História e Historiografia do RS

quinta-feira, 13 de julho de 2017

A BARRA DIABÓLICA

Em meu livro “A Barra Diabólica: centenário da inauguração dos Molhes da Barra e do Porto Novo do Rio Grande” (Pluscom Editora), busquei demarcar alguns eventos da longa trajetória temporal que levou a edificação dos Molhes da Barra do Rio Grande e do Porto Novo. A inauguração destas obras completou 100 anos em 2015 e foram fundamentais para a segurança da navegação e para o comércio de exportação e importação rio-grandense.
A construção dos Molhes da Barra e do Porto Novo do Rio Grande parece fazer parte de um filme épico que teve início nos primórdios da ocupação da atual cidade do Rio Grande, a partir de 1737, ainda nos tempos do Brigadeiro José da Silva Paes. É uma história que interessa não apenas as pessoas que vivem ou viveram neste município, mas aqui se encontra um fundamental capítulo da história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Afinal, pelo espaço portuário fluiu e fluem, além de capital e mercadorias, também etnias e culturas. Modelar a Barra do Rio Grande a uma condição segura para a navegação mundial, através de obras de engenharia, significou modelar a sua natureza às necessidades de adentrar na Lagoa dos Patos ou sair ao Oceano Atlântico com a “Barra Diabólica lapidada”.
A segurança da navegação foi um objetivo almejado por gerações desde o século XVIII e só realizado na década de 1910. Rio Grande é uma cidade voltada para o mar e para as águas da Lagoa dos Patos, de onde proveu, ao longo dos séculos, o sustento de grande parte da população. O complexo portuário ligado à exportação e importação; as indústrias que, desde a década de 1870, se instalaram em seu entorno na dependência deste espaço para a exportação de seus produtos; a indústria pesqueira e o atual Polo Naval; são processos amplos que fazem de Rio Grande uma cidade com perfil histórico ligado ao Ecossistema Costeiro/Marítimo. Pensar a cidade sem o seu complexo portuário e as atividades econômicas voltada ao transporte marítimo/lagunar é ignorar grande parte da identidade local.
Quando da chegada de Silva Paes, em fevereiro de 1737, com o objetivo de iniciar a ocupação militar e promover o povoamento da futura cidade do Rio Grande, navegar pela barra representava um momento crítico do filme épico da fundação luso-brasileira no sul do Brasil. No historiador Simão Pereira de Sá, contemporâneo de Silva Paes, o relato desta chegada apresenta contornos dramáticos que persistiram, em outros autores, por quase dois séculos: “Antecipados desta sorte os progressos do Rio Grande chegou o Brigadeiro José da Silva Paes com 420 homens entre oficiais e soldados tirados das tropas auxiliares do Rio de Janeiro, Minas, Bahia e Pernambuco (...) mas, receando o Brigadeiro o naufrágio das embarcações no perigo da Barra, entrou a segurar o ingresso com exame de piloto, cautelas de Capitão (...) Averiguada finalmente a perigosa e desconhecida Barra que tem três diferentes entradas, uma ao sul e outras ao norte e sudeste”. .
           O próprio Silva Paes, em carta de 12 de abril de 1737, desabafou, após cruzar com sucesso pelo trajeto entre cômoros de areia, que havia tirado, num errôneo otimismo, à Barra do Rio Grande de São Pedro “a máscara que até aqui metia tanto medo”. A origem da denominação “Barra Diabólica” não é clara, mas começa sua aparição com termos análogos usados por Silva Paes e pelo governador Gomes Freire de Andrade, ainda na primeira metade do século XVIII.

O livro também busca promover reflexões focadas nos desafios presentes ligado a questões econômicas e ambientais da presença do Porto e sua relação com a cidade.  

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