Porto do Rio Grande em 1908

Porto do Rio Grande em 1908

sábado, 7 de dezembro de 2019

RIO GRANDE E A VILA DE ARACATI II


Planta da Vila do Rio Grande em 1767. José Custódio de Sá e Faria. Arquivo Distrital de Évora. 
 A Vila de Aracati, seguiu a orientação de uma Carta Régia de 11 de abril de 1747, o que antecede em três meses a criação da Vila do Rio Grande de São Pedro. Conforme Rhoden,[1], o traçado urbano, deveria seguir a seguinte orientação:
“(...) que escolhido o dito sítio e conservando a ideia que aponta de estender uma face da Vila ao longo rio, demarque em primeiro lugar a área, que há de servir de praça com tal proporção, que não padeça o defeito de acanhada, ainda que a dita Vila tenha aumento, que se espera; que no meio da dita praça levantará pelourinho, e aos lado dela ficarão os edifícios públicos, como casa de Câmara, cadeia e mais oficinas, que forem necessárias ao serviço da mesma Vila, destinando logo espaços proporcionados a cada um dos ditos edifícios e oficinas: que feito o referido, tirando da área destinada a dita praça linhas retas e iguais, demarque as ruas, que couberem, na reflexão de que não hão de ter menos de vinte pés de largo, e que no espaço que mediar entre elas deve ficar chão bastante para os habitadores edificarem casas com seus quintais cômodos ao tráfico e uso do país, e que estas casas dos habitadores pelo exterior hão de serem todas iguais e do mesmo perfil, atendendo a formosura do aspecto público, posto que pelo interior as podem cada um fazer, respeitando somente a sua comodidade; de sorte porém, que em todo o tempo se conserve o mesmo aspecto público e a mesma largura das ruas (...)”.

A Carta também previu a localização da Igreja de São Pedro, que foi construída em 1755:
“(...) Que quando a igreja, que há naquele porto não possa servir a dita nova Vila, demarque tão bem lugar para ela, ou na praça ou no sítio que entender mais adequado, e cômodo aos moradores, com atenção porém, a que deve ser capaz de receber os fregueses, posto que a Vila cresça em povoação, e que quando a dita igreja fique na dita praça, no lugar que para ela for destinado, haver não só espaço para adro mas para alguma forma de praça ante a sua porta principal (...)”.

Uma hipótese para explicar a utilização do modelo de Aracati no traçado urbano da Vila do Rio Grande seria a natureza de vilas portuárias, com economias voltadas ao escoamento do gado e produtos derivados da pecuária. É perceptível também, segundo Rhoden, uma grande preocupação com a organização espacial das novas cidades portuguesas surgidas no Brasil, devido a atuação dos engenheiros militares, pois
“na medida em que avançava o século XVIII, as Cartas Régias que elevavam as povoações à categoria de Vilas traziam maior detalhamento quanto ao espaço urbana e à localização dos principais edifícios públicos e da igreja matriz. Era a influência dos conhecimentos e da atuação dos engenheiros militares portugueses, além da aplicação dos conceitos iluministas ao traçado urbano produzido por aqueles profissionais”.

A Vila do Rio Grande estava situada num terreno onde se fazia presente formações de dunas próximas ao centro urbano. A organização deu-se, em quadras dispostas ao longo de duas ruas paralelas à praia. As quadras eram formadas por moradias em fita, com quintais nos fundos. A igreja estava implantada de costas para a praia, ou seja, com sua frente voltada para o sul e para uma das ruas longitudinais da vila. A presença de autoridades militares contribuiu para a efetivação da Carta Régia, porém várias determinações como é o caso da praça com as ruas saindo dela e a presença de edifícios públicos ao seu redor não foram implementadas.
Constata-se, que o mais antigo planejamento urbano lusitano no Rio Grande do Sul foi implementado, a partir de 1747, na então Vila do Rio Grande de São Pedro.


[1] RHODEN, Luíz Fernando. Urbanismo no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucrs, 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário