Porto do Rio Grande em 1908

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sábado, 7 de setembro de 2019

BERENICE – POE – HISTÓRIA E TERROR




“A miséria da terra é multiforme. Sobrepujando o vasto horizonte como o arco-íris, as suas cores são tão variadas como as deste — tão distintas e tão intimamente combinadas como elas. Sobrepujando o vasto horizonte como o arco-íris! Como foi que da beleza eu derivei um tipo de horror? — do símbolo da paz um símile de sofrimento? Mas, como, na ética, o mal é a consequência do bem, assim do prazer nasceu, com efeito, a dor. Ou a recordação da ventura passada é a amargura de hoje, ou as angústias presentes têm a sua origem nos êxtases porventura gozados”. (Poe, Berenice).
Leitura obrigatória para conhecer o estilo de Edgar Allan Poe é conhecer o conto Berenice publicado originalmente em 1835 no jornal  Southern Literary Messenger (quando da publicação vários leitores reclamaram ao editor do Messenger por considerarem o conto excessivamente violento).
O conto relata a história de Egeu que irá se casar com sua prima Berenice. Ele sofre de uma fixação doentia em determinados objetos que aleatoriamente lhe vem a mente e o afastam do mundo exterior. É uma estratégia narrativa de Poe para criar um mundo paralelo ao plano real, em que as imagens concretas perdem o foco de concreticidade. A felicidade entre os personagens é passageira, pois, uma doença letal aflige Berenice trazendo a figura da morte para o cenário. A ceifadora da vida é um tema persistente em Poe que retrata detalhadamente a felicidade e a transitoriedade brutal para o caminho da dissolução do equilíbrio - com a visita insensível da morte. A dilapidação emocional dos personagens se insere numa abordagem romântica em que a devoção amorosa e a busca da plenitude sempre esbarra no rompimento das expectativas com uma tragédia ou com a morte. Um diferencial em Poe é a tensão entre o desvio psíquico com obsessões persistentes em fixações  materiais que trouxessem a perpetuação de uma experiência ou de um sentimento: no caso, com a morte de Berenice, necroficamente, Egeu profana a sepultura para roubar os dentes de sua falecida amada.
O conto é breve e objetivamente explicita o estilo de Poe com algumas de suas temáticas preferenciais. Indispensável como leitura preliminar que poderá instigar visitas mais prolongadas à vasta produção literária deste mestre do horror moderno e um pioneiro do conto policial.  

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