Retrato de José Feliciano Fernandes Pinheiro. Museu Paulista da USP. |
Neste ano de 2019 estamos completando os duzentos anos de publicação do primeiro livro de História do Rio Grande do Sul!
José Feliciano Fernandes Pinheiro, Visconde de São Leopoldo, foi o autor do primeiro trabalho de pesquisa histórica no Rio Grande do Sul, persistindo ao longo do tempo como uma obra de referência para o estudo da história rio-grandense. O livro que lhe deu renome foi Anais da Capitania de São Pedro, publicado o primeiro volume em 1819 e o segundo em 1822. A segunda edição do livro foi revisada pelo autor e editada em Paris em 1839 e chamou-se Anais da Província de São Pedro. Seu autor foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1838.
Escrito na transição da Colônia para o Império no Brasil, o livro encontrou sua difusão no período imperial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Na apresentação à quinta edição, Décio Freitas considerou os Anais como o nascimento da historiografia sul-rio-grandense pois Pinheiro se apresentava como um historiador na cabal acepção do termo, investigando, selecionando e interpretando documentos. Dessa forma, o autor dos Anais merece sem favor o título de “pai da historiografia gaúcha”.[1] Décio Freitas acreditou que o comprometimento com uma visão de mundo ligada aos objetivos da monarquia estavam relacionados com o lugar social que José Feliciano Pinheiro ocupou nos quadros do colonialismo português e posteriormente no Império brasileiro. Foi juiz, auditor, membro do Conselho Imperial, Ministro do Império, Senador, Presidente da Província de São Pedro. Esse lugar social é o elemento referencial que compromete a insistente argumentação do autor em garantir a imparcialidade histórica de seus escritos.
José Feliciano Pinheiro escreveu o seu Anais quando os conflitos com o Prata persistiam com a intervenção do Brasil na Cisplatina. Esses fatores de ordem política e militar muito influenciaram a análise da formação histórica rio-grandense, levando-o a realizar uma história da conquista lusitana.
Pinheiro utilizou uma narrativa fatual fundamentada em datas e acontecimentos que assinalavam a conquista portuguesa do Rio Grande do Sul e temas correlatos. O uso de documentos, da bibliografia circulante sobre a Europa, o Brasil e as colônias espanholas nos séculos XVIII e XIX, eram discutidos ao longo dos pés-de-página esboçando críticas a fontes jesuíticas.
Com esse livro, teve início os estudos do povoamento luso-brasileiro do Rio Grande do Sul, onde os fatos políticos são preferenciais e devem ser embasados em documentos oficiais.
O Rio Grande do Sul possui uma das mais longevas historiografias do Brasil! O seu bicentenário deveria ser uma data a ser difundida e a sua produção historiográfica deveria ser discutida em eventos no espaço acadêmico e na sociedade.
[1] FREITAS, Décio (apresentação). In: PINHEIRO, José Feliciano Fernandes. Anais da Província de São Pedro. 5.ed., Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982, p. x.
Edição de 1946. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário