Mapa do Arquipélago dos Açores em 1584 por Luís Teixeira. Acervo: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. |
O
deslocamento dos açorianos das Ilhas para o Brasil envolveu as normas oficiais
da Coroa Portuguesa, o transporte marítimo e as difíceis condições de
sobrevivência durante a viagem.
A travessia marítima pelo Atlântico no século
XVIII era demorada e com riscos consideráveis à saúde dos passageiros.
Antecedendo a migração alemã e italiana do século XIX, os açorianos sofreram de
forma ainda mais dramática as dificuldades de deslocamento até a terra da
promissão: o Brasil.
A Vila do Rio Grande foi à porta de entrada
da corrente açoriana que se deslocou da Ilha de Santa Catarina para o continente
do Rio Grande. Atendendo ao objetivo principal de sua imigração, os casais
deveriam ser deslocados em grupos para o interior e lá aguardar a ocasião para
ocupar a região das Missões. Entretanto, a resistência indígena, já a partir de
1753, e a consequente Guerra Guaranítica, que se estendeu até 1756, tornaram
impossível a concretização desses planos e determinaram a permanência da quase
totalidade do contingente açoriano na própria Vila do Rio Grande. É provável
que, entre 1752 e 1754, grupos de casais tenham apenas passado pela Vila,
seguindo logo para o interior; nessa época Gomes Freire fortificava três áreas,
estrategicamente, importantes para manter acesso à região a ser incorporada;
Santo Amaro, onde estabeleceu os armazéns de abastecimento do Exército, Rio
Pardo, onde erguera o Forte de Jesus-Maria-José para garantir aquela fronteira,
e o porto do Arraial de Viamão, base de manutenção dos outros dois pontos.
De acentuada relevância foi o povoamento da
Vila do Rio Grande de São Pedro pelo contingente açoriano até 1763. Porém, em
outras localidades do Rio Grande do Sul, os açorianos ficaram abandonados do
apoio estatal prometido. O drama épico da saída das ilhas e chegada ao Brasil
persistiu nas décadas posteriores a sua chegada. O assentamento previsto na
Provisão de 9 de agosto de 1747 foi protelado por décadas. Portugal neste
período estava com a balança comercial deficitária. A ocupação do território
missioneiro, a partir do previsto no Tratado de Madrid frustrou as expectativas
dos casais pois a área continuou sobre controle da Coroa Espanhola. A economia
mineradora no Brasil colonial apresentava queda na produção e a cotação
internacional do açúcar era baixa. Os custos de manutenção das tropas e a
reconstrução de Lisboa, que fora destruída pelo terremoto e maremoto de 1755,
deixou deficitário o Erário Régio lusitano. Uma situação metropolitana e
ultramarina complexa em que a colonização açoriana inseriu-se e que os colonos
sentiram severamente os efeitos, inclusive com a dominação espanhola na Vila do
Rio Grande. Após a retomada lusitana e expulsão espanhola, durante os governos
do brigadeiro Marcelino de Figueiredo (1769-1780) e do brigadeiro Sebastião da
Veiga Cabral e Câmara (1780-1801) é que o povoamento açoriano que já havia
difundido-se mas que passou a ser organizado com legalização de terras em
núcleos como Porto Alegre, Viamão, Osório, Mostardas, Santo Amaro, Cachoeira
etc. Novas conjunturas e perspectivas abriam-se aos colonizadores dos Açores
nas duas últimas décadas do século XVIII. Após a viagem marítima, o drama do
abandono e do conflito com os espanhóis novos desafios aguardavam os
colonizadores açorianos nos primórdios do século XIX.
Quadro com a chegada dos Açorianos por
Augusto Luiz de Freitas (1923). Acervo: Instituto de Educação de Porto
Alegre.
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