Inicialmente,
o jornal circulava nas terças e sextas-feiras sendo vendido os números avulsos
a 80 réis. Junto ao título estava escrito ‘Jornal político, literário e
mercantil’, sendo caracterizado por acentuada postura política liberal de
defesa da Independência do Brasil e denúncia das atividades dos restauradores e
recolonizadores pró-Portugal. Neste sentido foi marcado pela polêmica e pela
tragédia, como o assassinato do padre BernardoViegas e a ameaça de morte a
outros liberais, em especial, a Francisco Xavier Ferreira, que acabaria morto
em prisão do Império devido a sua militância pró-farroupilha.
Para
Rio Grande, importante entreposto comercial e porto marítimo da Província do
Rio Grande, foi uma entrada marcante no campo do jornalismo. Posteriormente, dezenas
de outros jornais de circulação semanal ou diária, deixaram um legado de
informações de extrema importância para entender a história do Rio Grande do
Sul e suas vinculações com o Brasil e outros países. São exemplos os longevos Diário do Rio Grande e Echo do Sul, que atravessaram da metade
do século 19 até as duas primeiras décadas do século 20.
O jornalismo
no tempo de O Noticiador é partidário
e parcial, transitando entre o confronto entre liberais e conservadores,
valorizando a denúncia e a difusão de ideias a respeito da melhor forma de
organização do Estado Brasileiro em formação. O jornal nasce num dos períodos mais
tensos da história do Brasil e do Rio Grande do Sul que é o período Regencial e
a Revolução Farroupilha.
Na
apresentação do primeiro número está estampado o jornalismo opinativo engajado
com a sociedade e suas mudanças. Um engajamento que levou a morte de Padre
Viegas e Xavier Ferreira: “A ambição, sempre o principal motor da queda dos
Impérios, tem sido também entre nós a origem fatal de tão triste calamidade. Em
geral, em todas as grandes mudanças políticas, qualquer que seja a sua causa e
o seu resultado, não deixam jamais de excitar-se mais ou menos destas
tempestuosas agitações acerca dos negócios públicos; porque, em todas elas,
existe constantemente certo número de homens que, sem algum outro mérito mais
que uma ascendência momentânea, adquirida pelo brilho aparente de um zelo
quimérico, e pela ostentação de um falso patriotismo, se reputam com o direito
de tudo pretender, embora não possuam os recursos necessários para dirigirem as
molas da pública administração, nem mesmo aquelas virtudes cívicas que devem
fazer o ornato de todo o bom cidadão. (...) Tal tem sido em todos os tempos a
marcha do espírito humano, traçada na história das revoluções; tal tem sido
também o sistema de certos espíritos revoltosos e mal intencionados que, por
desgraça, ainda se conservam entre nós, para nos inquietar. Devorados pela
cobiça e pelo furor de dominar, e animados pela quase segura impunidade, que
lhes procura a brandura das nossas leis, ajudada ainda da culpável negligência
na sua execução eles tem procurado, por todos os meios ao seu alcance, retardar
e entorpecer o progresso da nossa regeneração, ora emitindo execráveis
doutrinas, capazes de abalar os fundamentos do nosso edifício social, ora
avivando antigas rivalidades que para o bem comum deveriam estar já esquecidas,
ora finalmente empregando movimentos sediciosos com que, apesar dos constantes
esforços dos amigos da ordem, e felicidade pública, tem conseguido banir a
confiança e a tranquilidade do seio dos bons.”
O Noticiador enfatizava que “o amor da liberdade, que nos
leva a detestar toda a espécie de tirania; o desejo de ver o nosso país livre
de todas as dissensões e rivalidades, que retardarão o andamento de sua
prosperidade; a obrigação em fim, que todos temos, de contribuir segundo as
nossas forças para o melhoramento e ventura da sociedade a que pertencemos,
vencerão a repugnância que, em conseqüência do nosso mesquinho cabedal
literário, tínhamos de tomar sobre nossos ombros a penosa tarefa de escritor
público. (...) Convencidos de que a civilização deve andar a par das livres
instituições, e que delas só pode ser seguro esteio a boa moral, todas as vezes
que tivermos de atacar abusos, vícios, erros, ou prejuízos, fugiremos o mais
possível do sistema odioso de personalizar”. Na época o jornalista se intitulava
escritor público termo em plena sintonia com a exposição e crítica
recebida e às vezes até pagando com a perda da vida pela expressão das ideias.
Entre o informativo e o noticioso, entre o
formal e o caricato, a imprensa da cidade do Rio Grande ruma para os 190 anos
de vida acompanhando a história local e formando opiniões de leitores. Através
dos tipos gráficos do século 19 ou da digitalização das últimas décadas, os
escritores públicos tem alimentado gerações com informações multifacetadas da
atuação dos homens em sociedade.
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