Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

TRENS PARA A COSTA DO MAR EM 1893

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=825310&pagfis=3

Jornal Rio Grande do Sul do dia 2 de janeiro de 1893. 

Orientações da Estrada de Ferro Southern Brazilian Rio Grande do Sul - Serviço da Costa do Mar (Vila Sequeira/Cassino) foram assinadas pelo Diretor Geral Augusto Duprat.

Para o veraneio de 1893 estavam previstos três trens que partiam da Estação Marítima com destino ao Cassino. Passageiros vindos do interior e com destino ao Cassino deveriam desembarcar na Estação da Junção.  

ESTRADA DE FERRO RIO GRANDE A BAGÉ (1885)

https://memoria.bn.gov.br

 Quadro com a distância entre as Estações da Estrada de Ferro Rio Grande a Bagé. A inauguração ocorreu no dia 2 de dezembro de 1884. 

O Annuario da Província do Rio Grande do Sul (1885) foi editado antes desta data e, portanto, ainda não tinha a informação do início do serviço de transporte de passageiros e cargas (inclusive gado).  

A Estação Rio Grande (na atual Avenida Buarque de Macedo) foi basicamente a inauguração da ocupação urbana sistemática na Cidade Nova. Outros empreendimentos começam a eclodir como é o caso da Rheingantz. 

A Estação promoveu crescimento urbano em Rio Grande na Quinta e no Povo Novo. Sem citar o desenvolvimento ocorrido em outras Estações do percurso até Bagé. 

POPULAÇÃO DE RIO GRANDE EM 1922

 

Anuário Estatístico do Rio Grande do Sul para 1922. http://memoria.org.br/pub/meb000000510/anuario1922rs2/anuario1922rs2.pdf

Esta é a população de 28 cidades do Rio Grande do Sul no ano de 1922. 

Rio Grande aparecia como a sétima mais populosa com 45.010 habitantes. 

A capital, Porto Alegre tinha 204.560 e, a mais populosa do interior era Pelotas, com 80.780 habitantes. 

LEMOS JUNIOR (1885)

Annuario da Província do Rio Grande do Sul para 1885. https://memoria.bn.gov.br/

 Este anúncio circulou no Rio Grande do Sul no ano de 1885. 

Trata-se do grande empório de Calçado e outros produtos importados propriedade de A.M.de Lemos Junior. Estava estabelecido na Rua dos Príncipes (atual General Bacelar) na cidade do Rio Grande. 

Lemos Junior é benemérito que esteve à frente dos esforços de criação do Ginásio Municipal Lemos Junior em 1906. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

BENTO GONÇALVES E JÚLIA LOPES DE ALMEIDA

 

Cartão-postal monumento Bento Gonçalves. R. Strauch/Livraria Rio-Grandense, 1910. https://bvcolecionismo.lel.br/

A escritora Júlia Lopes de Almeida, ao visitar Rio Grande em 1918, deixou este registro de sua contemplação ao monumento-túmulo de Bento Gonçalves da Silva. 

O texto foi retirado do livro da autora Jornadas no meu país. Rio de Janeiro:  Francisco Alves, 1920. 

