Jean Leon Pallière Grandjean
Ferreira (Rio de Janeiro, RJ 1823 - Paris, França 1887) foi litógrafo,
aquarelista, decorador e professor. Pallière poderia ter se tornado o maior pintor brasileiro de seu tempo,
porém “ciúmes e aleivosias” o afastariam e acabariam por motivá-lo a se
estabelecer em Buenos Aires, na metade dos anos 1850. Felizmente, tivemos Debret, Rugendas e outros artistas viajantes, mas, provoca curiosidade imaginar como ele retrataria a população rural brasileira, inclusive, o gaúcho.
Exterior do rancho. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense. |
O seu legado para o pampa argentino, uruguaio e regiões do Chile é inquestionável. Ele é um leitor visual do pampa que o atrai e que ele percorre.
A fascinação de Pallière por esta natureza que o atrai para ser
convertida em traços perenes o coloca como parte integrante da construção dos
cenários e da lapidação de personagens. O gaucho é galanteador e sedutor. O
rancho é pobre, mas aprazível e sensual. A pulperia é um espaço de
sociabilidade e diversão. As cenas campestres são bucólicas e propícias ao
ócio.
Pallière retrata as cenas de forma
hedonista, aproximando e dando familiaridade e leveza aos cenários e
personagens. A pobreza material e a crueldade do meio (como nos saladeros) são
amenizados no detalhismo e suavidade dos traços. Grande parte das atividades
estão voltadas as representações das sociabilidades, bailes, galanteios, da
admirável improdutividade dos personagens que compõem o meio rural.
Nas décadas
seguintes, o espaço para estas práticas será gradualmente cerceado e o peão
fará parte do amplo cercamento dos campos e da mão de obra. Os cenários
idílicos farão parte de recordações iconográficas e de reconstruções literárias
e identitárias de um passado já morto. Rememorá-lo e revisitá-lo através da
ritualização, como nos Centros de Tradições Gaúchas (no Brasil), será uma
maneira de amortecer a realidade do “gaúcho a pé”, enquanto conceito fundamental
para entender a descapitalização do homem do campo e a sua sujeição a
sazonalidade produtiva que o conduziu ao êxodo rural e a pobreza nas periferias
das cidades industriais.
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