Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 18 de julho de 2020

JEAN LEON PALLIÈRE E O PAMPA


     Jean Leon Pallière  Grandjean Ferreira (Rio de Janeiro, RJ 1823 - Paris, França 1887) foi litógrafo, aquarelista, decorador e professor. Pallière poderia ter se tornado o maior pintor brasileiro de seu tempo, porém “ciúmes e aleivosias” o afastariam e acabariam por motivá-lo a se estabelecer em Buenos Aires, na metade dos anos 1850. Felizmente, tivemos Debret, Rugendas e outros artistas viajantes, mas, provoca curiosidade imaginar como ele retrataria a população rural brasileira, inclusive, o gaúcho.
Exterior do rancho. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. 
     O seu legado para o pampa argentino, uruguaio e regiões do Chile é inquestionável. Ele é um leitor visual do pampa que o atrai e que ele percorre. 

    A fascinação de Pallière  por esta natureza que o atrai para ser convertida em traços perenes o coloca como parte integrante da construção dos cenários e da lapidação de personagens. O gaucho é galanteador e sedutor. O rancho é pobre, mas aprazível e sensual. A pulperia é um espaço de sociabilidade e diversão. As cenas campestres são bucólicas e propícias ao ócio. 

   Pallière  retrata as cenas de forma hedonista, aproximando e dando familiaridade e leveza aos cenários e personagens. A pobreza material e a crueldade do meio (como nos saladeros) são amenizados no detalhismo e suavidade dos traços. Grande parte das atividades estão voltadas as representações das sociabilidades, bailes, galanteios, da admirável improdutividade dos personagens que compõem o meio rural. 

    Nas décadas seguintes, o espaço para estas práticas será gradualmente cerceado e o peão fará parte do amplo cercamento dos campos e da mão de obra. Os cenários idílicos farão parte de recordações iconográficas e de reconstruções literárias e identitárias de um passado já morto. Rememorá-lo e revisitá-lo através da ritualização, como nos Centros de Tradições Gaúchas (no Brasil), será uma maneira de amortecer a realidade do “gaúcho a pé”, enquanto conceito fundamental para entender a descapitalização do homem do campo e a sua sujeição a sazonalidade produtiva que o conduziu ao êxodo rural e a pobreza nas periferias das cidades industriais. 

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