Porto do Rio Grande em 1908

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

A IMPRENSA LITERÁRIA E A ARCÁDIA I



         A imprensa literária no Rio Grande do Sul tem início com o periódico O Guaíba, lançado em Porto Alegre a 3 de agosto de 1856, o qual perdurou, com interrupções, até 26 de dezembro de 1858. Esta modalidade de publicação não se limita somente às atividades puramente literárias, abordando os mais diversos assuntos, como instrução e educação, belas-artes, história geral e particular, religião, imigração, biografia, linguística e filosofia.
         Com o desaparecimento de O Guaíba, um periódico voltado à divulgação literária apareceu em 1867 na cidade do Rio Grande: Arcádia, jornal ilustrado, literário, histórico e biográfico.
         Segundo Carlos Baumgarten (Literatura e crítica na imprensa do Rio Grande do Sul -1868/1880. Porto Alegre: EST, 1982), a disseminação de jornais literários e a atuação do Partenon Literário, que teve como precursores O Guaíba e Arcádia, foram responsáveis “pela maior uniformidade de pensamento no encarar o fato literário”. A atividade literária que se fazia no Rio Grande do Sul, “embora estivesse enquadrada dentro dos moldes estritamente românticos, determinou um novo posicionamento frente ao fato literário, qual seja, o do aproveitamento do elemento regional, aspecto que possui alta significação no desenvolvimento da literatura rio-grandense”.
         Os constantes conflitos de fronteira contra os espanhóis e missioneiros dotaram de um perfil militar a população rio-grandense ao longo dos séculos XVIII e XIX. Os objetivos ligados a assegurar o controle do território e resistir a invasões ou pilhagens demarcam uma sociedade que foge a um referencial de disseminação de uma cultura letrada e de atividades artístico-literárias. A presença de olhares europeus, no século XIX, confirmam as dificuldades em constituir uma sociedade voltada à reprodução de valores das aristocracias europeias. Assegurada a fronteira com os castelhanos, as discordâncias com o centralismo da monarquia brasileira conduziram ao confronto da Revolução Farroupilha (1835-45) com a desorganização econômica e urbana do Rio Grande do Sul. O término deste conflito já coloca os rio-grandenses em alerta pela série de movimentos no Prata que desencadeiam o contínuo estado de guerra entre Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, que se estende até 1870.
Somente no final da década de 1860 é que a Província passa a viver uma fase de tranquilidade, que seria abalada na década de 1890 com a guerra civil, delineando-se um quadro cultural ligado à manifestação literária. Nessa época, uma geração de intelectuais rio-grandenses divulga seus trabalhos em periódicos locais e organiza agremiações para o debate das orientações estéticas e literárias. O interesse pelas ideias românticas e nacionalistas desenvolvidas no centro do país, assim como a abertura de reflexões sobre a literatura regional e a nacionalidade literária, estão presentes em periódicos como a folha literária Arcádia.

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