Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 29 de junho de 2020

NOVIDADE - CENTENÁRIO DA GRIPE ESPANHOLA


   O livro "Centenário da Gripe Espanhola: historiografia e história local" é um livro premonição! 

    Terminei o livro com este texto: "A contemporaneidade do tema Gripe Espanhola deve ser ressaltada: afinal, não são apenas eventos congelados no passado e que se tornaram objetos de estudo mas poderão se converter em experiências latentes que ocorrerão num futuro impreciso" (outubro de 2018).

    Acredito que quem pesquisa doenças, epidemias ou saúde pública, acaba em algum momento imaginando cenários futuros. Afinal, olhar para o passado é constatar da dinâmica da atuação dos organismos causadores de doenças, em especial, das epidemias e pandemias.  

    De fato, não é premonição, mas, reconhecer que em algum momento irá acontecer uma pandemia. 

   Quanto mais avança a globalização de mercados e o encurtamento das distâncias e contatos entre sociedades, cada vez mais rápido se criam às condições satisfatórias e a celeridade para a transmissão de organismos que vivem em animais e insetos que tiveram seus ambientes naturais invadidos. O comprometimento de ecossistemas, as mudanças climáticas e as práticas culturais de consumo de animais exóticos, amplifica a possibilidade de ocorrências epidêmicas ou pandêmicas. Como foi o caso da China em nosso drama atual. 

   Constatei esta hipótese, quando escrevi um livro sobre o cólera em Rio Grande (1855). A historiografia consultada remetia estes processos epidêmicos do cólera às rotas comerciais ligando a Índia com mercados ocidentais e cujos contatos se intensificaram desde o início do século XIX.

    O cólera vive a milhares de anos, de forma endêmica, no Rio Ganges, mas se espalhou para fora da Ásia pelos navios que encurtaram as distâncias e ampliaram a difusão de doenças na Europa e nas Américas. E escrevo sobre um tempo em que uma viagem pelo Oceano era feita ao longo de um, dois ou três meses. Imaginem, na "hiperatividade turística" do presente, em que um avião percorre mais de dez-quinze mil quilômetros por dia transportando passageiros, vírus, bactérias etc. No final do século XIX e início do século XX, tivemos surtos de peste bubônica no Brasil. Esta peste peregrinou pela China (1894), Índia (1896) e estava em Portugal em 1899. No mesmo ano desembarcou no Porto de Santos e foi se espalhando pelo Brasil. Hoje, um surto de peste bubônica poderia em 24 horas desembarcar  em qualquer aeroporto do mundo carregado nas roupas ou nas malas de turistas através de um pequeno inseto: a pulga.      

    É apenas um exemplo de que a noção de espaço mudou radicalmente com as viagens aéreas e possibilita uma celeridade assustadora para a difusão da transmissão de doenças da forma mais fácil e competente: através dos próprios seres humanos que foram contaminados por algum agente transmissor. 

    Infelizmente, uma pandemia está se consolidando antes de dois anos que terminei o livro sobre a Gripe. Hoje, preferia, infinitamente, enfrentar "pulgas bubônicas" do que "coronas invisíveis" que podem estar em qualquer lugar e que se transmitem da forma mais eficiente possível: pelo ar: são as doenças infecto- contagiosas. Infecta uma vítima, superpovoa com vírus e promove a irritação das vias aéreas superiores levando a um espirro ou tosse que garante a contaminação das próximas vítimas. O vírus continua este processo indefinidamente ou até ser barrado por fatores naturais ou pela inteligência humana: higiene das mãos, uso de máscaras e afastamento social são formas de reduzir a transmissão. O desenvolvimento de vacinas é outro momento para contra-atacar, só que sempre chega depois de muito estrago ter sido feito. 

     Porém, desde a declaração de pandemia pela OMS no dia 11 de março, considero que o cenário continua nebuloso e ainda pouco se conhece deste vírus, especialmente, no day after. Estão surgindo muitos estudos de que somente com o passar dos anos se conhecerá a dimensão dos danos causados no organismo: no pulmão, rins, fígado, coração, cérebro etc. É muito cedo para entender sequelas graves que pode deixar como herança macabra o promotor da "tempestade de citosinas" que ataca qualquer ponto fraco que encontra no organismo da vítima. Poderá, como um vírus da herpes, se estabelecer no corpo e retornar em momentos de queda da imunidade? Ou seja, a doença pode se repetir várias vezes na mesma pessoa? 

    O interessante é que estamos vivendo a medicina mais avançada de toda a história da humanidade e continuamos relativamente ignorantes em relação ao poderio do Covid-19. O bom senso manda que quando há muitas perguntas e poucas respostas, se deve redobrar os cuidados para não ocorrer a contaminação e promover a difusão de um organismo tão perigoso e ainda desconhecido. É preciso respeitar um inimigo que está vencendo os combates, quebrando as economias mundiais e só se consegue meios paliativos (UTIs) para impedir, em parte, os óbitos. 

     Estou escrevendo de forma indignada, pois, escutei (muito longe...) uma pessoa dizer que não mudou sua rotina, sai todos os dias, não usa máscara e que tudo é invenção da mídia e dos governos que querem desviar dinheiro público.Escutei de outra que "baladas clandestinas" estão rolando direto, e está só na festa! Quando se junta um vírus perigoso com a ignorância crônica, o cenário pode se tornar assustador. Hoje, o Brasil chegou a 58 mil mortos em pouco mais de três meses, ou seja, o mesmo número de soldados americanos que morreram na Guerra do Vietnã ao longo de 20 anos. Exatamente, 58 mil soldados americanos morreram! Quantas Guerras do Vietnã se quer ter no Brasil? 

    Voltando ao tema ameno: o livro do Centenário da Gripe. A primeira versão deste livro foi escrito quando da badalada "quase" eclosão epidêmica da Gripe Aviária. Seria a famosa "big one" (grande pandemia) que deixou em alerta máximo a Organização Mundial de Saúde. Se considerava que se o vírus da Gripe Aviária sofresse uma mutação e fosse transmitido de pessoa para pessoa (e não de aves para pessoas) ela se tornaria a "big one" devido a letalidade na casa de 60%. Nesse clima "otimista" escrevi aquele livro e um pouco mais aliviado escrevi este em 2018. Constato que não tinha tantos motivos para otimismo... 

   Não recomendo a ninguém, mas se alguém quiser ler é só clicar no canto direito da página (na capa do livro) ou no link abaixo:


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