Referências ao Saco da
Mangueira estão na documentação desde os primeiros levantamentos cartográficos
realizados por Silva Paes (1737). Ainda no final do século 19, quando da
edificação do atual Balneário Cassino, a área que abrange atualmente o SuperPorto
até o Balneário Cassino era chamada de Mangueira. Quando criada, em 1890, a
linha ligando a cidade ao Balneário, foi denominado de Bondes Suburbanos da
Mangueira.
O Saco da Mangueira, nos
últimos 100 anos, sofreu um intenso processo de poluição por efluentes
domésticos, pluviais e industriais (cerca de 30% dos efluentes da cidade são aí
lançados). A urbanidade começou a fechar o cerco a este espaço, especialmente
com os projetos industriais da Rheingantz e Refinaria Ipiranga.
O Saco da Mangueira,
parte integrante do Estuário da Lagoa dos Patos, é um ambiente semi-fechado e
raso (média de 1,5 metros de profundidade) ligado a Lagoa dos Patos por uma
abertura de apenas 240 metros (na Ponte dos Franceses). Possui uma área de 27
km² sendo alimentada com água doce pelos arroios Vieira e Simão.
Um
dos relatos mais antigos, entre os raros existentes, remete ao ano de 1820,
quando o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire visitou a cidade durante um
mês. Estas observações foram feitas a quase duzentos anos atrás quando a
população da cidade não chegava a dez mil habitantes e a poluição, como hoje
conhecida, ainda era totalmente desconhecida.
Conforme Saint-Hilaire, “tencionava dar um
passeio a pé até o mar, porém, tendo saído muito tarde, não pude fazê-lo.
Cheguei até a Mangueira, espécie de enseada que se encontra a meio quarto de
légua a sudoeste da cidade e que se prolonga mais ou menos de leste para oeste,
com uma extensão de duas léguas. Recentemente construíram, através do banhado,
uma larga estrada que vai da cidade à Mangueira. É ladeada de valas para o
escoamento das águas. Este caminho seria bastante agradável se tivessem o
cuidado de arborizá-lo, o que é necessário, porquanto não há, nos arredores,
nenhum local de sombra. A leste e sudeste estendem-se, como já disse, banhados
lamacentos. A oeste e a sudoeste, um areal de finura extrema que fatiga a vista
pela sua cor esbranquiçada; forma montículos que avançam até as casas situadas
atrás da cidade, elevando-se tanto que ameaçam aterrá-las a cada instante. Vi
negros ocupados em desentulhar os arredores das casas de seus donos, que me
informaram serem obrigados a repetir, sem descanso, esse trabalho. Os
montículos de areia se estendem, em geral, na direção sul a norte, resultando
dos ventos que os formam; mas esses mesmos ventos os fazem voar em redemoinhos,
aumentar, diminuir, mudar de lugar, vegetando no meio deles só plantas
pertencentes a diversas variedades do senecio alvacento e rasteiro.Fiz um longo
passeio às margens da enseada da Mangueira, e encontrei em flor um cerastium e
duas arenárias e compostas. Os diversos passeios que tenho feito pela faixa de
terra onde está construída a cidade do Rio Grande provaram-me que ela é inteiramente coberta de areia,
exceto nas margens do Rio Grande e nas de Mangueira. Na extremidade oriental da
península, as margens da Mangueira e do rio são constituídas de terrenos
pantanosos e banhados pelas águas do mar. Por toda parte, porém, areias
amontoadas, esbranquiçadas e extremamente finas, onde só crescem esparsamente
alguns pés de senecio.
Como disse, encontrei em sua extremidade
oriental terrenos, pantanosos que se prolongam em estreita orla às margens da
Mangueira; além disso, vi, apenas, cômoros de areia esbranquiçada e
extremamente fina (...) Em todo o trecho da península por onde andei, não vi
uma árvore sequer e é bem possível que haja no Rio Grande mulheres que nunca
tenham visto outras, a não ser algumas laranjeiras, pessegueiros e figueiras
selvagens plantadas em seus pomares.”
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