Em meu livro “A Barra Diabólica: centenário
da inauguração dos Molhes da Barra e do Porto Novo do Rio Grande” (Pluscom
Editora), busquei demarcar alguns eventos da longa trajetória temporal que
levou a edificação dos Molhes da Barra do Rio Grande e do Porto Novo. A inauguração
destas obras completou 100 anos em 2015 e foram fundamentais para a segurança
da navegação e para o comércio de exportação e importação rio-grandense.
A construção dos Molhes da Barra e do Porto
Novo do Rio Grande parece fazer parte de um filme épico que teve início nos
primórdios da ocupação da atual cidade do Rio Grande, a partir de 1737, ainda
nos tempos do Brigadeiro José da Silva Paes. É uma história que interessa não
apenas as pessoas que vivem ou viveram neste município, mas aqui se encontra um
fundamental capítulo da história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Afinal, pelo
espaço portuário fluiu e fluem, além de capital e mercadorias, também etnias e
culturas. Modelar a Barra do Rio Grande a uma condição segura para a navegação
mundial, através de obras de engenharia, significou modelar a sua natureza às
necessidades de adentrar na Lagoa dos Patos ou sair ao Oceano Atlântico com a
“Barra Diabólica lapidada”.
A segurança da navegação foi um objetivo
almejado por gerações desde o século XVIII e só realizado na década de 1910.
Rio Grande é uma cidade voltada para o mar e para as águas da Lagoa dos Patos,
de onde proveu, ao longo dos séculos, o sustento de grande parte da população.
O complexo portuário ligado à exportação e importação; as indústrias que, desde
a década de 1870, se instalaram em seu entorno na dependência deste espaço para
a exportação de seus produtos; a indústria pesqueira e o atual Polo Naval; são
processos amplos que fazem de Rio Grande uma cidade com perfil histórico ligado
ao Ecossistema Costeiro/Marítimo. Pensar a cidade sem o seu complexo portuário
e as atividades econômicas voltada ao transporte marítimo/lagunar é ignorar
grande parte da identidade local.
Quando da chegada de Silva Paes, em fevereiro de 1737, com o objetivo de
iniciar a ocupação militar e promover o povoamento da futura cidade do Rio
Grande, navegar pela barra representava um momento crítico do filme épico da
fundação luso-brasileira no sul do Brasil. No historiador Simão Pereira de Sá,
contemporâneo de Silva Paes, o relato desta chegada apresenta contornos
dramáticos que persistiram, em outros autores, por quase dois séculos:
“Antecipados desta sorte os progressos do Rio Grande chegou o Brigadeiro José
da Silva Paes com 420 homens entre oficiais e soldados tirados das tropas
auxiliares do Rio de Janeiro, Minas, Bahia e Pernambuco (...) mas, receando o
Brigadeiro o naufrágio das embarcações no perigo da Barra, entrou a segurar o
ingresso com exame de piloto, cautelas de Capitão (...) Averiguada finalmente a
perigosa e desconhecida Barra que tem três diferentes entradas, uma ao sul e
outras ao norte e sudeste”. .
O
próprio Silva Paes, em carta de 12 de abril de 1737, desabafou, após cruzar com
sucesso pelo trajeto entre cômoros de areia, que havia tirado, num errôneo
otimismo, à Barra do Rio Grande de São Pedro “a máscara que até aqui metia
tanto medo”. A origem da denominação “Barra Diabólica” não é clara, mas começa
sua aparição com termos análogos usados por Silva Paes e pelo governador Gomes
Freire de Andrade, ainda na primeira metade do século XVIII.
O livro também busca promover reflexões focadas nos desafios presentes
ligado a questões econômicas e ambientais da presença do Porto e sua relação
com a cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário