupa e a máscara era segura? Para a peste bubônica, possivelmente ela não garantia a segurança almejada. Seria necessário um rigoroso traje de isolamento que garantisse o afastamento de pulgas e secreções dos doentes, inclusive por via aérea.  

A máscara de bico seria segura contra o coronavírus? Não, ela apresenta furos para garantir a respiração e seria uma porta de entrada para o vírus. 

O problema é que as contaminações pelo ar são as mais difíceis de serem evitadas. É preciso redobrar, quando possível, o isolamento social, e utilizar a máscara de proteção corretamente e com mais de uma camada de tecido! 

Isto não significa, fechar tudo e quebrar financeiramente a cidade, mas sim, distanciamento controlado. Usar rigorosamente máscara para não infectar e não ser infectado! Muitos estão brincando de roleta russa sem saber o que realmente pode provocar este vírus: a letalidade média é de cerca de 1% (que já é absurda frente as centenas de milhões que vão se infectar) mas, a dúvida maior são as sequelas transitórias e permanentes. Pessoas que terão órgãos vitais comprometidos após sua "cura".  

Para termos uma ideia da gravidade da situação, pesquisa  feita pela Ipsos, concluiu os médicos  acreditam que 64% da população brasileira não está consciente dos riscos da pandemia.

Percebemos que em nossa cidade a situação não é tranquila. O número de casos tem aumentado e de mortes também.  Lamentavelmente, esta divisão estadual em regiões em que fomos agregados a Pelotas, não corresponde as especificidades da cidade do Rio Grande. Somos uma cidade portuária que recebe o vírus por embarcações e por via terrestre, especialmente, por meio dos milhares de caminhões que chegam ao Porto diariamente. A vulnerabilidade é muito grande e a testagem ou barreiras sanitárias ainda é uma ficção. 

Historicamente, o cólera e a gripe espanhola, entraram no Rio Grande do Sul pelo Porto do Rio Grande. E nesta época não havia modal terrestre para complicar ainda mais a difusão das patologias. A vulnerabilidade de um espaço portuário, em qualquer parte do mundo, é uma realidade. 

Soma-se a isso, a aberração que tem sido vista das aglomerações propositais ou fruto da distração das pessoas pela falta de experiência em lidar com uma pandemia. O fato é que o distanciamento social ou os cuidados mínimos com o uso de máscara, não tem chegado a 50% na cidade. Na área central, devido a exigência para acessar o comércio chega a pelo menos 90%. Ao voltar para os bairros, a proteção vai parar no bolso e o uso da máscara não deve superar os 30% ou 40%.  

Em Rio Grande está começando a se desenhar o pior momento desde março, com a primeira onda pandêmica começando a nos cercar. É preciso deter a marcha da contaminação para ganhar tempo na expectativa de que medicamentos surjam e a vacina seja uma realidade. 
2020 é um ano de provação. O ano de provar que podemos crescer, mesmo que as duras penas: crescer em maturidade coletiva.

Apenas para descontrair, pois o último reduto está na sanidade lúdica.  Para se proteger deste vírus só fazendo como Boris Karloff no filme A Múmia de 1932. Se a máscara facial é pouco, que tal uma bandagem no padrão Antigo Egito? Mesmo com tanta bandagem,  o ator parece muito assustado...
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário