Com
a ocupação espanhola da Vila do Rio Grande em abril de 1763, os
luso-brasileiros buscaram estratégias para desgaste e retomada do Rio Grande do
Sul tendo por epicentro o controle da Barra do Rio Grande, processo que estende-se
até o ano de 1776. Entre as alternativas de resistência foi desenvolvida,
conforme o historiador Coronel Cláudio Moreira Bento, a guerra de guerrilhas. A origem da palavra é espanhola (guerrilla ou pequena guerra). Esta
orientação adaptada às condições de dispor de restrito contingente de homens e
meios para promover a guerra aos espanhóis, foi dada pela Junta Governativa do
Rio de Janeiro no mês de junho de 1763: “A guerra contra o invasor será feita
com pequenas patrulhas atuando dispersas, localizadas em matos e nos passos dos
rios e arroios. Destes locais sairão ao encontro dos invasores para
surpreendê-los, causar-lhes baixas, arruinar-lhes cavalhadas, gados e
suprimentos e, ainda trazê-los em contínua e persistente inquietação”.
A execução
desta doutrina militar coube ao capitão Francisco Pinto Bandeira que atuou ao
norte do rio Camaquã com base em Encruzilhada do Sul e ao seu filho Rafael
Pinto Bandeira ao sul do rio Camaquã, tendo por base a Coxilha do Fogo, em
Canguçu.
Conforme Cláudio
Moreira Bento, a função estratégica destas guerrilhas era atuar sobre os
possíveis caminhos de invasão ao Rio Grande: 1-Montevidéu-Rio
Grande-Viamão-Porto Alegre pelo litoral (usado em l763 por D.Pedro Ceballos
governador de Buenos Aires); 2-Montevidéu-Bagé-Santa Tecla (Bagé)-Encruzilhada
do Sul-Rio Pardo (usado em l774 por D.Vertiz y Salcedo); 3-São Borja-Picada São
Martinho-Santa Maria-Rio Pardo. Em sentido contrário, com vistas a uma possível
invasão portuguesa os espanhóis barraram estes caminhos: na Fortaleza de Santa
Tereza; na Fortaleza de Santa Tecla (Bagé); no forte de São Martinho, ao norte
de Santa Maria.
Em face
destas barragens, Rafael Pinto Bandeira e seus homens passaram a usar o caminho
de invasão: Montevidéu-Santa Tereza-Mello (atual Cerro Largo) no Uruguai e
Passo Centurión no rio Jaguarão-Herval do Sul-Piratini-Canguçu. Deste ponto uma
invasão poderia rumar para Rio Grande ou para Rio Pardo. Os espanhóis barraram
este caminho por volta de 1800, com a construção do forte de Cerro Largo e os
portugueses, com a criação das localidades de Piratini e Canguçu sobre o
divisor de água da Serra dos Tapes.
Dentro das
estratégias das guerras de guerrilha estavam as arreadas que consistiam em
remover o gado vacum e cavalar para reduzir a mobilidade do exército espanhol
além de devastar as estâncias que dessem sustentação aos inimigos. O Rio Grande
do Sul forjou-se historicamente nestes conflitos pelo controle das fronteiras
no extremo sul do Brasil produzindo gerações de homens que tiveram o duplo
papel de estancieiros e militares. Somente após cessarem no território
rio-grandense os conflitos com os espanhóis, a partir da década de 1780, é que
a Vila do Rio Grande passa de um paradigma militar para um paradigma comercial
ligado ao fluxo de mercadorias no Porto Velho do Rio Grande. Porém, um dos mais
destacados nomes das atividades guerreiras que levaram a derrota espanhola teve
uma participação fundamental em
Rio Grande , como grande proprietário e administrador: Rafael
Pinto Bandeira, também chamado de “o terror dos espanhóis”. O seu conhecimento
do território era tal que o Marques de Lavradio afirmou que “a cabeça de Rafael
é o verdadeiro mapa do Rio Grande”. Entre os participantes destas guerrilhas
estavam às tropas da Cavalaria Ligeira da qual Rafael Pinto Bandeira era
oficial. Nestas duas estampas reproduzidas do livro do engenheiro militar
português José Correia Rangel As Defesas
da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786, pertencente
ao acervo da Biblioteca Rio-Grandense, observa-se um oficial e um soldado da
Cavalaria Ligeira do Rio Grande.


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