"Atravessávamos o bonito jardim da Praça Tamandaré, quando parei, de súbito, vendo diante de mim a estátua de Bento Gonçalves, toda destacada no fundo violáceo da manhã fria. O coração bateu-me no peito. Há muito que eu não sentia uma emoção de arte, e creio que escandalizei com as minhas incontidas exclamações de entusiasmo os poucos pássaros que por ali se entretinham a debicar nos gramados tostados pela geada. Já em Porto Alegre Filipe de Oliveira me tinha falado com emoção desta escultura do grande mestre que é Teixeira Lopes. Conhecendo a sua obra, e admirando nela tudo quanto de mais prodigioso, sugestivo e belo podem realizar o talento, o sentimento e a técnica de um artista tão excepcional como ele é, foi ainda assim no abalo de uma maravilhosa surpresa, como se a cousa fosse inesperada, que eu contemplei esse monumento, digno de uma bela, de uma grande capital de arte. Em pé, no alto de um pedestal de linhas harmoniosas, o guerreiro Bento Gonçalves, fardado de general, aperta com o braço esquerdo, freneticamente de encontro ao peito a bandeira que toda lhe escorre pelo flanco, enquanto com o outro braço estendido, segura na destra a espada nua, que se desenha no ar em linha oblíqua. Ergue-se-lhe a cabeça num gesto altivo, sente-se-lhe a voz imperativa na boca aberta e fremente; todo ele é força viva, todo ele é vibração, todo ele significa: coração para amar, braço para defender, voz para aclamar a Pátria! A seus pés, a meio pedestal, lutam dois formosíssimos leões, símbolos da Monarquia e da República. Esta está subjugada, mas não morta. Sente-se-lhe na dureza do bronze o latejar da carne, a nervosidade da cauda, o desespero das garras crispadas e que fazem prever que de um instante para o outro, o papel dos lutadores possa ser invertido; o outro leão, em atitude altiva de rancor e de orgulho, pousa as patas dianteiras sobre o ventre do inimigo, e olha para diante com expressão de domínio e de ódio. O escultor profético não dilacerou a fera vencida; ela está por terra mas toda ela é vida que se contrai, que sofre, mas que espera. E o que ela conseguiu, todos nós o sabemos. Bastaria esta hora de contemplação, que passou tão rápida mas que se cristalizou para sempre na minha memória, para me dar por feliz nesta viagem. São raros, mesmo nas capitais mais artísticas do mundo, monumentos de praça pública que saibam aliar, como este alia, a harmonia á majestade e a expressão do sentimento á perfeição técnica da obra. Abençoado quem se lembrou de confiar ao artista, que é hoje não uma glória de Portugal mas uma glória da Europa, o que equivale a dizer do mundo, a execução de tamanha homenagem. Pegam-se-me os pés ao chão; é pela urgência das circunstâncias que, fazendo violência sobre mim mesma, abandono o meu posto de admiração feliz. E até entrar no carro, ao atravessar a praça Tamandaré, volto a cabeça para ver, enquanto posso, a estátua admirável". 

BIBLIOTECA RIO-GRANDENSE EM 1885

https://memoria.bn.gov.br
 

O Annuario da Província do Rio Grande do Sul (1885) redigido pelo intelectual Graciano de Azambuja, dedicou uma página a Biblioteca Rio-Grandense. 

A Biblioteca era um local muito frequentado para a consulta de obras, empréstimo de livros, leitura de jornais, frequência gratuita as aulas noturnas, conferências e espaço de sociabilidade. 

A Biblioteca Rio-Grandense é uma referência intelectual e educativa que trabalha para o desenvolvimento local desde 1846.   

RIO GRANDE A BAGÉ

Almanak Encyclopedico Sul-Rio-Grandense (1898). Acervo: https://memoria.bn.gov.br/

No Almanak Encyclopedico Sul-Rio-Grandense para 1898 foi publicado os custos para envio de bagagens e encomendas (até 10kg) pela Estrada de Ferro Southern Brazilian Rio Grande do Sul

A nossa conhecida Estrada Rio Grande a Bagé, tinha uma extensão total de 283 quilômetros. 
 

LLOYD BRAZILEIRO (1898)

Almanak Encyclopedico Sul-Rio-Grandense (1898). Acervo: https://memoria.bn.gov.br/

 Tabela com o preço das passagens do Lloyd Brazileiro entre o Rio de Janeiro, portos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (portos de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre). O último destino é Montevidéo. 

LIVRARIA EVANGÉLICA (1885)

https://memoria.bn.gov.br/

 O Annuario da Província do Rio Grande do Sul para o ano de 1885 publicou este anúncio da Livraria Evangélica

Minha hipótese é que se trata de uma livraria que funcionou na cidade do Rio Grande na década de 1880. Lamento desconhecer a sua história. Considero ser Rio Grande e não Porto Alegre (pois estava numa sequencia de anúncios somente de Porto Alegre...) devido ao fato de ter existido em Rio Grande uma livraria com este nome e neste período.

 Outro motivo é por trazer abaixo da razão social "Rio Grande do Sul" uma forma de se referir a "cidade do Rio Grande" e não a "Província do Rio Grande do Sul". Isto gerou uma desagradável confusão que fez com que Rio Grande do Sul sempre fosse associado a Porto Alegre e não a cidade do Rio Grande.

 Terceiro aspecto é que Ricardo Strauch trabalhou na Livraria Evangélica e quando se retirou da sociedade, fundou a famosa Livraria Rio-Grandense (em 1887) a qual funcionou até 1942. Foi um dos mais competentes editores e gráficos que atuaram no Rio Grande do Sul. 

Chama a atenção que várias obras estavam sendo publicadas pela Livraria Evangélica, demonstrando um razoável fôlego que incita a buscar um arrolamento da produção realizada durante a sua existência. 

