Porto do Rio Grande em 1908

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terça-feira, 7 de novembro de 2017

O BRASIL NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Apesar da grande distância do cenário europeu e da carnificina que representou os confrontos bélicos na Primeira Guerra Mundial (iniciada em julho de 1914), o Brasil não ficou ileso ao conflito. Num período de defesas imperialistas, por vezes intransigentes, a presença de população de países beligerantes e as discussões políticas européias se fizeram ressoar em território brasileiro. 
Inicialmente, o Brasil declarou a sua neutralidade em 4 de agosto de 1914. Mas um primeiro incidente ocorreu em 1916: o navio brasileiro Rio Branco, foi afundado quando estava em águas restritas, operando a serviço inglês e com tripulação de noruegueses. Porém, isto não configurou  um ataque ilegal dos alemães. No ano seguinte, 1917, as relações se deterioram quando os alemães autorizam os seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio. Foi no dia 5 de abril que o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios da marinha mercante e estava carregado de café, foi atacado por um submarino alemão próximo ao Cabo Barfleur, na França. Três brasileiros morreram no torpedeamento e a reação popular no Brasil foi intensa.
No dia  11 de abril o  Brasil rompeu relações diplomáticas com o Bloco Germânico. A resposta alemã veio no dia 20 de maio quando o navio Tijuca foi torpedeado perto da costa francesa por um submarino alemão. Nos meses seguintes, o governo brasileiro confiscou 42 navios alemães que estavam em portos brasileiros, como uma indenização de guerra. No dia 26 de maio de 1917, um submarino alemão atingiu com três tiros de canhão o vapor brasileiro Lapa. No dia 18 de outubro o navio mercante Macau foi torpedeado por submarino U-93. Manifestações com milhares de pessoas ocorreram em várias cidades, ocorrendo o ataque a estabelecimentos comerciais de alemães ou descendentes. Invasão, saque, pilhagem e incêndios foram registrados, muitas vezes, com o olhar complacente das forças policiais. As manifestações levaram o governo do presidente Wenceslau Brás a declarar guerra no dia 26 de outubro. No início de novembro os navios Acari e Guaiba (imediações de Portugal) foram torpedeados pelo submarino U-151.
O Brasil cria a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG) e envia oito navios para operar com a Marinha Britânica no patrulhamento e na guerra anti-submarina. Esta Divisão Naval não teve uma participação de combate mas encontrou no caminho um poderoso inimigo: a gripe espanhola ceifou a vida de 156 integrantes da Divisão. O país também enviou cerca de cem médicos, dezenas de enfermeiras, outros profissionais e pessoas de apoio, que atuaram em um hospital de campanha na França (até fevereiro de 1919). Aviadores foram enviados a Inglaterra e oficiais se voluntariaram ao Exército Francês. Os conhecimentos militares que foram adquiridos na guerra foram relevantes para que nos anos seguintes o modelo militar prussiano fosse trocado pelo modelo francês (na Segunda Guerra haveria nova troca para o modelo norte-americano...).
O Brasil teve nove navios afundados e cerca de 200 mortos no conflito. A frota naval brasileira estava relativamente sucateada para uma situação de guerra mas o apoio brasileiro dado a França e a Inglaterra (e a Tríplice Entente), abriram caminho para ser convidado a participar da Conferência de Paz de Paris, em 1919: o Tratado de Versalhes. Como indenização, a Alemanha teve de ceder ao Brasil os navios que haviam sido confiscados no início do conflito e indenizar pelo café perdido.     
O cenário da guerra poderia ter sido outros caso o plano elaborado por João Pandiá Calógeras e encomendado por Rodrigues Alves (candidato presidencial eleito) tivesse sido implementado. O Plano Calógeras previa uma força expedicionária brasileira com grande efetivo que deveria desembarcar em solo francês e que seria financiada com empréstimos bancários americanos.Os empréstimos seriam pagos pelo Império alemão com sua derrota ao final da guerra. O autor, sabedor da débil infraestrutura industrial-militar brasileira do período, acreditava que o pacto de sangue com a França e seus aliados poderia fazer o país dar um salto no seu desenvolvimento tecnológico. O Plano nunca foi implementado...
No dia 11 de novembro de 1918, o devastador conflito que deixou cerca de 10 milhões de mortos, chegou ao seu final com a assinatura do armísticio. Na Conferência de Paz de Paris coube ao Brasil receber da Alemanha o pagamento com juros do café que se perdeu com os navios naufragados além da propriedade sobre todos os navios apreendidos em águas territoriais brasileiras.
Em termos econômicos, o Brasil teve restrições para a alocação de seu principal produto de exportação que é o café mas o aumento internacional do mercado de genêros alimentícios e matérias-primas desencadeou um intenso processo industrial para suprir a necessidade destes mercados. Durante a Guerra as fábricas foram multiplicadas por quatro, o número de operários dobrou e o mercado interno se ampliou com o suprimento de produtos que eram antes da Guerra importados.

O Brasil estava entrando em guerra há cem anos atrás! A distante Europa estava se tornando cada vez mais próxima e mesmo que a onda de milhões de mortes não afligia o território brasileiro, o mal epidêmico que nasceu durante a Guerra, desembarcou em dois navios no mês de setembro de 1918: a Gripe Espanhola, que devastou populações com uma fúria ainda maior que a Grande Guerra, estava chegando ao Brasil e ceifaria a vida, de norte ao sul, de pelo menos trezentas mil pessoas (no planeta foram 40 milhões). O sabor amargo da guerra desembarcou na forma de um mortal vírus influenza... 
Ilustrações: Gazeta de Notícias (RJ) e A Época (RJ). Acervo: Biblioteca Nacional.



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