A adesão ao
nazismo pela população teuto-brasileira no Rio Grande do Sul foi baixa! Esta
população era de 600 mil pessoas frente a um total de 3 milhões de habitantes. Portanto,
a adesão as orientações emanadas do NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães) foi restrita a uma minoria de militantes. A Campanha de
Nacionalização promovida pelo Estado Novo já em 1938 conseguirá reprimir as
manifestações públicas nazistas ou de simpatizantes. A partir de 1939 o caminho
será o da espionagem com objetivos de informações sobre a economia e o
movimento de navios frente à Guerra no Atlântico e o bloqueio marítimo
declarado pela Inglaterra contra a Alemanha. As cidades portuárias são as mais
essenciais para o controle da informação. O Partido Nazista alemão recrutou informantes
nas cidades do Rio de Janeiro, Santos, Recife, São Paulo, Salvador, Vitória,
Porto Alegre e Rio Grande. A presença do frigorífico Swift que vendia produtos
para os ingleses e aliados, foi um dos fatores para manter sob observação o
Porto do Rio Grande e para alimentar com informações os submarinos que cruzavam
ao largo da Barra do Rio Grande.
Alguns
episódios sobre a atuação da espionagem nazista foram analisados na tese de
Doutorado de Taís Campelo Lucas cujo título é “Nazismo d’além mar: conflitos e
esquecimento, RS-Brasil” (Porto Alegre: PPGHistória UFRGS, 2011).
O alemão
Friedrich Wilhelm Wilkens era agente da Companhia Hamburguesa de Navegação e
foi instruído a camuflar mensagens em cartas comuns repassando informações
sobre o movimento portuário em Rio Grande. Carlos Muegge, agente nazista,
enviou em 1941 uma carta cautelosa à caixa postal 30 em Rio Grande mas as
condições para espionagem eram péssimas e Wilkens queimou a carta. Num
posterior encontro com Muegge no Rio de Janeiro, Wilkens frisou que “Rio Grande
era uma cidade pequena onde ele era bem conhecido, o que tornava a comunicação
clandestina difícil ao máximo”.
Wilkens, em
novembro de 1939, já havia se envolvido num caso de espionagem ocorrido no
Porto do Rio Grande. Foi encontrado no
navio alemão “Rio Grande” retido no Porto um aparelho completo de rádio-transmissão
e recepção que se destinava ao repasse de mensagens sobre movimentação
comercial e portuária aos submarinos da Marinha de Guerra Alemã que circulavam
próximo a costa do Rio Grande do Sul. O cônsul alemão em Porto Alegre,
Friedrich Ried, estava envolvido nas atividades além de agentes do Sindicato
Condor e da VARIG. O rádio-técnico da Condor Werner Mucks foi recebido em Rio
Grande por Wilkens e levado a bordo do navio alemão para montagem do
equipamento. Por motivos técnicos, não foi possível fazer o rádio-transmissor
funcionar. O equipamento já estava no navio e fora levado pelo vice-cônsul da
Alemanha em Rio Grande Kurt Louis Emil Fraeb. O momento era dos mais tensos na
Guerra do Rio da Prata (alemães e ingleses) com o posterior afundamento do
encouraçado de bolso alemão Graf Spee. A
investigação do caso trouxe graves conseqüências para a VARIG que teve
integrantes de seus quadros envolvidos em favorecimento a ação de espiões
nazistas. O cônsul Ried, o principal articulador da ação, demonstrou tanta
dedicação para as atividades que em 1940 foi promovido a Cônsul Geral da
Alemanha em New York. O jornal New York Post o descreveu como o “pequeno Hitler
do Estado do Rio Grande do Sul”.
Posteriormente,
no final de outubro de 1940, o vapor “Rio Grande” partiu do Porto e conseguiu
romper o bloqueio marítimo inglês retornando à Alemanha. Os preparativos foram
feitos por Riet, Wilkens e Fraeb, que foram orientados a mandar abastecer com
alimentos e combustíveis o referido vapor, inclusive estando apto a abastecer
algum vaso de guerra ou corsário alemão. Desta vez, um rádio-transmissor foi
instalado com sucesso no “Rio Grande” e o dinheiro para tantas compras que
lotaram o vapor vieram da Embaixada da Alemanha em Buenos Aires.
A Delegacia
de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul investigou as atividades de
espionagem prendendo suspeitos em Porto Alegre e em Rio Grande. Em todo o
Brasil foram noventa e quatro réus envolvidos nesta rede de espionagem nazista.
Devido a um imbróglio jurídico relacionado à legislação, os réus do Rio Grande
do Sul foram absolvidos (apenas uma condenação ocorreu no estado). Desta forma,
Wilkens e Fraeb escaparam de uma pena de prisão de 25 anos por espionagem. O
jornal A Noite (Rio de Janeiro, 18 de abril de 1843 fez a seguinte referência a
prisão de Kurt Fraeb que serviu no Exército Alemão na condição de voluntário na
I Guerra Mundial: “é nazista... chegando a arremedar Hitler com o uso de um
bigode característico”.
Um relatório confidencial (dezembro
de 1943) do Ministério da Guerra, registrou que após meses de perseguição
policial estava extinta a ação nazista no Estado! (Ilustração: Museu do Nazismo
da Polícia do Rio Grande do Sul em Porto Alegre In: A 5ª Coluna no Brasil. Aurélio
da Silva Py. Porto Alegre: Globo, 1942).