ARTIGOS VETERINÁRIOS

https://wp.ufpel.edu.br/memoriagraficadepelotas/files/2022/02/almanaque1931.pdf

 Anúncio publicado no Almanaque de Pelotas para 1931

Trata-se da importação de Artigos Veterinários para Pelotas e Rio Grande. Na imagem está um dos instrumentos para castração de touros, carneiros bodes e cavalos.  


LEAL SANTOS (1897)

 

https://memoria.bn.gov.br/

Uma síntese da atuação da Empresa Leal Santos & Cia foi realizada no Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (1897) publicado pela Livraria Americana. 

Em Rio Grande foi inaugurada, em 1889, uma filial das fábricas portuguesas de Lisboa e Cascaes.

A matéria também faz referência a fábrica alimentícia Mendes & Costa que fora fundada em 1895.  

terça-feira, 15 de outubro de 2024

MOTORES (1896)

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=829447&pagfis=2048
Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1896. 


 J.A. Daunis na Rua Uruguayana (atual Av. Silva Paes) vendia motores a gás, petróleo, benzina e gasolina. 

Esta agência comercializava os verdadeiros motores Otto.

  O alemão Nikolaus August Otto (1832-1891) foi o inventor do motor de combustão interna do ciclo de Otto em 1876. Trata-se de um motor de combustão interna de quatro tempos. Em poucos anos vendeu mais de 35 mil motores e foi se tornando uma referência tecnológica.  

MÁQUINA DE COSTURA WHITE (1896)

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=829447&pagfis=2040

O Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1896 traz este anúncio da máquina de costura White que estava sendo comercializada por José Carneiro & Comp. da cidade de Pelotas.  

O norte-americano Thomas White inventou sua primeira máquina de costura em 1870. Em New Jersey, no ano de 1876, fundou a empresa New Home Sewing Machine Co. O sucesso da empresa fez com que a produção chegasse a quinhentas máquinas por dia em 1884 e a duas mil unidades diárias no pós 1945. A empresa foi a falência em 1955. 
 

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

CORRÊA & NOVA (1896)

https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=829447&pagfis=2032
Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1896.

 Agentes de Comércio Corrêa & Nova, Succ. (Pelotas, Rio Grande e Bagé) atuavam no ramo de transporte de bagagens, encomendas e mercadorias dentro do Rio Grande do Sul. O transporte poderia ser realizado por estrada de ferro ou por via fluvial. 

A sucursal ficava em Rio Grande sob responsabilidade da Espirito Santo & C. 

O COBERTORZINHO DE MOSTARDAS EM RIO GRANDE

Cobertor de Mostardas. https://www.facebook.com/p/Artesanato-Cobertor-Mostardeiro-100063487665954/
https://www.facebook.com/photo/?fbid=1060471332745779&set=a.522375826555335

 O conto de J. Simões Lopes Neto, O Cobertorzinho de Mostardas, tem início na cidade do Rio Grande. A segunda parte do conto e, muito rápida, se passa em Mostardas onde é adquirido o cobertor. A terceira em Bagé onde ocorre o desenlace da história. 

Reproduzo a seguir, a parte relativa ao personagem Romualdo trabalhando num armazém em Rio Grande


"No meu tempo de meninote fui caixeiro na cidade do Rio Grande, que naquela época dava a nota no comércio da província. Como era da praxe, o meu primeiro posto foi o de - vassoura.

Varria o armazém - uma "venda" em ponto grande - agarrava à unha as baratas vagabundas que passeavam sobre os queijos e os bacalhaus, lustrava os sapatos de fivela do patrão e ia à missa das sete horas, porque era dos mandamentos. As vezes chuchava o meu cascudo dado pelo sr. 1º caixeiro; comia - por último - na ponta da mesa grande, sem toalha e tudo no mesmo prato; ao escurecer ia a casa tomar a bênção aos meus pais e voltava logo, para dormir numa esteira, atrás das pipas. Isso tudo eu e os outros fazíamos para aprender - a ser gente.

Mas a vida ia correndo. O diabo foi uma mulatinha, que...

Foi assim: perto do armazém morava uma senhora viúva, com três filhas, meninotas como eu, porém bonitinhas como uns feitiços.

De manhã, quando eu ia à missa ou de lá vinha, espichava para elas os olhos mas baixava-os logo, entre respeitoso e envergonhado.

As meninas riam-se, cochichavam e beliscavam-se.

À noite, quando ia à bênção caseira ou de lá vinha, etc, e tal, era a mesma cousa.

Aquela obrigada passagem pelos três diabinhos punha-me as orelhas em fogo e forçava-me a trocar o passo, na atrapalhação do meu acanhamento.

