Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 13 de julho de 2017

SACO DA MANGUEIRA

Referências ao Saco da Mangueira estão na documentação desde os primeiros levantamentos cartográficos realizados por Silva Paes (1737). Ainda no final do século 19, quando da edificação do atual Balneário Cassino, a área que abrange atualmente o SuperPorto até o Balneário Cassino era chamada de Mangueira. Quando criada, em 1890, a linha ligando a cidade ao Balneário, foi denominado de Bondes Suburbanos da Mangueira.
O Saco da Mangueira, nos últimos 100 anos, sofreu um intenso processo de poluição por efluentes domésticos, pluviais e industriais (cerca de 30% dos efluentes da cidade são aí lançados). A urbanidade começou a fechar o cerco a este espaço, especialmente com os projetos industriais da Rheingantz e Refinaria Ipiranga.
O Saco da Mangueira, parte integrante do Estuário da Lagoa dos Patos, é um ambiente semi-fechado e raso (média de 1,5 metros de profundidade) ligado a Lagoa dos Patos por uma abertura de apenas 240 metros (na Ponte dos Franceses). Possui uma área de 27 km² sendo alimentada com água doce pelos arroios Vieira e Simão.
      Um dos relatos mais antigos, entre os raros existentes, remete ao ano de 1820, quando o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire visitou a cidade durante um mês. Estas observações foram feitas a quase duzentos anos atrás quando a população da cidade não chegava a dez mil habitantes e a poluição, como hoje conhecida, ainda era totalmente desconhecida.
Conforme Saint-Hilaire, “tencionava dar um passeio a pé até o mar, porém, tendo saído muito tarde, não pude fazê-lo. Cheguei até a Mangueira, espécie de enseada que se encontra a meio quarto de légua a sudoeste da cidade e que se prolonga mais ou menos de leste para oeste, com uma extensão de duas léguas. Recentemente construíram, através do banhado, uma larga estrada que vai da cidade à Mangueira. É ladeada de valas para o escoamento das águas. Este caminho seria bastante agradável se tivessem o cuidado de arborizá-lo, o que é necessário, porquanto não há, nos arredores, nenhum local de sombra. A leste e sudeste estendem-se, como já disse, banhados lamacentos. A oeste e a sudoeste, um areal de finura extrema que fatiga a vista pela sua cor esbranquiçada; forma montículos que avançam até as casas situadas atrás da cidade, elevando-se tanto que ameaçam aterrá-las a cada instante. Vi negros ocupados em desentulhar os arredores das casas de seus donos, que me informaram serem obrigados a repetir, sem descanso, esse trabalho. Os montículos de areia se estendem, em geral, na direção sul a norte, resultando dos ventos que os formam; mas esses mesmos ventos os fazem voar em redemoinhos, aumentar, diminuir, mudar de lugar, vegetando no meio deles só plantas pertencentes a diversas variedades do senecio alvacento e rasteiro.Fiz um longo passeio às margens da enseada da Mangueira, e encontrei em flor um cerastium e duas arenárias e compostas. Os diversos passeios que tenho feito pela faixa de terra onde está construída a cidade do Rio Grande provaram-me  que ela é inteiramente coberta de areia, exceto nas margens do Rio Grande e nas de Mangueira. Na extremidade oriental da península, as margens da Mangueira e do rio são constituídas de terrenos pantanosos e banhados pelas águas do mar. Por toda parte, porém, areias amontoadas, esbranquiçadas e extremamente finas, onde só crescem esparsamente alguns pés de senecio.

    Como disse, encontrei em sua extremidade oriental terrenos, pantanosos que se prolongam em estreita orla às margens da Mangueira; além disso, vi, apenas, cômoros de areia esbranquiçada e extremamente fina (...) Em todo o trecho da península por onde andei, não vi uma árvore sequer e é bem possível que haja no Rio Grande mulheres que nunca tenham visto outras, a não ser algumas laranjeiras, pessegueiros e figueiras selvagens plantadas em seus pomares.”

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