Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 1 de maio de 2020

GREVE NA FÁBRICA RHEINGANTZ


      No dia 2 de julho de 1890 ocorreu uma greve na Fábrica Rheingantz. Em janeiro ocorreu um movimento grevista dos tipógrafos de Pelotas seguido dos operários da Rheingantz. Portanto, movimentos grevistas de operários no Rio Grande do Sul tiveram início a 130 anos. 

"Das greves de que se tem mais notícias - coincidentemente as primeiras, ambas em 1890: tipógrafos em Pelotas e operários da Rheingantz em Rio Grande - surpreende o grau de organização do movimento. Ambas foram precedidas de articulações e reuniões que definiram as reivindicações, as quais foram encaminhadas através de comissões aos patrões; ambas apresentaram comissão de negociação - sendo que os grevistas da Rheingantz possuíam comissão de vigilância para evitar eventuais fura-greves. A abrangência destas greves foi invejável. O movimento da Rheingantz parou totalmente a fábrica, incluindo mulheres e crianças, e durou uma semana. Eles se articularam de forma a visitar redações de jornais, buscando apoio e intermediação na negociação, conseguindo o apoio da opinião pública" (Beatriz Ana Loner. Operários e participação no início da República. Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, vol. XXII, n. 2, 1996).

      Os operários, que se sentiam humilhados e afrontados, denunciavam e pediam o afastamento de um "regulo britânico" que era o Inspetor da Fábrica. Porém, não é apenas a "arrogância brutal" de um administrador com estilo truculento "inglês" (que de fato era "austríaco", Sr. Pietchman) que está em jogo. 

      Neste ano de 1890 está ocorrendo um grave confronto diplomático entre Portugal e a Inglaterra, cuja essência, era a imposição britânica de que os portugueses deveriam abandonar suas posses na África (em Angola e Moçambique). A partilha das África entre as potências europeias se intensificava e Portugal estava sendo excluída. Em matérias do ano de 1890, o jornal Bisturi, defendeu posições ligadas a um nacionalismo lusitano que ecoou na comunidade luso-brasileira do Rio Grande. Assim como em Portugal, ocorreram críticas e protestos contra a presença ou atuação inglesa. Daí, as manifestações contra a arrogância passam a ser associadas com práticas britânicas. 

     Nesta direção, mesmo considerando que os excessos deste Diretor poderia ter levado ao movimento paredista, o contexto era plenamente propício para inserir a Inglaterra na associação entre "arrogância brutal" com os operários e "a violência que está sendo vítima Portugal".      


Bisturi, 06 de julho de 1890. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.  

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