Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

domingo, 8 de setembro de 2019

O NAVIO-ESCOLA BENJAMIN CONSTANT E O PORTO NOVO

         A inauguração oficial do Porto Novo do Rio Grande ocorreu no dia 15 de março de 1915 com a entrada do Navio-Escola Benjamin Constant ao espaço portuário do Rio Grande. O navio da Marinha Brasileira (atual Marinha do Brasil) adentrou os Molhes da Barra, percorreu com segurança o canal de acesso e atracou no cais do Porto Novo.
       Um cartão comemorativo foi lançado para marcar a visita do N.E. Benjamin Constant ao Porto Novo. No cartão está escrito: “Profundidade da Barra do R. G. do Sul em 15 de novembro de 1915 – 7 metros abaixo do zero da escala de referência e mais a média de 0,50 metros de marés ordinárias”. Continuando a descrição das informações que representava

a vitória sobre a insegurança da navegação na Barra do Rio Grande (apreensões e reinvindicações da comunidade local ao longo de quase dois séculos), é feito um detalhamento dos avanços no aprofundamento do calado. O Benjamin Constant é o primeiro navio que transpôs a Barra do Rio Grande do Sul com calado superior a 6 m., comprovando que o projeto da Companhia Francesa do Porto do Rio Grande de construção dos Molhes para garantir o aprofundamento do calado estava se confirmando. O navio tinha 6m35 (20 pés e 8 polegadas) e adentrou a Barra às 5h30 atracando no cais do Porto Novo às 6h30. Depois desta visita, outros vapores entraram pela Barra com calados entre 19 e 22 polegadas, inclusive entrando ou saindo durante a noite. “Estes fatos atestam desde já o melhoramento e a segurança do acesso aos ancoradouros do Estuário do Rio Grande do Sul e ao porto marítimo de Rio Grande quer sob o ponto de vista comercial quer sob o militar”. 

        Para conhecer um pouco da história do Navio-Escola Benjamin Constant serão reproduzidos trechos de um artigo do pesquisador da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), o Capitão de Corveta (T) Carlos André Lopes da Silva. O artigo foi publicado na página da “Brasiliana Fotográfica” no dia 16 de fevereiro de 2017. O endereço do site é http://brasilianafotografica.bn.br/?p=7817

      Conforme Carlos André Lopes da Silva “o gradual aperfeiçoamento da guerra no mar e a aplicação cada vez maior de ciências como a matemática na navegação, induziu diversas marinhas a criarem escolas para formação profissional de oficiais e, algum tempo depois, de marinheiros. Contudo, o emprego do navio como ferramenta para a formação profissional nunca foi abandonado.
       Durante o século XIX, diversos navios de guerra foram eventualmente utilizados para instrução de futuros oficiais, os guardas-marinha, e marinheiros. Desde pequenos navios que realizavam cruzeiros de poucos dias no litoral brasileiro, como o Patacho Aprendiz-Marinheiro, até grandes veleiros equipados com máquinas a vapor que chegaram a realizar viagens de circunavegação instruindo guardas-marinha, como a Corveta Vital de Oliveira, em 1879, e o Cruzador Almirante Barroso, em 1888. O primeiro pensado desde o início como um navio-escola foi o Cruzador Benjamin Constant, um navio equipado como ferramenta de ensino prático para realizar longas viagens oceânicas com os guardas-marinha que terminavam o aprendizado teórico na Escola Naval.
     Construído pelo estaleiro francês Société Nouvelle des Forges et Chantiers de la Méditerranée entre 1891 e 1894, o navio foi batizado em homenagem a Benjamin Constant Botelho de Magalhães, militar do Exército Brasileiro e professor da Escola Militar da Praia Vermelha, um dos principais líderes do movimento republicano de 1889. Ainda inacabado, o Benjamin Constant recebeu em seus alojamentos a tripulação do Cruzador Almirante Barroso, naufragado no Mar Vermelho, em 1893, no meio de uma viagem de instrução com guardas-marinha. No ano seguinte, quando foi entregue ao governo brasileiro, recebeu uma tripulação heterogênea, em grande parte formada pelo Exército, pois parte dos militares da Marinha tinham se sublevado contra Floriano Peixoto no evento que ficou demarcado na história como a Revolta da Armada.
        Esse grande veleiro de três mastros, com 74 metros de comprimento e quase três mil toneladas de deslocamento, conduziu inúmeras turmas de guardas-marinha e aprendizes-marinheiros em cruzeiros de instrução pelo litoral brasileiro e por águas internacionais. Em 1908, realizou a terceira viagem de circunavegação de um navio da Marinha do Brasil, durante a qual salvou um grupo de 20 náufragos do navio japonês Toyoshima Maru que tinham se asilado na desabitada Ilha Wake, no Pacífico Sul. Dez anos antes, durante outra viagem de instrução com guardas-marinha, foi o Benjamin Constant que formalizou a incorporação ao território brasileiro da Ilha da Trindade, com a instalação de um marco de posse naquele que é o ponto insular principal de um arquipélago, então disputado com a Grã-Bretanha, situado a 1.200 quilômetros do nosso litoral. Já na viagem de instrução de guardas-marinha realizada em 1917, que transcorreu logo após a entrada do Brasil na Primeira Guerra, a sua tripulação apresou o navio mercante alemão Blucher no porto de Recife.
      O imponente navio recebeu de suas tripulações o afetuoso apelido de Garça Branca. Além de todos os compartimentos e equipamentos próprios a um navio de guerra do período, contava com uma biblioteca, alojamentos e banheiros reservados para os alunos e instrutores e uma sala de estudos. Desgastado pelo intenso emprego nas viagens de instrução e tornado obsoleto pelo rápido progresso tecnológico que atingiu os navios de guerra entre o início do século XX e o fim da Primeira Guerra Mundial, foi “aposentado” em 1926”, conclui Carlos André Lopes da Silva é pesquisador da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. In: http://brasilianafotografica.bn.br/?p=7817


Cruzador Benjamin Constant em 1906. Arquivo da Marinha DPHDM

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