Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 15 de março de 2020

PRIMÓRDIOS DA TELEFONIA NO RIO GRANDE DO SUL

Cia. Telefônica Rio-Grandense: 1) Vista do frontispício, Porto Alegre; 2) A sede em Pelotas; 3) Centro das ligações, Pelotas; 4) Centro das ligações, Porto Alegre. Acervo: “Impressões do Brazil no Século XX”. Londres:Lloyd's Greater Britain Publishing Company, 1913.


         A história da telefonia no Rio Grande do Sul remete a década de 1880. Rio Grande acompanhou este processo desde os primórdios e parte desta história foi relatada no livro “Impressões do Brazil no Século XX” (1913).
     “Companhia Telefônica Rio-Grandense - O serviço de comunicações telefônicas no estado do Rio Grande do Sul foi iniciado pela Empresa Industrial Construtora do Rio Grande do Sul, proprietária dos centros telefônicos estabelecidos nas cidades de Pelotas, Rio Grande e Porto Alegre, e bem assim dos privilégios concedidos pelas extintas Câmaras Municipais das três cidades, constantes dos contratos que adquiriu. O da cidade de Porto Alegre é datado de 8 de março de 1884 e o da do Rio Grande de 27 de maio de 1885, ambos por 15 anos; e o da de Pelotas é datado de 13 de outubro de 1886, por dez anos. Todos esses privilégios foram aprovados pela Assembleia Legislativa da antiga província.
         Para comprar o acervo daquela empresa, organizou-se em Pelotas, a 24 de maio de 1895, uma sociedade anônima de responsabilidade limitada, sob a denominação de Empresa União Telefônica, com o capital de Rs. 500:000$000, que foi, mais tarde, elevado a Rs. 600:000$000. Esta sociedade continuou explorando, sem concorrentes, os serviços de sua antecessora nas três cidades acima mencionadas, até que, tendo já há muito expirado o prazo do privilégio que possuía o coronel Juan Ganzo Fernandez, proprietário de diversos centros telefônicos em várias localidades do estado, obteve em 1906, da Intendência Municipal de Pelotas e da de Rio Grande, concessões para instalar centros telefônicos nessas duas localidades.
         Estabelecidos tais centros e após um ano de funcionamento, solicitou a Sociedade concessão para instalar um novo centro na capital do estado. Havendo o coronel Antônio Ganzo Fernandez, para continuação desse e outros negócios, organizado a firma Ganzo, Durruty & Cia., iniciou, em 1908, as obras do centro telefônico de Porto Alegre, para as quais, no ano anterior, obtivera concessão do governo desse município.
       Em maio desse ano, incorporou-se à mesma firma a Companhia Telefônica Rio-Grandense, que em 15 do mês seguinte ficou definitivamente instalada, e tomou a si todos os negócios da seção de telefones pertencentes à Ganzo, Durruty & Cia. O capital da nova companhia, em seu início, era de Rs.1.100:000$000, quantia que, em virtude de resolução da assembleia geral realizada em 15 de abril do corrente ano, foi aumentada para Rs. 1.300:000$000.
       Para fazer face às despesas resultantes do acréscimo de suas instalações primitivas, contraiu ela um empréstimo de Rs. 500:000$000, em obrigações ao portador, ao juro de 8%. Tendo posteriormente feito aquisição da Empresa União Telefônica, emitiu um segundo empréstimo de Rs. 800:000$000 nas condições do precedente.
         Com a realização dessa compra, está a Companhia Telefônica Rio-Grandense unificando o serviço nas localidades em que existem dois centros telefônicos, de forma que, presentemente (em 1913), estão funcionando os seguintes, de acordo com diversos privilégios e concessões municipais: Porto Alegre, Pedras Bancas, Barra do Ribeiro, Itapoã, Belém, Tristeza, Canoas, Pelotas, Piratini, Monte Bonito, Cascata, Capão do Leão, Rio Grande, Povo Novo, Quinta, Ilha dos Marinheiros, Ilha do Leonídio, Cassino, São Leopoldo, Retiro, Nova Hamburgo, Santa Cruz, Vila Tereza, Rio Pardinho, Ferraz, São João do Montenegro, São Sebastião do Caí e São Lourenço.
           Também de conformidade com as concessões que lhe foram dadas pelo governo do estado do Rio Grande do Sul, fez a companhia construir e estão funcionando as seguintes linhas intermunicipais: Porto Alegre e São Leopoldo, 6 linhas, 33 quilômetros cada uma; Porto Alegre a Canoas, 2 linhas, 14 quilômetros cada uma; São Leopoldo a Caí e Montenegro, 2 linhas, 44 quilômetros cada uma; Pelotas a Rio Grande, 10 linhas, 65 quilômetros cada uma; Pelotas a Piratini, 1 linha, 63 quilômetros; Pelotas a São Lourenço, 5 linhas, 90 quilômetros cada uma; Santa Cruz a Venâncio Aires, 1 linha, 40 quilômetros; Santa Cruz a Poço do Sobrado, 1 linha, 20 quilômetros; Pelotas a Capão do Leão, 4 linhas, 17 quilômetros cada uma.
            O centro de Porto Alegre, a subestação de Navegantes, nesta cidade, e os de Pelotas, Rio Grande, São Sebastião e Monte Bonito estão instalados em prédios da companhia, tendo sido o primeiro deles especialmente construído para esse fim e os demais convenientemente adaptados à natureza de tal serviço.
          Na central que a companhia possui em Porto Alegre, funciona uma mesa múltipla, Siemens & Halske, de bateria central, com capacidade para 10.000 assinantes. Existe um distribuidor primário, de ferro, também para 10.000 subscritores; 2 baterias de 12 acumuladores cada uma; e diversos dínamos, funcionando junto a motores, para carregar baterias e produção de luz.
          Desta central, partem 25 cabos subterrâneos, os quais, por sua vez, na área da cidade em que a população é mais densa e em lugares mais adequados, se subdividem em outros, numa extensão de 42 quilômetros.
         Na central de Pelotas, funciona uma mesa Siemens & Halske, a indutor múltiplo, de linhas duplas, para 1.600 subscritores e com capacidade para 3.000 linhas; na do Rio Grande, uma mesa Siemens & Halske, a indutor múltiplo, de linhas duplas, para 1.200 subscritores, com capacidade para 2.000 linhas; nas de São Lourenço, Santa Cruz, Montenegro, São Leopoldo, Ilha dos Marinheiros e Nova Hamburgo, mesas Standart, de 100 linhas duplas; nas do Capão do Leão, Monte Bonito e Povo Novo, mesas Standart, de 50 linhas; nas de Quinta e Cassino, mesas de 30 linhas; nas de Tristeza, Belém e Canoas, mesas de 25 linhas; nas de Vila Tereza e Barra do Ribeiro, comutadores de 20 linhas; nas de Itapoã e Cascata, comutadores de 12 linhas; nas de Rio Pardinho e Ferraz, comutadores de 10 linhas.
         A companhia, em sua maior parte, usa os aparelhos J. Berliner, de Hanover; L. M. Ericson & Co., de Estocolmo; Western Electric Co. e Kellog Switchboard & Supply Co., de Chicago”.

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