Um dos jornais caricatos clássicos que permite analisar as amplas possibilidades da linguagem da caricatura foi A Vida Fluminense.
Esta edição do dia 25 de janeiro de 1868 encena uma reivindicação ácida de "vacas" que não aceitavam que o seu leite fosse transformado em "leite condensado". Como obtive a imagem fora de contexto não sei quem, ou a que grupo, se busca representar com estas "vacas". Afinal, quase sempre, a linguagem caricata se apropria de personagens, animais, símbolos etc para expressar uma crítica a pessoas ou instituições.
Em relação ao leite condensado ele já existia desde 1856 e foi descoberto pelo americano Gail Borden. O produto tomou impulso na Suiça em 1867 com a criação da Anglo Swiss Condensed Milk. Pouco depois surge a também Suiça Nestlé. Em 1871 o produto começou a ser comercializado no Brasil, conforme anúncio publicado no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Província do Rio de Janeiro.
A Vida Fluminense, publicada em 1868, ficou no meio do caminho em sua sátira: não havia tecnologia atuante para produzir o leite condensado no Brasil e não havia refrigeração para exportar por via marítima o leite in natura.
A primeira fábrica da Nestlé no Brasil só abriu em 1921. Talvez aí, frente a demanda crescente de leite para esta finalidade, as vacas teriam "todo o direito de estarem indignadas".
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