Capa da edição brasileira. |
Edição francesa. |
Albert Camus (1913-1960) escreveu “O Estrangeiro” em 1942, romance que se insere na teoria do absurdo: as coisas não tem um sentido externo ao significado construído pelo próprio sujeito. O indivíduo e não o ato é que dá sentido e significado aos contextos. Originalmente se percebe influências de Jean Paul Sartre e de Martin Heidegger em sua obra, porém, Camus rejeitou o rótulo de existencialista e inclusive se afastou de Sartre desde 1952. Para ele, o universo é indiferente às motivações da humanidade e seus símbolos e necessidade de muletas.
Na parte final do livro “O Estrangeiro”, em
que o personagem principal é condenado a morte na guilhotina e sente o completo
abandono existencial, Camus assim expressa à compreensão do condenado a morte
em sua busca por sentido: “Como se essa grande
cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite
carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna
indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal,
enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que
tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas
desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me
recebessem com gritos de ódio”.
A adaptação de “O
Estrangeiro” (Companhia das Letras, colorido, formato 26,8 x 19,8cm, 144 p., 2014)
para a HQ foi feita pelo ilustrador Jacques Ferrandez (Argel, 1955). A proposta
de publicação pode ser sintetizada nesta resenha de divulgação oficial da
edição brasileira: “em 2013, foi celebrado na França o centenário de Albert
Camus. Realizado para a efeméride, um lançamento se destacou nas listas de mais
vendidos, entre os leitores e a crítica: a adaptação para quadrinhos do
clássico O Estrangeiro, de 1942. Não
poderia haver artista melhor que Jacques Ferrandez para realizar tal tarefa.
Conterrâneo de Camus, Ferrandez é considerado um especialista incontestável na
Argélia colonial, tendo vivido por muitos anos na mesma rua que o autor. A
luminosidade de suas aquarelas e a riqueza de seus cenários demostram, de fato,
que se trata de um profundo conhecedor da obra de Camus e de sua ambientação,
capaz de reconstruir a narrativa com força e fidelidade e de dar conta de sua
dimensão simbólica, sem suavizar seus mistérios”.
A quadrinização do romance
foi fiel ao roteiro da obra e as ilustrações dramatizaram ainda mais a proposta
do “absurdo” de Camus sem recorrer a excessos emotivos. Romance gráfico
recomendado que possibilita uma aproximação significativa com à obra do
polêmico e incisivo pensador francês.
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