Porto do Rio Grande em 1908

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segunda-feira, 20 de julho de 2020

ILHA DOS MARINHEIROS EM 1892 - CARL LINDMAN

Carl Lindman. http://www2.nrm.se/fbo/hist/lindman/lindman.html.se

     O botânico sueco Carl Lindman visitou, a Ilha dos Marinheiros. Dos lugares em que esteve em Rio Grande, as dunas e o deslocamento da areia o deixaram muito impressionado. É o aspecto mais ressaltado em suas observações e que estão em coerente sintonia com os registros deixados pelos viajantes estrangeiros que aqui estiveram ao longo do século XIX.

     Lindman esteve na "Lagoa das Noivas" (ou Lagoa do Rei) e observou o cenário de cima das dunas, como pode ser feito no tempo presente. Ele fez uma comparação do que viu como uma "cratera" cercada de barrancos, como uma "arena de um gigantesco circo". E o que lhe veio a mente foi um quadro de "neves eternas". 

     Olhei o mesmo cenário dezenas de vezes, provavelmente, de um ponto de visão muito próximo ao de Lindman. Afinal, ele deve ter ido de barco até o Porto do Rei e caminhando em linha reta se faz a escalada da linha de dunas e se obtém esta visão privilegiada que considero das mais espetaculares de Rio Grande. 

      Porém, nunca imaginei uma "cratera", apesar de considerar desconcertante observar a paisagem. Aquele cenário, nos meus pensamentos, me passa uma vontade de cruzar a Lagoa das Noivas e continuar em frente, avançando pela areia como num deserto do Saara sem fim. E sem encontrar o final do percurso da infinitas dunas e nem chegar na Lagoa dos Patos e recordar que se estava numa Ilha. Bom lugar para filmar uma analogia da série Lost, e criar um lugar sem tempo e sem referenciais civilizatórios: apenas dunas, o movimento de areia fina tocada pelo vento e o som discreto de pássaros.

Vista parcial do que Lindman observou. Sugiro visitar a página do poeta José Roig. 

      A reflexão de "neves eternas" do sueco Lindman já valeu ter encontrado este registro de sua passagem em 1892.  

   Na Ilha dos Marinheiros: “cheguei ao fim das plantações quando o terreno de repente se elevava cerca de 10 metros de altura composto duma areia fina e amarelada. Esta elevação tinha uma largura considerável, porque o seu cimo formava um plano irregular de areia movediça com montículos e pequenas baixadas. Alcançado o outro barranco, fiquei surpreendido com a paisagem que avistei. Diante e por baixo de mim estendia-se uma planície de areia, semelhante a arena de gigantesco circo; ao redor dela erguia-se um barranco circular em continuação daquele em que eu estava e do outro lado formava uma cadeia de morros despidos, cujos cabeços amarelados contrastavam com o céu azul. Toda esta linha de areia movediça assemelha-se pois a uma grande cratera com fundo chato de quase um quilômetro de diâmetro; a beira da cratera com fundo chato, de quase um quilômetro de diâmetro é formada pelo alto barranco anular. A arena neste circo de areia movediça é deserta; pois não é destinada a representações de vida orgânica. A vegetação está ausente, e só as folhas amarelo-cinzentas de algumas touceiras de capim testemunham os vãos esforços de uma invasão. 

    Tudo isto forma um quadro cuja desolação só é comparável a uma paisagem de neves eternas. Durante os meses de inverno, o principal tempo das chuvas nestes lugares, aglomera-se aqui água bastante para imitar um lago de cratera. Os cimos mais altos deste barranco são também destituídos de vegetação, e a permanência ali é sumamente incômoda por causa do reflexo brilhante e a penetração da areia fina nos olhos, ouvidos, boca e nariz. Ao contrário, as baixadas e os declives do barranco são parcialmente cobertos de uma singular flora psamófila, mais exuberante no barranco de fora, onde também algumas moitas densas de arbustos avançam da mata em baixo... A distância a ilha parece como se fosse coberta de mata, pois divisa-se uma linha de grandes figueiras, pinheiros cultivados, coqueiros e outras árvores. Esta mata porém ocupa apenas uma faixa plana ao pé da praia, de algumas centenas de metros de largura”.

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