Porém, a mais dos três diabinhos havia mais uma mulatinha, repolhudinha, bem da cor do pêssego maduro, e ladina como um sorro.

A mandado das sinhazinhas a mulatinha vinha ao armazém comprar rapaduras, puxa-puxa, pé-de-moleque ou broinhas, que eram os doces que havia; e embirrava em que só havia de ser servida por mim!

- Seu Romualdo, quatro de broinhas e dois de puxa-puxa!

Se outro caixeiro vinha atendê-la, a mulata empacava-se e teimava:

- É o seu Romualdo quem me serve. A nhãnhã deu "orde"!

E este seu criado Matias. A vida ia correndo.

Ora, uma tarde, tinham todos ido jantar, ficando eu, como de costume, sozinho de plantão ao balcão. Nessa tarde, não sei porquê, até uns sujeitos que costumavam ficar por ali fazendo horas, até esses não apareceram.

Estava eu olhando para uma caixa de massas italianas e cá de mim para mim perguntando que estranha árvore seria aquela que dava lasanha e macarrão, quando embarafustou porta adentro a mulatinha:

- Seu Romualdo, três pé-de-moleque!

Fiz os três vinténs de pé-de-moleque e por minha conta tomei de uma rapadura e dei-lha, dizendo, meio a tremer de mim mesmo:

- Toma: isto é doce como tu.

A mulatinha avançou na rapadura e respondeu espevitada:

- Como tu, vá ele! "Menas" confiança!

Estomagado com a ingratidão, quis retomar a rapadura e fisguei o pulso da mulata. Houve uma pequena luta silenciosa e justo, ao tempo que entrava da rua o patrão, a mulata bradava às armas:

- Seu Romualdo, não me belisque!

- Largue a cabra, menino! berrou o meu patrão, a dois passos de mim.

E como vinha de mãos a prumo sobre as minhas orelhas, quebrei o corpo. Depois, não sei explicar o que se passou: divisei ao meu lado, na boca de uma barrica, um alguidar com manteiga; nele e nela afundei as mãos e com tal bocado - três ou quatro libras - fiz arma de defesa.

Os dedos ferozes tornaram a roçar-me as orelhas, outra negaça de corpo e quando alcei-me, plantei a plastada da manteiga na cara do patrão. Olhos, barbas, nariz, boca, testa. Calafetei-o!

E voei, porta fora, assombrado. A mulatinha, em frente, fez uma careta e gritou-me:

- Bem feito! Apanhou! Apanhou! Bem feito!

Cinco minutos depois entrava em casa.

- Tratante! bradava Romualdo pai. Atreveres-te! ao teu patrão... ao segundo pai dos caixeiros! Patife!

- Mas ele ia arrancar-me as orelhas, murmurava eu, Romualdo filho, a tremer, com a boca pegada a cuspo grosso.

E Romualdo pai:

- Pois fazia muito bem! Quem dá o pão dá o ensino!

E Romualdo filho: - Que ele sempre tratou-me como cachorro gaudério! Ih! Ih! Ih!

E mais não disse, que os soluços embargaram-me a voz e os queixumes. Afinal a "velha" acomodou as cousas. As mães sabem sempre ser anjos.

Fui mandado para Mostardas, a passar uns dias com o meu padrinho.

Foi um rega-bofe a viagem, que durou três dias, a bordo dum lanchão; foi outro rega-bofe a estadia, que durou duas semanas, em casa do padrinho.

Mostardas é uma povoação perdida entre areiais, junto à costa do oceano. Gente boa, do bom tempo. Tece o linho, de que faz desde os enxovais de casamento até as camisas do diário; tece a lã desde os xergões grosseiros até o picotinho lustroso.

Nesse tempo existia aí uma raça especial de ovelhas que produziam uma lã tão aquecedora como nunca mais vi outra. Essas ovelhas morriam muito no verão abafadas na pele, era necessário tosqueá-los à navalha. A gente que trabalhava com tal lã suava em barda e ficava com as mãos vermelhas, quentes, fumegando, como se estivesse lidando em água esperta.

Mas eu, como criançola, pouca atenção dava a estas cousas".

Romualdo retorna a Rio Grande e parte de diligência para Bagé. Esta pode ser a indicação de uma história (fictícia) ocorrida antes de dezembro de 1884 quando é inaugurada a linha ferroviária Rio Grande-Bagé. Ter ido de diligência seria uma decisão irracional. Como historiador Simões Lopes Neto tinha ciência dos referenciais de temporalidade no surgimento das tecnologias urbanas/rurais.